Este título, e o texto que se segue, é o editorial da revista Tabu (semanário SOL) desta semana, da autoria de Vítor Raínho:
"Nos tempos que correm sente-se que uma corrente ganha força.
Na televisão, nos jornais e, sobretudo, nas redes sociais, o miserabilismo
parece crescer cegamente. Figuras gratas, e bem na vida, são dos principais
impulsionadores, parecendo que não pertencem a este mundo – alguns dos quais
com largos milhares de euros doados pelo Estado para as suas fundações e afins.
Que é preciso denunciar as injustiças, ninguém duvida, agora que se faça uma
espécie de caça às bruxas a quem produz trabalho, é um verdadeiro exagero.
A forma quase doentia como se apela à revolta é preocupante.
Nas redes sociais, sob a cobardia do anonimato, dizem-se as maiores
barbaridades e chega-se a apelar ao linchamento de figuras consideradas hostis.
Mas que democracia é essa?
O conteúdo deixou de ter qualquer importância e apenas a
forma interessa. Uma figura diz que o seu sonho é ter uma mala de marca e logo
os cobardolas da net fazem uma perseguição miserável à dita cuja. Por outro
lado, começa a cultivar-se uma caça aos “ricos”, como se o mundo fosse melhor
só com pobres. Por que não se apela antes a que os pobres possam criar riqueza?
E por que razão há-de ser o Estado a meter-se em tudo? Há algum país onde o
Estado mande na economia e as populações vivam bem?
Os exemplos esquizofrénicos são aos montes, só me faltando
ver manifestações de protesto contra a austeridade em festivais onde as pessoas
pagaram mais de 50 euros para ouviram as suas bandas preferidas. Esta semana
cheguei a ler um texto em que o autor defendia que a herança não deve passar de
pais para filhos, mas sim ser doada à comunidade. Vamos imaginar que alguém que
poupou a vida inteira para deixar algo aos seus descendentes não o poderá fazer
atendendo a que esse dinheiro terá de ir para outras famílias. A loucura está a
instalar-se rapidamente e quem semeia ventos perigosos não espera, seguramente,
colher a bonança. É o caos que deseja. E é nesse terreno pantanoso que
geralmente se sentem bem os pequenos ditadores: os aparelhistas com espírito de
polícias que querem, se os deixarem, transformar a nossa sociedade numa Coreia
do Norte modernizada. Afinal, muitos dos mentores da corrente miserabilista foi
lá e em terras livres como a antiga União Soviética que beberam os princípios
daquilo a que chamam “liberdade”… Que, como sabemos, não são recomendáveis. Com
todos os defeitos do tal capitalismo selvagem."
Assino por baixo.