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Jorge Sampaio tentou instaurar uma presidência pedagógica. Os seus discursos, a sua acção, demonstram-no. Defendeu uma visão positiva do País. Sem as “lamúrias”, sem as queixinhas, sem o desencanto, sem a desilusão. Consubtanciou toda essa acção nas suas Presidências Abertas, que dedicou à economia, ao ambiente, à educação, ao desenvolvimento científico, à justiça, à cultura.... E desta forma puxou pela auto-estima dos portugueses.
Foi com Jorge Sampaio em Belém que pela primeira vez os portugueses participaram, em 1998, em dois referendos: primeiro sobre a interrupçaõ voluntária da gravidez; uns meses depois, sobre a regionalização.
Foi também com Jorge Sampaio em Belém que se fechou o ciclo do império, com a transferência da soberania de Macau para a China. E foi também graças à sua acção que se resolveu o problema de Timor. Todos nos lembramos desses dias de 1999, em que Sampaio é entrevistado pelas grandes cadeias de informação mundial, BBC e CNN.
Foi também este homem que forçou a demissão de Armando Vara e de Luís Patrão do Governo de Guterres, aquando do escândalo da Fundação para a Prevenção e Segurança, no longínquo mês de Dezembro de 2000.
Um ano depois dá-se a saída de Guterres, atolado no “pântano”. No início de 2002, Durão Barroso é empossado Primeiro-ministro, com base na coligação de maioria PSD-CDS/PP.
É durante este Governo, com uma forte linha de controlo do défice orçamental, que Jorge Sampaio profere uma frase que há-de ficar célebre: “há mais vida para além do défice”.
Em Novembro de 2003, Portugal envia para o Iraque um contingente da GNR. “Com um Presidente contra o envio de tropas sem o aval das Nações Unidas, a escolha da GNR foi a solução encontrada pelo Governo (com a concordância de Sampaio) para a participação portuguesa naquele conflito.”
No Verão de 2004 tem lugar a crise governamental, provocada pela saída de Durão Barroso para a presidência da Comissão Europeia. O Presidente Sampaio, segundo os críticos, mergulha na “indecisão” sobre o que deve fazer. Opta – quanto a mim, bem – pela manutenção da maioria parlamentar. Embora a escolha do líder, Santana Lopes, seja péssima. Na tomada de posse, Sampaio avisa o novo Primeiro-ministro que não irá tolerar derivas eleitoralistas e desvios ao programa de governo sufragado.
Os meses seguintes agudizam a crise governamental. Em Dezembro de 2004, Jorge Sampaio dissolve o Parlamento. Uma avalição – quanto a mim – também correcta. E que não é contraditória com a decisão tomada em Julho. Na prática, confirmou o sistema semi-presidencialista português, promovendo a responsabilização política do Parlamento perante os cidadãos eleitores.
No ano seguinte, Sampaio irá dar posse a um Governo baseado numa maioria absoluta do PS, e liderado por José Sócrates.
A nível internacional, de realçar o seu envolvimento nas grandes causas, nomeadamente na luta contra a pobreza, contra a sida. Junto da ONU, e não só. Um Presidente atento aos problemas do mundo de hoje.
Pontos positivos:
Preocupação com a coesão nacional, com o desenvolvimento; tentando inverter o espírito de lamúria, de descrença. Uma Presidência Pedagógica de um homem sério e íntegro que acredita nas capacidades de Portugal. Um Presidente próximo dos cidadãos, um Presidente-cidadão.
Pontos Negativos:
O facto de ninguém dar ouvidos aos seus discursos de preocupação, de alerta, de chamada de atenção. Faltou-lhe autoridade.
Um resumo necessariamente curto, certamente incompleto, de uma Presidência a tempo inteiro de um Presidente pedagogo que promoveu a normalidade democrática.
OBRIGADO, SR. PRESIDENTE.
Sucede-lhe Cavaco Silva, o homem que derrotou aquando da primeira candidatura, em 1996.
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