Esta semana, Pedro Lomba, num interessante artigo no DN, questiona porque são os portugueses de esquerda.
O melhor é ler o texto na íntegra:
"Toda a gente quer perceber porque é que a maioria dos portugueses é de esquerda. Ou: porque é que, segundo as sondagens, a maioria dos portugueses está a "virar" à esquerda, pronta para sem um embaraço ou uma indecisão ir depositar o seu voto em Jerónimo de Sousa ou Francisco Louçã?
Não há muito tempo, estudos de opinião situavam o português médio no centro-esquerda. Faziam um retrato conservador daquilo que somos em política: moderados, compromissórios, mas levemente inclinados para a esquerda pela importância que concedemos ao Estado em garantir esquemas vários de assistência social. O "centrão" de que tanto se fala não nasceu só da vontade de PS e PSD se perpetuarem à frente do regime. O "centrão" assentava em toda uma base sociológica. Éramos "nós".
Se os portugueses que antes eram de centro-esquerda estão hoje ainda mais à esquerda, como explicar o fenómeno? Verdade que a crise económica e o pessimismo que tomou conta do mundo ajudam a explicar o que se passa. Quando se tem medo, ninguém pede por mais liberdade e independência, mas por mais segurança e protecção. A única natureza, escreveu o Miguel Esteves Cardoso, é a humana.
Mas eu acrescento, e já o escrevi uma vez, que se os portugueses tendem para a esquerda não é por causa de teorias. Os portugueses são de esquerda porque, no essencial, são mal pagos; e não são mal pagos no meio de outros igualmente mal pagos. Os portugueses mal pagos trabalham todos os dias para os portugueses bem pagos. Mesmo os muito mal pagos têm de "conviver" com os muito bem pagos. E uns e outros apercebem-se da diferença.
As convicções políticas de quase todos nós dependem de sermos bem ou mal pagos. O leitor que faça um esforço: quantas pessoas bem pagas conhece a dizerem que são de esquerda, ou que votam à esquerda? Eu conheço muito poucas. As que conheço enfio-as em três excepções: os bem-pensantes, os "intelectuais" e os que nunca se libertaram do trauma de terem passado um dia pela experiência de ser mal pagos.
Porquê? Porque as pessoas bem pagas adquirem um interesse egoísta, um poder que só o dinheiro confere, uma resistência natural em partilharem o que têm. As pessoas mal pagas, pelo contrário, aspiram a esse interesse, a esse estatuto, a essa resistência. Um filósofo americano (marxista), G.A. Cohen, tem um livro chamado: Se Acreditas na Igualdade, Porque É que És tão Rico? Boa pergunta. Mas é fácil: os ricos que acreditam na igualdade, estão enganados.
Muito do confronto esquerda-direita na política é na verdade entre pessoas mal pagas e bem pagas. Não é uma luta por mais ou por menos igualdade. Ninguém quer ser igual a ninguém. Mas todos queremos ser bem pagos. Só vejo uma forma de acabar com o Bloco. É subir os salários."
O melhor é ler o texto na íntegra:
"Toda a gente quer perceber porque é que a maioria dos portugueses é de esquerda. Ou: porque é que, segundo as sondagens, a maioria dos portugueses está a "virar" à esquerda, pronta para sem um embaraço ou uma indecisão ir depositar o seu voto em Jerónimo de Sousa ou Francisco Louçã?
Não há muito tempo, estudos de opinião situavam o português médio no centro-esquerda. Faziam um retrato conservador daquilo que somos em política: moderados, compromissórios, mas levemente inclinados para a esquerda pela importância que concedemos ao Estado em garantir esquemas vários de assistência social. O "centrão" de que tanto se fala não nasceu só da vontade de PS e PSD se perpetuarem à frente do regime. O "centrão" assentava em toda uma base sociológica. Éramos "nós".
Se os portugueses que antes eram de centro-esquerda estão hoje ainda mais à esquerda, como explicar o fenómeno? Verdade que a crise económica e o pessimismo que tomou conta do mundo ajudam a explicar o que se passa. Quando se tem medo, ninguém pede por mais liberdade e independência, mas por mais segurança e protecção. A única natureza, escreveu o Miguel Esteves Cardoso, é a humana.
Mas eu acrescento, e já o escrevi uma vez, que se os portugueses tendem para a esquerda não é por causa de teorias. Os portugueses são de esquerda porque, no essencial, são mal pagos; e não são mal pagos no meio de outros igualmente mal pagos. Os portugueses mal pagos trabalham todos os dias para os portugueses bem pagos. Mesmo os muito mal pagos têm de "conviver" com os muito bem pagos. E uns e outros apercebem-se da diferença.
As convicções políticas de quase todos nós dependem de sermos bem ou mal pagos. O leitor que faça um esforço: quantas pessoas bem pagas conhece a dizerem que são de esquerda, ou que votam à esquerda? Eu conheço muito poucas. As que conheço enfio-as em três excepções: os bem-pensantes, os "intelectuais" e os que nunca se libertaram do trauma de terem passado um dia pela experiência de ser mal pagos.
Porquê? Porque as pessoas bem pagas adquirem um interesse egoísta, um poder que só o dinheiro confere, uma resistência natural em partilharem o que têm. As pessoas mal pagas, pelo contrário, aspiram a esse interesse, a esse estatuto, a essa resistência. Um filósofo americano (marxista), G.A. Cohen, tem um livro chamado: Se Acreditas na Igualdade, Porque É que És tão Rico? Boa pergunta. Mas é fácil: os ricos que acreditam na igualdade, estão enganados.
Muito do confronto esquerda-direita na política é na verdade entre pessoas mal pagas e bem pagas. Não é uma luta por mais ou por menos igualdade. Ninguém quer ser igual a ninguém. Mas todos queremos ser bem pagos. Só vejo uma forma de acabar com o Bloco. É subir os salários."
Nota: destaques feitos por mim.
* título do texto no DN.
1 comentário:
Vá lá dótor...mas tu até és bem pago. Não te queixes! :P
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