quarta-feira, 1 de julho de 2009

O fim de festa rosa

Manuel Carvalho, no editorial do Público no passado domingo:

"O que está acontecer ao sistema de poder construído por José Sócrates na legislatura? O que explica os sinais de descontrolo, descoordenação e desnorte do Governo mais homogéneo do pós-25 de Abril, no qual eram raras as fugas de informação, impensáveis as divergências factuais entre ministros, raras as dissensões internas e as remodelações? Quem por acaso se tivesse ausentado do país por seis meses e comparasse o antes e o depois das eleições europeias teria facilmente constatado que algo mudou, que o princípio basilar da governação construído em torno da liderança incontestada de José Sócrates está a ruir rapidamente.
(...)
O que a última semana do Governo deixou a nu é o clima de dissolvência, de final de festa, que começa a instalar-se na cúpula do poder socialista. Incapaz de recuperar num curto espaço de tempo o protagonismo político, acossado por uma lidrança do PSD que lenta mas paulatinamente se vai afirmando como alternativa, minado pelo desgaste de ministros que há meses (ou anos) deveriam ter sido remodelados, incapaz de produzir ideias novas, o Governo arrasta-se, confunde-se, desordena-se e perde terreno para a oposição."


Fernando Sobral, no seu O Pulo do Gato, do Jornal de Negócios, ontem:

"José Sócrates ilude-se com facilidade. E acredita que os portugueses o contratarão com facilidade para continuar a ser ilusionista nos próximos quatro anos.
(...)
Pensa que a tecnologia é o substituto natural das ideias e, portanto, crê que o Twitter e o Facebook serão o seu "simplex" eleitoral. A má qualidade da democracia corresponde à má qualidade dos políticos. Mas Sócrates acredita que tudo é uma questão tecnológica e não ideológica. Engana-se.
Para existir uma democracia participativa através das redes sociais é preciso ouvir e debater. E ouvir não é o mesmo que escutar "focus groups" ou agências de comunicação. É preciso escutar, replicar e tirar ilações. Não é só ouvir, para colocar nos programas o que as pessoas querem ler.
Mas Sócrates não quer escutar questões. Não é por acaso que uma das mais importantes acções pedagógicas deste Governo na educação foi o estrangulamento da Filosofia, a disciplina que traz mais perguntas que respostas."

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