sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Cantinho do poeta - 57

Um poema de Eugénio de Andrade, um dos meus poetas predilectos.
De vez em quando lembro-me do primeiro verso desta "viagem", feita de antítese (ou não). O verso ecoa na minha cabeça com a voz tonitruante de um Manuel Alegre.

VIAGEM

Iremos juntos separados,
as palavras mordidas uma a uma,
taciturnas, cintilantes
- ó meu amor, constelação de bruma,
ombro dos meus braços hesitantes.
Esquecidos, lembrados, repetidos
na boca dos amantes que se beijam
no alto dos navios;
desfeitos ambos, ambos inteiros,
no rasto dos peixes luminosos,
afogados na voz dos marinheiros.

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