sexta-feira, 14 de novembro de 2008

De mochila às costas rumo a Tomar

A noite ainda cobria o dia quando partimos. Subtraídos ao calor da cama, enfrentámos a manhã fria e rumámos a Tomar, cidade templária.

A janela do comboio enquadrava a paisagem que ainda era oculta pela neblina matinal. A espaços, um raio de Sol teimava em furar a bruma e tocar na matinal paisagem ribatejana. Apesar da hora, a conversa fluía à velocidade do comboio e punha de lado o sono em falta.

Chegados a Tomar, por onde seguir? O GPS era rudimentar. Então seguimos em frente, atravessando a Várzea Grande, um gigantesco parque de estacionamento. Na Av. Dr. Cândido Madureira, na dúvida, virámos à esquerda e chegámos à Praça Infante D. Henrique, e à entrada da Mata Nacional dos Sete Montes – que horas mais tarde nos iria proporcionar uma aventura caricata.

Seguimos então pela Rua Pé da Costa de Baixo, que nos levou à espaçosa Praça da República, limitada pelos Paços do Concelho e pela imponente Igreja de S. João Baptista. Era hora de retemperar energias e pensar no próximo percurso. A manhã dava ainda os seus primeiros passos.

Atravessámos a Rua Serpa Pinto, olhámos o Rio Nabão à nossa frente. Detivemo-nos: a paisagem convidava a olhar devagar.

Com a Ponte Velha mesmo ali, ultrapassámos o rio. Patos e cisnes acordavam nas águas do Nabão. Na outra margem, nada de relevante. Contornámos o rio, maravilhámo-nos com os patos, e fomos descansar ao Parque do Mouchão. A manhã serena, o parque pintalgado de Outono… Inesperadamente, aproximam-se em voo picado alguns patos que, não temendo as águas gélidas do Nabão ou a nossa presença, brindam-nos, junto com alguns pássaros que por ali se encontram, com sons e imagens de puro deleite”.

Após o almoço é hora de um esforço suplementar, e subimos a escadaria que nos há-de levar à Capela de Nossa Senhora da Piedade. “Chegados ao topo, acender uma vela (iluminar é mesmo o termo) e deixar uma prece…”. Lá do alto, Tomar espreita no meio da vegetação, e à direita impõe-se outro destino desta viagem: o Convento de Cristo.

Essa tarde ainda nos abriria o livro da História, ao visitarmos a Sinagoga, único templo proto-renascentista hebraico, o único medieval do país. Embora decadente, o peso histórico sente-se na quantidade de objectos que alberga. E aprendemos um truque dos sons utilizado naquela sinagoga: a cada canto, metido na parede, um pote com a abertura para a sinagoga (para quem olha simplesmente, trata-se de um buraco na parede), e que permite a amplificação da voz de quem fala. Uma ideia simples e genial para quando não havia as tecnologias de som de que hoje dispomos.

Ao fim do dia, mergulhámos na Mata dos Sete Montes, vestida com as cores de Outono, fresca, natural, serena. Sem rumo definido, seguimos por trilhos que serpenteiam o Castelo dos Templários. Imponente ao nosso lado, mas sem forma de lá acedermos. O rudimentar GPS permite episódios assim… Então, “distraídos, avançamos por veredas escolhidas ao acaso que nos conduziram até à “Aldeia dos Duendes”. Aqui, olhámos em volta e observámos atentamente a floresta que nos rodeava na vã esperança de conseguirmos encontrar um pequeno habitante daquele pequeno reino.” Apesar do nosso poético e criativo esforço, os duendes teimaram em não se mostrar. Estariam nas suas pequenas habitações, ou teriam também ido passear? Não sabemos…


A noite começava a descer na mata, era hora de voltar à cidade. Mas… eis que o portão da mata está fechado à nossa frente! E agora? Como escapar? Terão sido os duendes a nos trancar lá dentro? Teríamos de passar a noite gélida ali, como prisioneiros involuntários? Um muro da mata que dá para a Estrada de Paialvo, não muito alto, permitiu a fuga, ao jeito de inexperientes larápios que não previram todas as contingências da viagem. Lição: convêm olhar sempre os horários do recinto que se visita…

O dia seguinte foi o dia do Convento de Cristo.

Ainda nos tentámos infiltrar numa visita guiada, mas a demora demoveu-nos. Fomos por nossa conta e risco descobrir os recantos deste monumento maior dos templários. Gigantesco, imponente. A História embebida em cada parede. Os vários claustros, a charola templária, a janela do capítulo – expoente máximo da arte manuelina – as escadas, o gigantesco refeitório, as pequenas celas… Um monumento!

Antes de deixar Tomar, tempo para aproveitar mais alguns minutos no Parque do Mouchão. Aquelas cores outonais, banhadas pelo Nabão…

No caminho para a estação, as castanhas anunciavam a chegada próxima do S. Martinho. Não resisti e, quentes e boas, tive de saboreá-las.

No regresso, deixámo-nos dominar pelo cansaço e pelo sono. O comboio já sabia o caminho e o destino, encostado à mesma paisagem ribatejana que nos tinha acompanhado até Tomar.

Em dois dias, subimos, descemos, espreitámos, procurámos, fotografámos, olhámos, surpreendemo-nos, cansámo-nos… numa palavra, empolgámo-nos!

2 comentários:

Anónimo disse...

Excelente relato de viagem. Abraço

Pedro Correia

Luis disse...

Boas!
Gostei do relato. Quanto ao saltar o muro, em tempos várias vezes o fiz.
Abraço e tudo de bom!