Pedro Lomba, gestor do Vício de Forma, escreveu hoje no DN sobre o discurso de Cavaco Silva a propósito do 25 de Abril...
"O Sr. Presidente da República convocou-me. Sim, ontem, no seu discurso comemorativo do 25 de Abril o Presidente falou comigo. Ardentemente, o Presidente convidou os jovens portugueses "a não se resignarem". Eu sou esse jovem. À luz dos critérios nacionais, a idade da juventude termina aos 42 anos, momento que, para mim, vem longe. Até aos 42 anos há direito ao subsídio se formos jovens empresários, jovens agricultores ou jovens cineastas. Por isso, este assunto tem a ver com a minha pessoa e com os meus interesses. Sinto-me convocado. O Presidente apelou ao meu "inconformismo" e eu quero dizer que estou disponível, que não me resigno.
Mas devo, para começar, expor algum remorso. Na minha existência não tenho feito outra coisa do que resignar-me. Eu e outros. Sempre frequentei a escola do eduquês e do experimentalismo e, apesar da instabilidade, resignei-me. No liceu fui obrigado a fazer disciplinas tão essenciais para a formação de uma pessoa como "estenografia" ou "relações públicas" e resignei-me. Na universidade, salvo excepções, encontrei um ensino arcaico à base de programas desajustados da realidade e resignei-me. Na chamada vida activa, que mais equivale a uma vida passiva, o destino lógico de uma pessoa acaba por ser, por comodidade, não discutir, não pensar e não perguntar, isto é, o processo de uma longa e triste resignação. Para pagar os preços de escândalo de uma casa em Lisboa ou no Porto, uma pessoa endivida-se por décadas e resigna-se. Do mercado de trabalho à Segurança Social, o futuro para quem tem 25 ou 30 anos é uma incógnita e um convite à resignação. Quanto à política, o caso é mais grave. Muito do que de errado existe em Portugal e com que nos resignamos depende de decisões políticas e da cultura do poder. Acontece que a nossa classe política está ela própria resignada. Não muda o que tem de mudar, evita o mais difícil e continua impavidamente a contemplar o mundo sem uma ideia sobre o seu impacto no País. De resto, a vida política, sempre opaca, não anima. A quantidade de políticos, de ministros a secretários de Estado, de deputados a presidentes de câmara, que nos últimos 30 anos tomaram decisões irresponsáveis, ocuparam cargos para que não se tinham previamente preparado, usaram o poder só para favorecer interesses particulares, é assombrosa. A resignação é um destino. Até com as mentirinhas públicas do primeiro-ministro sobre a sua licenciatura uma pessoa se resigna.
É o que tenho feito. Reconheço, como advertiu o Presidente, que já chega. O Presidente tem toda a razão em recomendar que "não nos resignemos". O inconformismo é tão mais interessante do que a resignação. Mas talvez o Presidente ou outra pessoa com poder em Portugal nos possa dizer se aceita e compreende as mudanças que terão de vir forçosamente com esse inconformismo. Em teoria, estamos de acordo."
A propósito disto, vale a pena ler este post do Segredos ao Pôr-do-Sol.
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