domingo, 10 de junho de 2007

Dia de Portugal


A propósito desta data, vale a pena ler o artigo de Pedro Lomba no Diário de Notícias:

"O DEVER DE COMEMORAR

Vem aí o 10 de Junho. Prometo que não vou lamentar aqui a decadência da Pátria, o esquecimento de Camões ou o desinteresse pelo dia. Na verdade, nunca me espantou que Portugal não celebrasse condignamente o seu feriado nacional, nem, de resto, qualquer outra data relevante (tirando as religiosas). O Sr. Presidente da República queixou-se, no seu discurso do 25 de Abril, que é preciso reinventar as comemorações da data. O Sr. Presidente não abordou o problema como deve ser. Porque a explicação é outra: Portugal não celebra nada. Nós, portugueses, não celebramos nada. Somos ensinados para não celebrar nada. Pior, somos ensinados para uma espécie de vergonha e silêncio. A existência de uma cultura de celebração requer abertura à distinção e à solenidade, coisas que a nossa baixa educação cívica e histórica repele. No ensino ou fora, o português é treinado para desprezar símbolos, memórias, rituais, tudo o que no mundo real das sociedades e das pessoas há de mais emotivo e não racional.

Esclareço que nem estou a pensar nos símbolos nacionais, como o hino ou a bandeira. Não faço nenhuma defesa de uma política nacionalista de exaltação, quase sempre apócrifa, do País. O problema é que uma comunidade que pretenda funcionar como comunidade, que não queira ser só um amontoado de leis e poderes, precisa de uma política de símbolos, imagens e valores. Um país precisa de uma certa retórica pública, da celebração de que há valores acima das nossas cabeças. Há um livro recente, de Ajume Wingo (Veil Politics in Liberal States) que explica a importância da função de véu dos símbolos políticos nas sociedades democráticas. Esta função de véu reside no facto de os símbolos intermediarem a relação entre os cidadãos e as estruturas políticas, fazendo com que, através da sua força sugestiva, as pessoas adiram a valores importantes. A América leva a sério o "em busca da felicidade" da Declaração da Independência. O discurso prevalecente em Portugal é o de desprezo por qualquer retórica pública. Quais são os valores em que assentamos a nossa consciência colectiva? Por exemplo, não somos capazes de ser justos com os ex-combatentes de África, não tratamos dos nossos monumentos, não respeitamos a memória, não comemoramos: em quantas escolas, da primária à universidade, se celebra com dignidade o início do ano lectivo, a atribuição de diplomas, os feitos dos melhores estudantes? Para que serve Portugal no fim de contas?

Talvez porque andámos demasiado divididos no último século, talvez porque não sabemos distinguir os símbolos colectivos das mitologias políticas de esquerda e de direita, consentimos que se generalizasse uma atitude de suspeição por tudo o que possa ser visto como conservador e passadista. Mas os símbolos políticos nada têm de conservador. Uma política de símbolos é vital para as sociedades. A sua ausência só traz vazio e vulgaridade."

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