domingo, 6 de agosto de 2006

FUMAR É VULGAR

E não é que a Europa dos direitos se lembrou de dar cobertura a isto: se fuma, não tem direito a emprego!
É verdade, uma empresa da Irlanda colocou um anúncio para recrutamento. Com uma preciosa ressalva: “se for fumador, não se incomode a responder”. Então uma eurodeputada britânica interrogou a Comissão Europeia acerca da legalidade de um anúncio destes. E recebeu como resposta que está tudo bem. Que “a legislação anti-discriminação europeia proíbe a discriminação no emprego e noutras áreas com base na raça ou etnia, numa deficiência, na idade, na orientação sexual, na religião ou crenças.” Ou seja, não dar trabalho a uma pessoa que fuma não viola nenhuma lei. (Notícia aqui).

[É claro que esta definição legal não conhece a realidade. Como recrutar uma mulher para trabalhar num armazém, função que requer enorme força física? Se o anúncio excluir as mulheres é ilegal, mas o empregador terá de excluí-las naturalmente.
Como recrutar um cidadão muçulmano para o Páteo dos Leitões? Só trata dos acompanhamentos?
Como recrutar um cego (nunca percebi o que é um “invisual”…) para um sem-número de tarefas?]


Não sou fumador, e acho que deve ser absolutamente proibido fumar em muitos locais, mas sou contra esta paranóia. Claro que não gosto de trabalhar com fumo, de tomar uma refeição com fumo (quando irão aplicar esta norma aos restaurantes?), de sair à noite para apanhar fumo (para quando as discotecas e bares?) … Mas sou contra esta lógica normativa que tomou conta da Europa, em que tudo tem de ser enquadrado com base numas leis que esquecem as particularidades e a liberdade individual. Já não bastam as maçãs terem o mesmo tamanho, peso e pigmentação para serem aceites…

As acções para o combate ao tabagismo devem ir no sentido do desincentivo, através de campanhas que mostrem os graves problemas de saúde que o tabaco provoca 8ainda mais!), fazendo passar a mensagem que fumar não é fashion (por exemplo, vi no PÚBLICO aquilo que seria um excelente slogan: “fumar é vulgar”), nomeadamente para os mais jovens, que são mais permeáveis a este truque de afirmação, de crescimento e de integração grupal.

Este tipo de ideias como a da Comissão Europeia são as mesmas de uma sociedade totalitária, que não tem qualquer tipo de respeito pelas liberdades individuais dos cidadãos. E vão no mesmo sentido de umas teses eugénicas que deram cobertura ao assassinato de milhões de pessoas em todo o mundo. Como diz hoje Paulo Ferreira no Editorial do PÚBLICO, “a questão está em saber se é esse o caminho que queremos seguir, reservando o futuro a seres humanos perfeitos, sem vícios nem mácula, sem doença nem defeitos, feitos a partir de um qualquer molde.”