segunda-feira, 17 de março de 2008

Madeira: 30 anos de Jardim

Passam hoje 30 anos sobre a chegada de Alberto João Jardim ao governo da Madeira. Uma geração, portanto.
Estes anos são marcados por sucessos e fracassos. Mas quem conhece o arquipélago não fica indiferente ao enorme desenvolvimento de toda a região nos mais diversos domínios. Eu, que vou lá duas vezes por ano, de cada vez que vou vejo qualquer coisa irreconhecível, marcada pela mudança, por novas infraestruturas.
e houve desenvolvimento com algum cuidado em preservar a natureza. Basta lembrar que dois terços da ilha são reserva natural. E tem ainda um precioso tesouro mundial: a laurissilva.
Muitos dizem que Jardim é corrupto e afins, mas acho que a grande marca dele é o amor à sua ilha. Soube desenvolvê-la, aplicar bem dinheiros públicos, mostrar obra, apresentar resultados. Não subscrevo a tese de que Jardim é "mais um que foi para o poder para se encher". Acho mais provável estar cercado de vários colaboradores com esse epíteto. E com isto não estou a dizer que Jardim é um ingénuo, um inocente.
Tem contradições no seu percurso? Tem. Tem coisas mal feitas? Tem. Tem algum autoritarismo? Tem. Mas demonstrou ao longo do tempo e das circunstâncias ser um homem e um político de coragem, fora dos cânones cinzentos e politicamente correctos que se impuseram na política nacional.
Penso que a maior lacuna que se lhe pode apontar é o atraso da região ao nível das mentalidades. Mas que também é muito condicionado pelo facto de ser uma ilha, isolada dos grandes centros. E de até ao 25 de Abril ter vigorado um regime feudalista em toda a sociedade. Ainda hoje não é difícil encontrar marcas disso. Embora, em entrevista à Lusa, Jardim afirme:
"Era uma sociedade extremamente hierarquizada, feudalizada mesmo, sobretudo nas relações culturais, sociais, humanas. Hoje é uma sociedade moderna, sem preconceitos, europeizada".

Jardim, como qualquer político, mas com o descaramento que outros não têm, enfrenta e esmaga os adversários. Basta lembrar o que aconteceu com os concelhos de Machico e Porto Santo quando as câmaras eram da UDP (Machico, com Martins Júnior) ou do PS (Machico, com o mesmo Martins Júnior e com Bernardo Martins, e Porto Santo): não houve rigorosamente nada em termos de obras públicas patrocinadas pelo governo regional. E foi ver o salto de desenvolvimento mal voltaram a ter câmaras lideradas pelo PSD.

Tivesse Portugal, a nível nacional, alguém com a energia de Alberto João Jardim e não estávamos em crise de esperança há quase 10 anos. Um país num beco sem saída.

Para conhecer mais qualquer coisa da vida madeirense destes 30 anos, o caderno P2 do Público de hoje tem uma extensa reportagem. E ainda o SOL, e a SIC.

Biografia de Alberto João Jardim aqui.

1 comentário:

Cris disse...

Também não acredito que AJJ tenha ido para o poder para encher os bolsos... Não concordo é com a maneira como por vezes ele exerce esse poder. E embora acredite que o atraso das mentalidades seja essencialmente consequência da insularidade da Madeira,também acredito que esse atraso lhe seja conveniente. Se os madeirenses começarem a despertar para novas realidades, ainda pode ter o azar de despertarem para a necessidade de lhe chamar a atenção para algumas figuras tristes que infelizmente por vezes faz.
Mas concordo quando dizes que, apesar de tudo, faz falta um AJJ no continente também.