"A minha avó tinha um pobre só dela. Um pedinte que, de vez em quando, ia lá a casa e a quem a minha avó dava algum dinheiro. Hoje em dia já ninguém tem pobres. Os pobres são todos do Estado. Em vez de contarem histórias comoventes a velhinhas, fazem prova de rendimentos no guichet da Segurança Social. Um caso em que o Estado, de facto, facilita a vida aos cidadãos, aliviando-os. Nomeadamente, do sentimento de culpa ao negarem esmola a um mendigo, que agora já tem quem o subsidie oficialmente.
Pensava eu que isto de ter um pobre só para si era um anacronismo, até perceber que Angela Merkel também tem um. Chama-se José Sócrates e visitou-a recentemente em Berlim (uma notícia que, se O Independente ainda existisse, teria como manchete "Sem bolas em Berlim")."
José Diogo Quintela, revista Pública, 13 Março 2011.
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