sábado, 14 de abril de 2007

Memória e esquecimento

Esta semana uma colega do trabalho disse-me uma coisa que supostamente eu terei dito quando mudei para ali. Para mim é uma dificuldade, pois quase nem me lembro qual foi o meu jantar ontem.

Esqueço-me facilmente de muita coisa. Não interessa, vai fora. Eu seria a pior pessoa do mundo para levar a tribunal como testemunha. Posso eventualmente recordar-me do enquadramento, mas não dos pormenores, das conversas, do conteúdo das palavras.

Eu devia andar permanentemente com um Moleskine no bolso, para tomar notas. Para memória futura. Como os políticos fazem para, no futuro, escreverem memórias ou afins.
Há alguns anos, eu andava com um bloquinho no bolso, e de vez em quando lá escrevia umas coisas. Mas abandonei esse hábito. Agora há os telemóveis. Que melhor espaço do que a pasta de mensagens para fixar um pensamento? Uma lembrança?
Por vezes, um registo permite-nos chegar a um momento, a uma memória, a uma certeza. foi o que me aconteceu graças a este post de Janeiro passado. Umas semanas depois deste episódio voltei a receber um envelope com coisas da entidade à qual tinha devolvido outras pelo correio, dizendo para apagarem o meu nome da base de dados. Como voltei a receber correspondência, tive de ir à procura da data em que tinha reclamado, e consegui-o através deste post. E voltei a reclamar, claro. Via mail.

Hoje, na revista do Expresso, Miguel Esteves Cardoso, a propósito das tecnologias VHS versus DVD, diz que “deveríamos fotografar já os aparelhos que temos em casa” para nos lembrarmos da panóplia de aparelhos e fios que temos em casa para coisas que se têm vindo a unificar e simplificar em apenas alguns gadgets.

Se calhar, este esquecimento permanente é já uma forma de simplificação. Lembrando o livro “Quando Nietzsche Chorou”, que acabei de ler há poucos dias, é uma técnica de “limpeza da chaminé”. E assim ter mais espaço lá dentro para tudo o que realmente interessa. Precisamente tudo aquilo que não é racional. Afinal, como diz uma amiga minha, "a mente é como um pára-quedas... funciona melhor quando aberta!"

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