domingo, 30 de novembro de 2008

Chuvas

Com este tempo de chuva e frio só me ocorre uma das últimas frases de um filme, cujo nome não me lembro:

- Não pode estar a chover sempre.

Parafraseando - 26

"O luxo não é o contrário da pobreza, mas sim da vulgaridade"

Coco Chanel

sábado, 29 de novembro de 2008

007 - Quantum of Solace

Este 007 é a continuação do anterior "Casino Royale". É o episódio da vingança de Bond contra aqueles que mataram a menina Vesper no filme anterior. E, ao mesmo tempo, é um filme que põe em evidência uma faceta humana - diria sentimental - do agente 007. Negando-o sempre, o seu único propósito é a vingança pela morte de Vesper.
Violento, como parece tornar-se timbre do 007 encarnado por Daniel Craig.

Nunca fui um seguidor atento da saga 007; só vi uns dois da versão Pierce Brosnan e os dois protagonizados por Daniel Craig.
Quando mudou o actor, fui ver com curiosidade de saber se o novo Bond estaria à altura. E para mim estava. Muito mais duro, Craig encheu a personagem.
E todos os Bond têm uma coisa que gosto de ver: o seu enorme ego e auto-confiança, as suas piadas secas e bem encaixadas. E a pinta, descaramento e uma certa filho-da-putice nas medidas certas.

PCP: o futuro é aqui

Esta manhã ouvi alguns minutos da intervenção de Jerónimo de Sousa no XVII Congresso do PCP. Por sorte, ouvi uma parte que me arrepiou: o elogio às democracias exemplares da Coreia do Norte, de Cuba e outros que tais.
Citando-o: "
O exemplo revolucionário de Cuba socialista tem constituído importante estímulo para as transformações progressistas na Venezuela bolivariana, no Equador, na Bolívia e outros países."
Disse... "progressistas"? Hummm....

Num discurso marcadamente marxista, bradou (Jerónimo de Sousa estava quase a gritar) contra o capitalismo:
"O socialismo, objectivo programático do PCP, tendo no horizonte o comunismo, não só traduz a superioridade dos valores de liberdade e justiça social que animam os comunistas na sua luta contra o capital, como constitui, na actualidade, uma possibilidade real cada vez mais necessária e urgente."
Em concreto, quais os países em que se aplica essa "superioridade dos valores de liberdade e justiça social" em versão comunista? Deixa cá ver...

(intervenção completa de Jerónimo de Sousa aqui).

Depois de me passar o arrepio do discurso do secretário-geral comunista, pergunto: porque não vão os milhares que estão no Campo Pequeno viver para Cuba, Coreia do Norte, Venezuela, e afins?

Depois de referir tantas vezes as qualidades das "forças progressistas e revolucionárias", só lhes resta ser consequentes e irem viver para essas democracias avançadas.

Invernos

A manhã acorda fria, gelada.
A chuva deixou as nuvens para vir aconchegar-se na cidade.
Algures, a neve também assenta arraiais.
Parece que o Inverno chegou.

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Grau zero

Nesta semana política vieram a público dois factos que merecem alguma atenção:
- o Bloco de Esquerda retirou a sua estrela a José Sá Fernandes;
- a Lusa, educadamente, recomendou que não fosse utilizado o termo “estagnação”.

O BE e o Zé
Enquanto deu jeito a ambos, foram amigos. Agora que o contestatário Zé se converteu num responsável político, o BE (que graças a ele chegou à Câmara de Lisboa) dispensa o reaccionário. Cada um é amigo de quem quer.
Neste romance, só uma coisa me intriga: o que diria o Zé contestatário da acção do vereador Sá Fernandes? Enquanto esteve na oposição externa, o Zé era contra tudo e parava todas as obras que via. Agora que é responsável político, promove tudo o que é disparate, sem qualquer drama em fechar muitos espaços para actividades publicitárias privadas; defende o novo cais de Alcântara, ao qual o Zé se oporia…
O Zé… que o viu e quem o vê…


Dicionário LUSA
Corre por aí que, certamente graças ao aconselhamento governamental, na agência noticiosa nacional LUSA não se pode escrever a palavra “estagnação” quando se refere à economia nacional.
Este episódio diz tudo sobre a manipulação, a propaganda, a liberdade de expressão, a verdade, a democracia em versão rosa.
Desinformação é poder. Tudo em nome da objectividade, claro.
Nada mais a declarar.
Espero apenas que em 2009 surja algures uma luz para travar este Governo.

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Parafraseando - 25

"Cada um tem de mim exactamente o que cativou..."

Charles Chaplin

Criatividade musical

Uma das coisas que me dá imenso gozo é ouvir canções e depois truncar-lhes as letras. Sejam portuguesas, sejam estrangeiras (para estas o esforço é menor: traduzam normalmente uma canção de inglês para português e vejam lá se alguém a ouvia em português... Ninguém, não é? Ora, então experimentem traduzir e truncar...).

Ouvindo durante todo o dia a Rádio Comercial, a coisa proporciona-se... E muitas canções ficam com interpretações alternativas...
Nos intérpretes em português, André Sardet tem um lugar destacado. Seguido muito de perto pelo Paulo Gonzo e pela Mafalda Veiga.
Quanto a músicas em inglês, usando a técnica que descrevi, qualquer coisa serve. Mas o nosso David Fonseca tem umas letras jeitosas...

Mas há mais para além de músicas...
Agora está "na berra" um anúncio do Santander Totta. Depois de perceber que é de um banco, a mensagem é interessante, insinuando que os outros bancos são frágeis.
Depois, quando ouvido assim de repente, dá uma injecção de energia positiva.
Esta foi a parte teórica. Mas atentem na música.
A música reza assim:
"Solid!
Solid as a rock"
E que tal traduzir isto?
Fica um tudo-nada pornográfico, né?

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Freddie Mercury - um génio

Em 24 de Novembro de 1991 morria um dos maiores artistas de sempre: Freddie Mercury. Passadas apenas 24h desde que anunciara ao mundo que tinha sida.
Extravagante, enérgico, provocador, genial, Freddie foi voz e imagem dos Queen e é um marco na história da música (apesar do seu precoce desaparecimento, com apenas 45 anos).


Ficam duas das suas inúmeras e notáveis interpretações:

It's a Hard Life


E talvez a sua mais genial composição: Bohemian Rhapsody (aqui ao vivo no mítico concerto de Wembley, em 1986):

domingo, 23 de novembro de 2008

Um dia... - 3


Ou outra coisa num sítio mais quentinho...

A arte da propaganda rosa

Ontem o Governo voltou a anunciar veículos eléctricos.
Há algumas semanas, tinham anunciado uns pontos de abastecimento para estes veículos (junto ao CCB, na Praça de Londres...).. que estiveram activos apenas no dia da inauguração...
Se a ideia dos veículos eléctricos tem alguns aspectos positivos (e apesar de esquecerem que a electricidade também é feita a partir de combustível...), a forma como o tecno-governo de Sócrates se cola a tudo o que mexe para aparecer é... cansativa. Desde que haja um flash, está lá alguém do governo.

O PÚBLICO de hoje traz em destaque a arte do governo e de Sócrates para o marketing político, e a forma como revolucionou o PS a esse nível. Este destaque abrange também a cerimónias em que este governo é especialista, e como são pagas.

Cantinho do poeta - 46

Rainer Maria Rilke, conhecido por ter escrito "Cartas a Um Jovem Poeta", traz de regresso a poesia a este cantinho:

Canção de Amor

Como hei-de segurar a minha alma para ela não tocar na tua?
Como hei-de levá-la por cima de ti para outras paragens?
Gostaria de arrumá-la em algum lugar perdido no escuro,
Num sítio estranho e tranquilo que não transmite
As vibrações que produzes nas tuas profundezas.
Mas tudo o que nos toca, a ti e a mim, junta-nos
Como a arcada do violino que faz uma voz de duas cordas.
Em que instrumento estamos esticados?
E quem é o violinista que nos tem na mão?

sábado, 22 de novembro de 2008

Hillary Clinton is in

Quando apresentou a sua corrida à nomeação democrata à Casa Branca, Hillary Clinton disse "I'm in". Agora, terminada a corrida e escolhido o novo presidente, volta a dizer o mesmo e assumirá o cargo de Secretária de Estado norte-americana, sendo assim o novo rosto da diplomacia na administração Obama.
Tendo em conta as circunstâncias, agrada-me a escolha.

Curioso notar os nomes que têm vindo a público sobre a nova administração, próximos da administração Clinton. Provavelmente não será a mudança que muitos esperavam, mas será uma "mudança inclusiva" - bem de acordo com a campanha que Obama desenvolveu. E, pelo que se ouve, as possibilidades de haver republicanos no novo governo são elevadas. Obama ultrapassa desta forma os paradigmas dominantes da política e inaugura uma nova forma de fazer política. Já o tinha feito na campanha (com a utilização da internet). Já disse que o faria como presidente (os vídeos semanais no youtube).

Claro que em política convém fazer mais algumas leituras e enquadrá-las em algum cinismo, por isso estes apontamentos sobre a escolha de Hillary Clinton:
- esta escolha é consequência do poder e influência da família Clinton, que se impôs? (apesar do aparente prejuízo financeiro para Bill Clinton, que não poderá cobrar pelas suas conferências pelo mundo fora. Será um Clinton pro buono).
- ou terá sido uma forma de Obama juntar a família democrata, incluindo no governo a sua oponente nas primárias?
- ou será ainda que o novo presidente, incluindo Hillary Clinton na sua administração e num cargo destacadíssimo, quer assim condicionar a acção dos Clinton?

Vai ser muito interessante seguir a política americana nos próximos tempos...

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Rainha Cláudia

Em chegando ao fim-de-semana, muitos blogues vestem-se de beldades para receber os dias de descanso...
Embora neste cantinho não haja esse hábito, nos últimos dias as ruas de Lisboa têm dado um belo pretexto: a Cláudia Vieira e o novo anúncio da Triumph, subordinado ao tema "rainha".

Vai daí...

...eu quero uma Rainha Triumph versão Cláudia Vieira só para mim.

(esta foto não faz parte da campanha que está nas ruas)

Estado de sítio

Este fim-de-semana, se alguém sentir algum sismo ou presenciar alguma catástrofe, relaxe e não entre em pânico.
Trata-se apenas de um simulacro.

Perguntas existenciais

Qual a diferença entre "frutos tropicais" e "frutos exóticos"?

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Viagens com palavras - 2


"Nunca siga o caminho mais percorrido. Escolha sempre o destino menos transitado, e deixe o seu rasto."


Ralph Waldo Emerson

Manuela Ferreira Leite ou a falta de jeito

Manuela Ferreira Leite, numa intervenção sobre justiça, disse...
"Quando não se está em democracia é outra conversa, eu digo como é que é e faz-se", observou em seguida a presidente do PSD, acrescentando: "E até não sei se a certa altura não seria bom haver seis meses sem democracia, mete-se tudo na ordem e depois então venha a democracia". (PÚBLICO).

Entretanto, o circo à volta desta declaração está montado.
Basta ver na televisão a intervenção de MFL para se perceber o que ela quis dizer. Certamente que não foi uma forma muito cuidada de o dizer. E a diferença desta frase, lida num jornal ou ouvida na televisão, é enorme. No papel, o sentido não fica claro.
Não terá sido ironia, como o PSD veio agora dizer. Mas também não tem a gravidade que o PS-Governo lhe quer dar. MFL quis evidenciar a dificuldade que existe em promover reformas. Tão simples quanto isso.
MFL é dura ao dizer as coisas, basta ver a forma como ataca Sócrates. Mas não tem jeito para a política, não sabe seduzir. E isso é fundamental em política.

Sobre isto, subscrevo o João Villalobos do Corta-fitas ipsis verbis (e só li o que escreveu depois de ter publicado). Não façam de nós parvos.

Assim de repente, lembro-me de uma frase que escrevi no meu relatório de estágio sobre modernização administrativa, nos idos de Outubro de 2000: um dos constrangimentos da modernização administrativa é que não é possível fechar todos os serviços públicos, como se se tratasse de uma loja, modernizar tudo, e reabrir passado algum tempo.

O sentido da afirmação de MFL é rigorosamente o mesmo. Mas há quem goste de carnaval.

Mickey: 80 anos


Há 80 anos nasceu uma das mais conhecidas personagens de banda desenhada a nível mundial: o rato Mickey (ver história aqui).
Desde então criou-se um império que alimentou a imaginação e fantasia de muitas gerações, com muitos outros bonecos e inúmeras histórias...

Seja feliz, desligue a TV


Um estudo norte-americano diz que "as pessoas infelizes consomem mais 20% de televisão do que as felizes, que são mais activas socialmente."

Por isso, seja feliz. Não veja televisão.

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

De mochila às costas rumo a Tomar

A noite ainda cobria o dia quando partimos. Subtraídos ao calor da cama, enfrentámos a manhã fria e rumámos a Tomar, cidade templária.

A janela do comboio enquadrava a paisagem que ainda era oculta pela neblina matinal. A espaços, um raio de Sol teimava em furar a bruma e tocar na matinal paisagem ribatejana. Apesar da hora, a conversa fluía à velocidade do comboio e punha de lado o sono em falta.

Chegados a Tomar, por onde seguir? O GPS era rudimentar. Então seguimos em frente, atravessando a Várzea Grande, um gigantesco parque de estacionamento. Na Av. Dr. Cândido Madureira, na dúvida, virámos à esquerda e chegámos à Praça Infante D. Henrique, e à entrada da Mata Nacional dos Sete Montes – que horas mais tarde nos iria proporcionar uma aventura caricata.

Seguimos então pela Rua Pé da Costa de Baixo, que nos levou à espaçosa Praça da República, limitada pelos Paços do Concelho e pela imponente Igreja de S. João Baptista. Era hora de retemperar energias e pensar no próximo percurso. A manhã dava ainda os seus primeiros passos.

Atravessámos a Rua Serpa Pinto, olhámos o Rio Nabão à nossa frente. Detivemo-nos: a paisagem convidava a olhar devagar.

Com a Ponte Velha mesmo ali, ultrapassámos o rio. Patos e cisnes acordavam nas águas do Nabão. Na outra margem, nada de relevante. Contornámos o rio, maravilhámo-nos com os patos, e fomos descansar ao Parque do Mouchão. A manhã serena, o parque pintalgado de Outono… Inesperadamente, aproximam-se em voo picado alguns patos que, não temendo as águas gélidas do Nabão ou a nossa presença, brindam-nos, junto com alguns pássaros que por ali se encontram, com sons e imagens de puro deleite”.

Após o almoço é hora de um esforço suplementar, e subimos a escadaria que nos há-de levar à Capela de Nossa Senhora da Piedade. “Chegados ao topo, acender uma vela (iluminar é mesmo o termo) e deixar uma prece…”. Lá do alto, Tomar espreita no meio da vegetação, e à direita impõe-se outro destino desta viagem: o Convento de Cristo.

Essa tarde ainda nos abriria o livro da História, ao visitarmos a Sinagoga, único templo proto-renascentista hebraico, o único medieval do país. Embora decadente, o peso histórico sente-se na quantidade de objectos que alberga. E aprendemos um truque dos sons utilizado naquela sinagoga: a cada canto, metido na parede, um pote com a abertura para a sinagoga (para quem olha simplesmente, trata-se de um buraco na parede), e que permite a amplificação da voz de quem fala. Uma ideia simples e genial para quando não havia as tecnologias de som de que hoje dispomos.

Ao fim do dia, mergulhámos na Mata dos Sete Montes, vestida com as cores de Outono, fresca, natural, serena. Sem rumo definido, seguimos por trilhos que serpenteiam o Castelo dos Templários. Imponente ao nosso lado, mas sem forma de lá acedermos. O rudimentar GPS permite episódios assim… Então, “distraídos, avançamos por veredas escolhidas ao acaso que nos conduziram até à “Aldeia dos Duendes”. Aqui, olhámos em volta e observámos atentamente a floresta que nos rodeava na vã esperança de conseguirmos encontrar um pequeno habitante daquele pequeno reino.” Apesar do nosso poético e criativo esforço, os duendes teimaram em não se mostrar. Estariam nas suas pequenas habitações, ou teriam também ido passear? Não sabemos…


A noite começava a descer na mata, era hora de voltar à cidade. Mas… eis que o portão da mata está fechado à nossa frente! E agora? Como escapar? Terão sido os duendes a nos trancar lá dentro? Teríamos de passar a noite gélida ali, como prisioneiros involuntários? Um muro da mata que dá para a Estrada de Paialvo, não muito alto, permitiu a fuga, ao jeito de inexperientes larápios que não previram todas as contingências da viagem. Lição: convêm olhar sempre os horários do recinto que se visita…

O dia seguinte foi o dia do Convento de Cristo.

Ainda nos tentámos infiltrar numa visita guiada, mas a demora demoveu-nos. Fomos por nossa conta e risco descobrir os recantos deste monumento maior dos templários. Gigantesco, imponente. A História embebida em cada parede. Os vários claustros, a charola templária, a janela do capítulo – expoente máximo da arte manuelina – as escadas, o gigantesco refeitório, as pequenas celas… Um monumento!

Antes de deixar Tomar, tempo para aproveitar mais alguns minutos no Parque do Mouchão. Aquelas cores outonais, banhadas pelo Nabão…

No caminho para a estação, as castanhas anunciavam a chegada próxima do S. Martinho. Não resisti e, quentes e boas, tive de saboreá-las.

No regresso, deixámo-nos dominar pelo cansaço e pelo sono. O comboio já sabia o caminho e o destino, encostado à mesma paisagem ribatejana que nos tinha acompanhado até Tomar.

Em dois dias, subimos, descemos, espreitámos, procurámos, fotografámos, olhámos, surpreendemo-nos, cansámo-nos… numa palavra, empolgámo-nos!

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Saltar muros


Uma aldeia perdida na floresta.
Duendes ocultos.
Misteriosos.
Secretos.
Silenciosos.
Com direito a versos improvisados.
A noite a cair.
E o castigo: os gigantes presos atrás das portas.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Uma vergonha!

Na Madeira, mais uma cena degradante na Assembleia Legislativa Regional (ALR).
O deputado do PND leva uma bandeira com uma cruz suástica para o hemiciclo. Uma vergonha.
Hoje o PSD impôs a sua maioria e suspendeu o deputado de entrar na ALR. Outra vergonha.

Que raio de democracia é esta?
Que exemplo é este?
Que políticos são estes?

Nós podemos!


E a versão de Os Contemporâneos:


quarta-feira, 5 de novembro de 2008

"YES, WE CAN"

O discurso de Barack Obama em Chicago:

"Boa noite, Chicago. Se ainda houver alguém que duvida que a América é o lugar onde todas as coisas são possíveis, que questiona se o sonho dos nossos fundadores ainda está vivo, que ainda duvida do poder da nossa democracia, teve esta noite a sua resposta.

É a resposta dada pelas filas de voto que se estendiam em torno de escolas e igrejas em números que esta nação jamais vira, por pessoas que esperaram três e quatro horas, muitas pela primeira vez na sua vida, porque acreditavam que desta vez tinha de ser diferente, que as suas vozes poderiam fazer essa diferença.

É a resposta dada por jovens e velhos, ricos e pobres, democratas e republicanos, negros, brancos, hispânicos, asiáticos, nativos americanos, homossexuais, heterossexuais, pessoas com deficiências e pessoas saudáveis. Americanos que enviaram uma mensagem ao mundo, a de que nunca fomos apenas um conjunto de indivíduos ou um conjunto de Estados vermelhos e azuis.

Somos e sempre seremos os Estados Unidos da América.

É a resposta que levou aqueles, a quem foi dito durante tanto tempo e por tantos para serem cínicos, temerosos e hesitantes quanto àquilo que podemos alcançar, a porem as suas mãos no arco da História e a dobrá-lo uma vez mais em direcção à esperança num novo dia.

Há muito que isto se anunciava mas esta noite, devido àquilo que fizemos neste dia, nesta eleição, neste momento definidor, a mudança chegou à América.

Há pouco recebi um telefonema extraordinariamente amável do Senador McCain.

O Senador McCain lutou longa e arduamente nesta campanha. E lutou ainda mais longa e arduamente pelo país que ama. Fez sacrifícios pela América que muitos de nós não conseguimos sequer imaginar. Estamos hoje melhor devido aos serviços prestados por este líder corajoso e altruísta.

Felicito-o e felicito a governadora Palin por tudo aquilo que alcançaram. Espero vir a trabalhar com eles para renovar a promessa desta nação nos próximos meses.

Quero agradecer ao meu parceiro neste percurso, um homem que fez campanha com o seu coração e falou pelos homens e mulheres que cresceram com ele nas ruas de Scranton e viajaram com ele no comboio para Delaware, o vice-presidente eleito dos Estados Unidos, Joe Biden.

E eu não estaria aqui hoje sem o inabalável apoio da minha melhor amiga dos últimos 16 anos, a pedra angular da nossa família, o amor da minha vida, a próxima Primeira Dama do país, Michelle Obama.

Sasha e Malia, amo-vos mais do que poderão imaginar. E merecem o novo cachorro que virá connosco para a nova Casa Branca.

E embora ela já não esteja entre nós, sei que a minha avó está a observar-me, juntamente com a família que fez de mim aquilo que sou. Tenho saudades deles esta noite. Reconheço que a minha dívida para com eles não tem limites.

Para a minha irmã Maya, a minha irmã Alma, todos os meus outros irmãos e irmãs, desejo agradecer-vos todo o apoio que me deram. Estou-vos muito grato.

E ao meu director de campanha, David Plouffe, o discreto herói desta campanha, que, na minha opinião, concebeu a melhor campanha política da história dos Estados Unidos da América.

E ao meu director de estratégia, David Axelrod, que me tem acompanhado em todas as fases do meu percurso.

Para a melhor equipa alguma vez reunida na história da política: tornaram isto possível e estou-vos eternamente grato por aquilo que sacrificaram para o conseguir.



Mas acima de tudo nunca esquecerei a quem pertence verdadeiramente esta vitória. Ela pertence-vos a vós. Pertence-vos a vós.

Nunca fui o candidato mais provável para este cargo. Não começámos com muito dinheiro nem muitos apoios. A nossa campanha não foi delineada nos salões de Washington. Começou nos pátios de Des Moines, em salas de estar de Concord e nos alpendres de Charleston. Foi construída por homens e mulheres trabalhadores que, das suas magras economias, retiraram 5 e 10 e 20 dólares para a causa.

Foi sendo fortalecida pelos jovens que rejeitavam o mito da apatia da sua geração e deixaram as suas casas e famílias em troca de empregos que ofereciam pouco dinheiro e ainda menos sono.

Foi sendo fortalecida por pessoas menos jovens, que enfrentaram um frio terrível e um calor sufocante para irem bater às portas de perfeitos estranhos, e pelos milhões de americanos que se ofereceram como voluntários, se organizaram e provaram que mais de dois séculos depois, um governo do povo, pelo povo e para o povo não desaparecera da Terra.

Esta vitória é vossa.

E sei que não fizeram isto apenas para vencer uma eleição. E sei que não o fizeram por mim.

Fizeram-no porque compreendem a enormidade da tarefa que nos espera. Porque enquanto estamos aqui a comemorar, sabemos que os desafios que o amanhã trará são os maiores da nossa vida – duas guerras, uma planeta ameaçado, a pior crise financeira desde há um século.

Enquanto estamos aqui esta noite, sabemos que há americanos corajosos a acordarem nos desertos do Iraque e nas montanhas do Afeganistão para arriscarem as suas vidas por nós.

Há mães e pais que se mantêm acordados depois de os seus filhos adormecerem a interrogarem-se sobre como irão amortizar a hipoteca, pagar as contas do médico ou poupar o suficiente para pagar os estudos universitários dos filhos.

Há novas energias para aproveitar, novos empregos para serem criados, novas escolas para construir, ameaças para enfrentar e alianças para reparar.

O caminho à nossa frente vai ser longo. A subida vai ser íngreme. Podemos não chegar lá num ano ou mesmo numa legislatura. Mas América, nunca estive tão esperançoso como nesta noite em como chegaremos lá.

Prometo-vos. Nós, enquanto povo, chegaremos lá.

Haverá reveses e falsas partidas. Há muitos que não concordarão com todas as decisões ou políticas que eu tomar como presidente. E sabemos que o governo não consegue solucionar todos os problemas.

Mas serei sempre honesto para convosco sobre os desafios que enfrentarmos. Ouvir-vos-ei, especialmente quando discordarmos. E, acima de tudo, pedir-vos-ei que adiram à tarefa de refazer esta nação da única forma como tem sido feita na América desde há 221 anos – pedaço a pedaço, tijolo a tijolo, e com mãos calejadas.

Aquilo que começou há 21 meses no rigor do Inverno não pode acabar nesta noite de Outono.

Somente a vitória não constitui a mudança que pretendemos. É apenas a nossa oportunidade de efectuar essa mudança. E isso não poderá acontecer se voltarmos à forma como as coisas estavam.

Não poderá acontecer sem vós, sem um novo espírito de empenho, um novo espírito de sacrifício.

Convoquemos então um novo espírito de patriotismo, de responsabilidade, em que cada um de nós resolve deitar as mãos à obra e trabalhar mais esforçadamente, cuidando não só de nós mas de todos.

Recordemos que, se esta crise financeira nos ensinou alguma coisa, é que não podemos ter uma Wall Street florescente quando as Main Street sofrem.

Neste país, erguemo-nos ou caímos como uma nação, como um povo. Resistamos à tentação de retomar o partidarismo, a mesquinhez e a imaturidade que há tanto tempo envenenam a nossa política.

Recordemos que foi um homem deste Estado que, pela primeira vez, transportou o estandarte do Partido Republicano até à Casa Branca, um partido fundado em valores de independência, liberdade individual e unidade nacional.

São valores que todos nós partilhamos. E embora o Partido Democrata tenha alcançado uma grande vitória esta noite, fazemo-lo com humildade e determinação para sarar as divergências que têm atrasado o nosso progresso.

Como Lincoln disse a uma nação muito mais dividida do que a nossa, nós não somos inimigos mas amigos. Embora as relações possam estar tensas, não devem quebrar os nossos laços afectivos.

E àqueles americanos cujo apoio ainda terei de merecer, posso não ter conquistado o vosso voto esta noite, mas ouço as vossas vozes. Preciso da vossa ajuda. E serei igualmente o vosso Presidente.

E a todos os que nos observam esta noite para lá das nossas costas, em parlamentos e palácios, àqueles que estão reunidos em torno de rádios em cantos esquecidos do mundo, as nossas histórias são únicas mas o nosso destino é comum, e uma nova era de liderança americana está prestes a começar.

Aos que querem destruir o mundo: derrotar-vos-emos. Aos que procuram a paz e a segurança: apoiar-vos-emos. E a todos aqueles que se interrogavam sobre se o farol da América ainda brilha com a mesma intensidade: esta noite provámos novamente que a verdadeira força da nossa nação não provém do poder das nossas armas ou da escala da nossa riqueza, mas da força duradoura dos nossos ideais: democracia, liberdade, oportunidade e uma esperança inabalável.

É este o verdadeiro génio da América: que a América pode mudar. A nossa união pode ser aperfeiçoada. O que já alcançámos dá-nos esperança para aquilo que podemos e devemos alcançar amanhã.

Esta eleição contou com muitas estreias e histórias de que se irá falar durante várias gerações. Mas aquela em que estou a pensar esta noite é sobre uma mulher que depositou o seu voto em Atlanta. Ela é muito parecida com os milhões de pessoas que aguardaram a sua vez para fazer ouvir a sua voz nestas eleições à excepção de uma coisa: Ann Nixon Cooper tem 106 anos.

Ela nasceu apenas uma geração depois da escravatura, numa época em que não havia automóveis nas estradas nem aviões no céu; em que uma pessoa como ela não podia votar por duas razões – porque era mulher e por causa da cor da sua pele.

E esta noite penso em tudo o que ela viu ao longo do seu século de vida na América – a angústia e a esperança; a luta e o progresso; as alturas em que nos foi dito que não podíamos e as pessoas que não desistiram do credo americano: Sim, podemos.

Numa época em que as vozes das mulheres eram silenciadas e as suas esperanças destruídas, ela viveu o suficiente para se erguer, falar e votar. Sim, podemos.

Quando havia desespero e depressão em todo o país, ela viu uma nação vencer o seu próprio medo com um New Deal, novos empregos, e um novo sentimento de um objectivo em comum. Sim, podemos.

Quando as bombas caíam no nosso porto e a tirania ameaçava o mundo, ela esteve ali para testemunhar uma geração que alcançou a grandeza e salvou uma democracia. Sim, podemos.

Ela viu os autocarros em Montgomery, as mangueiras em Birmingham, uma ponte em Selma, e um pregador de Atlanta que dizia às pessoas que elas conseguiriam triunfar. Sim, podemos.

Um homem pisou a Lua, um muro caiu em Berlim, um mundo ficou ligado pela nossa ciência e imaginação.

E este ano, nestas eleições, ela tocou com o seu dedo num ecrã e votou, porque ao fim de 106 anos na América, tendo atravessado as horas mais felizes e as horas mais sombrias, ela sabe como a América pode mudar.

Sim, podemos.

América, percorremos um longo caminho. Vimos tanto. Mas ainda há muito mais para fazer. Por isso, esta noite, perguntemos a nós próprios – se os nossos filhos viverem até ao próximo século, se as minhas filhas tiverem a sorte de viver tantos anos como Ann Nixon Cooper, que mudança é que verão? Que progressos teremos nós feito?

Esta é a nossa oportunidade de responder a essa chamada. Este é o nosso momento.

Este é o nosso tempo para pôr o nosso povo de novo a trabalhar e abrir portas de oportunidade para as nossas crianças; para restaurar a prosperidade e promover a causa da paz; para recuperar o sonho americano e reafirmar aquela verdade fundamental de que somos um só feito de muitos e que, enquanto respirarmos, temos esperança. E quando nos confrontarmos com cinismo e dúvidas e com aqueles que nos dizem que não podemos, responderemos com o credo intemporal que condensa o espírito de um povo: Sim, podemos.

Muito obrigado. Deus vos abençoe. E Deus abençoe os Estados Unidos da América"

(fonte: PÚBLICO)

segunda-feira, 3 de novembro de 2008



Look forward...


Keep walking...

Step by step...

A mudança na América

Se nem as sondagens, nem o complexo sistema eleitoral americano, se enganarem, amanhã Barack Obama será eleito presidente dos EUA, sendo o primeiro afro-americano a liderar a Casa Branca. A expectativa é enorme, tanto por lá, como no resto do mundo.

Não deixando de ser – caso se confirme – uma mudança de enorme simbolismo, convém que ninguém esqueça que Obama não é um enviado de Deus, com poderes para resolver todos os problemas do mundo, desde a crise financeira à guerra, da fome e miséria ao terrorismo, dos poderes emergentes até à imigração… As expectativas que carrega aos ombros são gigantescas.

As linhas políticas, seja nos EUA, seja em qualquer outro país, são feitas de continuidade, tanto a nível interno, como a nível externo. Claro que um Obama em Washington inspira mudança e esperança – embora, em minha opinião, a eleição de uma mulher fosse uma mudança mais radical… – e é preciso dar-lhe tempo para actuar e demonstrar aquilo que é capaz. E até agora Obama demonstrou ter capacidades para liderar, para inspirar. Bem como ter inteligência na forma como utiliza o marketing político. E aquele discurso sincopado, sendo-lhe natural, é qualquer coisa...

Tenho lido vários artigos nos últimos dias que alertam precisamente para esta expectativa exagerada. Lembro, por exemplo, Ricardo Costa (SIC), que tem dito que Obama será bem mais falcão do que aparenta ser. Neste mesmo sentido escreve hoje, no DN, o jornalista Manuel Queiroz, com o sugestivo título "Barack Obama como messias".

Amanhã, a América e o Mundo saberão se “change is coming”…

BPN - a nacionalização

Desde que ontem o governo anunciou a inesperada nacionalização do Banco Português de Negócios (BPN), algumas questões têm sido postas sobre a mesa.
Sendo eu um leigo na matéria, apenas aponto as seguintes:

1-
esta nacionalização será um mal menor, quer para o sistema financeiro como um todo, quer para a economia e, em particular, os clientes do BPN. Quando ouço algumas personalidades dizerem, à boca cheia, que deviam deixar este banco morrer, pergunto-me se seriam assim tão convictos caso o banco a encerrar fosse aquele em que têm as suas contas...

2-
o regulador do sistema, que por acaso se chama Banco de Portugal, regula o quê? Fiscaliza o quê? Serve para quê?
Já na novela do Millennium BCP foi enganado com distinção... Agora ignora o que se passou no BPN nos últimos anos (e que parece que a Deloitte, contratada pela administração do banco, manifestou muitas reservas em relação a muita coisa... e viu os seus serviços dispensados)...

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Enquadrada pela crise financeira, uma anedota deliciosa:

[Carta ao Gestor do meu Banco]

Caro Sr.

Dados os acontecimentos em curso no mercado financeiro, se um dos meus cheques não for aceite devido a "fundos insuficientes", isso refere-se a si ou a mim?

Com os meus cumprimentos

sábado, 1 de novembro de 2008

"E agora?"

Cena verídica ocorrida hoje num centro comercial da capital:

As escadas rolantes seguem cheias. Todos olham para cima, ou para a escada fronteira que desce. A certa altura, a escada deixa de subir. Pára. Muitos dos seus momentâneos "passageiros" ficam desorientados, espantados, sem saber o que fazer. Uma criança pergunta:
- e agora?

Por regra, não paro em escadas ou passadeiras rolantes, e irrito-me quando as pessoas param e bloqueiam a passagem. Tenho para mim que o objectivo destes apetrechos urbanos é fazer com que as pessoas cheguem mais rapidamente ao outro lado, não servirem-se delas como uma espécie de teleférico junto ao chão.
Por isso, hoje esta cena foi de uma ironia suprema. As pessoas já nem sabem subir escadas e ficam perdidas perante coisas tão simples.
Que raio de pessoas fazem parte desta sociedade?

Cantinho do poeta - 45

No TRAMBOLHÃO, a Inês escreveu este magnífico poema:

São sete as colinas, sete as ondas que te sacudiram,

Sete são os beijos que te pespego,
De graça, sem troco, à cautela no beco escuro.
São sete as noites do calendário em que me deito contigo,
No alto de um bairro sentimental, numa rua estreita,
Que aperta o meu e o teu coração, em uníssono.
Desde há anos, desde que me respiro,
Que acordo com o teu sorriso rasgado de amarelo,
Escancarado na ombreira da minha janela,
Nua e crua, armada com sete vidros invisíveis.
Vamos passear, dizias,
Lá em cima, atravessamos as sete chagas de Cristo,
Prefiro percorrer as linhas do teu coração,
Proteger-te dos turistas incómodos, esfomeados,
Em sorver fragmentos da tua alma.
Afinal tenho direito a bilhete grátis,
E assento em primeira fila.
Sacudo a canela das mãos ao vento,
Lambo a última crosta do pastel de nata.
Descubro sete chaves enterradas no meu bolso,
No final da linha, vou fechar à chave o teu coração.

Está tão perfeito e surpreendente, que me abstenho de colocar o nome que ela lhe deu. Porque pode ser lido e interpretado de diversas formas.