Este novo programa da RTP, em que o Primeiro-ministro se sujeitou às perguntas de 20 cidadãos, é interessante. Mas precisa de alguns retoques, quanto a mim.
Aspectos positivos:
- o "entrevistado" estar perante as questões dos cidadãos sem qualquer tipo de filtro, sem saber que questões lhe poderão ser colocadas. Para os que acham que os políticos ensaiam tudo...
- a proximidade que se estabelece entre os cidadãos e o "entrevistado". Passos Coelho fez bem em tratar as pessoas pelo nome quando respondia. Isto, num país de doutores e engenheiros, deve ter incomodado outros tantos...
- o à-vontade com que o Primeiro-ministro se apresentou.
- surgirem perguntas com pormenores que nunca são colocadas a quem lidera as nossas instituições.
- numa sociedade como a nossa, que infelizmente está cada vez mais virulenta, intolerante e sem respeito, as perguntas serem feitas com notável bonomia. (Se pensarmos que muita gente acha que o criminoso é este Governo e não o caminho que nos trouxe até aqui, não deixa de ser significativo o ambiente que prevaleceu no estúdio).
- ser um formato televisivo testado e normal noutros países ditos mais avançados e democráticos. E nessa medida o resultado poder ser comparado com o que acontece por lá.
Aspectos negativos:
- o programa, de 90 minutos, ser um bloco único. Deveria ter um ou dois intervalos. Como está é cansativo para o público, para o "entrevistado" e para o jornalista.
- ser exagerada a quantidade de questões colocadas: 20. Poderiam ser apenas 10, com a possibilidade de o jornalista tentar aprofundar aquilo que é respondido.
- os cidadãos fazerem perguntas que nunca mais acabam, sem objectividade nem clareza, alargando-se em "enquadramentos". Talvez as perguntas pudessem ser tratadas jornalisticamente antes de o programa ir para o ar. Não se trata de "censura", como alguns estarão a pensar. Trata-se de centrar e resumir a pergunta do cidadão.
- os cidadãos acharem que o político entrevistado tem de saber de tudo. Não, não tem. Se numa empresa um director não sabe de tudo, muito menos um político tem de saber. Por isso achei muito bem quando Passos Coelho respondeu singelamente a uma questão "não sei".
- o político poder "dar a maior tanga" ao cidadão sem qualquer contraditório, ou simplesmente falar sem responder minimamente à questão (por exemplo, como o Primeiro-ministro fez em relação à pergunta do taxista sobre combustíveis). E com isto não estou a defender que haja debate com o cidadão.
Este ponto pode facilmente ser resolvido com a possibilidade de o jornalista insistir em aprofundar determinadas respostas.
Sem comentários:
Enviar um comentário