quinta-feira, 15 de fevereiro de 2007

Grandes portugueses: D. João II

Como já devem ter reparado, tenho seguido com algum interesse o programa Os Grandes Portugueses, que a RTP tem promovido. (Confesso: também segui com curiosidade o Pior Português... na SIC Notícias em colaboração com O Inimigo Público).

Neste programa já houve vários alegados vencedores: Salazar, Cunhal... e hoje li que D. Afonso Henriques estaria em primeiro lugar. Antes de mais, ter os primeiros dois como vencedores deste programa-concurso é demostrativo da curta memória lusa (sim, os dois viveram no séc. XX!): ambos são as faces de uma mesma moeda. O segundo só é alegado herói porque se opunha ao primeiro. E porque nunca teve o poder de facto. Seria mais uma ditadura, simétrica da de Salazar.

Se por mais não for, este programa da RTP tem o mérito de pôr (alguns) portugueses a interessar-se pela nossa História. No âmbito do programa têm sido apresentados documentários sobre a personalidade, importância histórica, feitos dos 10 finalistas. Para já não vi nenhum, mas admito que terão algum interesse. Cada um dos finalistas tem um advogado, responsável pela sua defesa no documentário e nos vários programas-debate que têm acontecido.
De qualquer forma, a minha escolha - desde o início! - recai em....

No texto alusivo a este finalista, a RTP apresenta-o assim:

"Duas palavras descrevem D. João II: clarividência e determinação. Com apenas 19 anos planeou a expansão marítima portuguesa e pensou grande: assinou o Tratado de Tordesilhas, assegurando para Portugal a posse do Brasil e a manutenção do comércio com a Índia. Foi um monarca implacável, que não hesitou diante de nada para atingir os seus objectivos. Mesmo que isso significasse aniquilar os inimigos. Tinha uma jovem austeridade, mas o seu sentido de justiça tornou-o querido do povo. “Colocou Portugal no centro do mundo”, diz o historiador de arte Anísio Franco."

O advogado de D. João II é Paulo Portas. Num recente artigo no semanário SOL, Portas escreveu o seguinte:

"O que faz de D. João II um português verdadeiramente notável não é ter sido patriota, autocrata, destemido, hábil, piedoso ou sequer visionário. Outros também o seriam. O que faz do Príncipe Perfeito o verdadeiro génio de um Portugal-que-nunca-mais-se-repetiu é ter sido absolutamente moderno na sua época. É ter tido a noção do risco, o prazer da vanguarda e a escala de ambição que deram consequência à sua visão. Com os ‘ídolos’ do século XX, virámos o milénio na honrosa posição de país mais pobre da Europa; com os heróis de Quinhentos, tivemos meio mundo à disposição. Votem Cunhal, votem Salazar e vivam felizes…
Ah! Pequeno detalhe: no tempo de D. João II não havia sondagens. Suspeito que foi a sorte dele. Diogo Cão, Bartolomeu Dias, Vasco da Gama, Pêro da Covilhã, Afonso de Albuquerque e alguns mais nunca teriam partido se alguém se lembrasse de perguntar à ‘opinião pública’ se concorda, discorda, não sabe ou não responde, com a seguinte política: aceita morrer, naufragar, não voltar, encontrar mostrengos, topar com sobas, passar equadores, desafiar tempestades, cair aos infinitos e confiar nas estrelas – em nome da Coroa?”"

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