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terça-feira, 8 de outubro de 2013

O país pergunta *

É certo que o país atravessa tempos difíceis.
É certo que isso exige medidas duras, difíceis de explicar, incompreensíveis para alguns, absurdas para outros.
Neste quadro, há uma lacuna neste governo: coordenação política e clareza na mensagem. Sem isso, o governo parece que anda às aranhas. Não sabe explicar medidas, não explica bem, diz e desdiz e embrulha-se todo. 
O que é isto da "pensão de sobrevivência"? Uma trapalhada política em três actos sobre um "direito adquirido automático" e com pouco sentido (como ontem referia Sousa Tavares, podemos dizer que em Portugal os mortos recebem pensão).
Há ministros sem perfil para sê-lo (dantes havia sem perfil mas que iam tomando medidas necessárias. Sim, o Álvaro), e o cargo de MNE exige alguém com peso político e rasgo. Portas tinha isso, mas era muito "agente comercial" e pouco político-diplomático.
E o que é isto de medidas que eventualmente vão constar do OE-2014 (que ainda nem foi aprovado pelo governo, nem foi entregue na AR) irem caindo a conta-gotas na comunicação social? Só gera desagrado e raiva dos cidadãos e desgasta desnecessariamente quem tem de tomar medidas políticas para resolver a situação do país, desviando-se do essencial. Isto chama-se amadorismo.

Por vezes gostava de dar um salto ao futuro para saber como vamos sair do actual momento de crise - e num enquadramento sócio-político-económico confortável e sem conflitos.

* Nome do programa de entrevistas políticas da RTP, que estreia amanhã com a presença do Primeiro-Ministro.

quarta-feira, 10 de julho de 2013

O murro na mesa

Esta noite, Cavaco Silva deu um murro na mesa e pediu aos três partidos do arco da governação, e que subscreveram o Memorando de Entendimento, que se entendam em nome do interessa nacional e deixem a politiquice de lado.
A seguir, excerto do seu discurso (sublinhados meus):

"Tendo exposto ao País o que penso da atual situação e as razões pelas quais considero ser indesejável a realização imediata de eleições legislativas, quero apresentar agora o meu entendimento sobre a solução que melhor serve o interesse nacional.

No contexto das restrições de financiamento que enfrentamos, a recente crise política mostrou, à vista de todos, que o País necessita urgentemente de um acordo de médio prazo entre os partidos que subscreveram o Memorando de Entendimento com a União Europeia e com o Fundo Monetário Internacional, PSD, PS e CDS.

É esse o caminho que deveremos percorrer em conjunto. Darei o meu firme apoio a esse acordo, que, na atual conjuntura de emergência, representa verdadeiramente um compromisso de salvação nacional. Repito: trata-se de um compromisso de salvação nacional.

O Presidente da República não pode impô-lo aos partidos, até porque um acordo desta natureza e deste alcance só terá consistência e solidez se contar com a adesão voluntária, firme e responsável das forças políticas envolvidas.

Terão de ser os partidos a chegar a um entendimento e a concluir que esta é a solução que melhor serve o interesse dos Portugueses, agora e no futuro.

Com a máxima clareza e com toda a transparência, afirmo que esse compromisso deve assentar em três pilares fundamentais.

Primeiro, o acordo terá de estabelecer o calendário mais adequado para a realização de eleições antecipadas. A abertura do processo conducente à realização de eleições deve coincidir com o final do Programa de Assistência Financeira, em junho do próximo ano.

Em segundo lugar, o compromisso de salvação nacional deve envolver os três partidos que subscreveram o Memorando de Entendimento, garantindo o apoio à tomada das medidas necessárias para que Portugal possa regressar aos mercados logo no início de 2014 e para que se complete com sucesso o Programa de Ajustamento a que nos comprometemos perante os nossos credores.

A posição negocial de Portugal sairia reforçada, evitando novos e mais duros sacrifícios aos Portugueses.

Em terceiro lugar, deverá tratar-se de um acordo de médio prazo, que assegure, desde já, que o Governo que resulte das próximas eleições poderá contar com um compromisso entre os três partidos que assegure a governabilidade do País, a sustentabilidade da dívida pública, o controlo das contas externas, a melhoria da competitividade da nossa economia e a criação de emprego.

É essencial afastarmos do horizonte o risco de regresso a uma situação como aquela que atualmente vivemos."

sexta-feira, 5 de julho de 2013

Olhando este país

(actualizado)

Perante a situação política presente, face à repentina demissão de Paulo Portas, não resisto a voltar a escrever neste espaço.
Depois de ver, ouvir, ler e pensar sobre o assunto, tinha de dizer qualquer coisa.

Vamos por pontos:

1 – a demissão de Vítor Gaspar era praticamente inevitável. Tendo em conta o nível de contestação, e os desentendimentos no seio do Governo, a persona tinha de ser alterada. Com isto não quero dizer que o rumo deva ser substancialmente alterado. Infelizmente não é possível mudar muito, ou até a definição desse rumo depender da vontade de Portugal. No entanto, é necessária uma forte vertente política que explique esse rumo, que mostre um destino, que faça os cidadãos terem esperança. Essa componente política tem sido uma grande lacuna deste governo.

2 – a demissão de Paulo Portas: uma irresponsabilidade e estupidez pegada. Sendo o Governo de coligação entre dois partidos, têm de se entender. O interesse nacional é superior ao interesse político de cada partido ou de cada líder. O que se passou é inaceitável.

Aceito que haja diferenças de posição num governo que junta vários partidos, mas têm de sentar-se à mesa e chegar a um consenso, longe dos holofotes mediáticos.

O que levou efectivamente o Ministro dos Negócios Estrangeiros a demitir-se? Quanto a mim foram vários os factores: os desentendimentos com o Primeiro-ministro, e não conseguir impor o seu entendimento do rumo a seguir durante o consulado de Vítor Gaspar; não concordar com a escolha de Maria Luís Albuquerque para nova Ministra das Finanças; nestes dias houve notícias de que a troika queria mais cortes (nas pensões, no salário mínimo, na função pública…), e ele não concordou; tinha de apresentar o relatório para o corte de 4 mil milhões, e não tinha coragem para tal; ficando como nº 2 do Governo, seria amarrado ao seu destino e resultado, e não quis esse ónus.

3 – há vários anos que digo que em Portugal há três animais políticos: Mário Soares, Alberto João Jardim e Paulo Portas. Goste-se ou não deles, é uma qualidade que temos de lhes reconhecer. Mas a pequena política e o contorcionismo têm como limite o interesse nacional.

4 – a brincadeira de Portas custou muito ao país em termos de credibilidade e de financiamento. E pode vir a implicar mais dificuldades para os portugueses. Não é aceitável, num momento de dificuldade como o que atravessámos, deitar a perder dois anos de sacrifícios.

5 – neste contexto, embora descontando o “seria precipitado aceitar esse pedido de demissão” (que Passos Coelho disse acerca da demissão de Portas, e que não me parece que possa fazer), o Primeiro-ministro, quanto a mim, foi o único que teve bom senso na sua declaração. 

6 – após isto, o CDS, que foi surpreendido pela demissão de Portas, mandatou o mesmo Paulo Portas que não se entendeu com Passos Coelho para renegociar com ele. Não percebo esta lógica e não faz sentido para mim.

Este fim-de-semana teria lugar o congresso do CDS, que já foi desconvocado. Não percebo como Paulo Portas poderá manter-se na liderança do partido. 

Não é possível o partido ter um discurso de responsabilidade, e depois essa imagem ser deitada por terra por atitudes assim.

7 – naquilo que tem vindo a público sobre as reuniões entre Passos Coelho e Portas há coisas que (embora não confirmadas) não percebo: 

     a) Portas voltar ao governo? Não pode ser. Nem por pressão de Cavaco, como li há pouco, nem por outra via. Não faria qualquer sentido.

       b) Passos Coelho não pode ceder e demitir a recém-empossada ministra das Finanças. Seria o descrédito absoluto.

       c) Se a solução de coligação existente até antes da demissão de Portas se revelou tão frágil, como seria sólido um acordo diferente e sem o eventual líder do segundo partido fora do governo? 

8 – quanto à oposição à esquerda... desde sempre que pede a queda do governo e eleições antecipadas (o PS também se converteu a este coro há uns meses). Com a crise governamental desta semana, foi possível ver as consequências da instabilidade política: bolsas a caírem, juros a disparar, credibilidade do país posta em causa, potencialmente maior dificuldade no acesso aos mercados, logo mais empresas em dificuldade e mais desemprego, imposição de mais austeridade. 

Quando o governo, por incompetência, quase realiza o seu pedido, vêm logo gritar que o governo é irresponsável. Então o que foram eles durante estes dois anos? Eles queriam agravar a crise e as dificuldades nacionais.

9 – como disse no dia em que Portas apresentou a demissão: além de uma esquerda incompetente, agora temos uma direita estúpida. Num momento dificílimo e dramático da nossa vivência colectiva, não consegue entender-se para reformar o país e o Estado. Ficamos todos a perder.

10 - a crise e a austeridade não começaram há dois anos; começaram quando o país andou a gastar o que não tinha. A causa da nossa crise/desgraça não se chama Passos Coelho, Gaspar ou Portas - chama-se país falido.

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Efeito dominó

No Público de hoje, um interessante resumo dos países que já tombaram face à crise:


Depois destes, parece que já se apresentou o seguinte: Chipre, que pedirá ajuda até final do mês.


Entretanto, António José Seguro delira por terras lusas: "exigiu hoje ao primeiro-ministro que ponha fim ao "tabu" e esclareça os portugueses sobre quais são as condições exigidas a Madrid pela assistência financeira destinada à recapitalização da banca espanhola."
Há ali uma sinapse qualquer a impedi-lo de distinguir o primeiro-ministro português do espanhol...

quinta-feira, 7 de junho de 2012

"Somos nós"

Basta que a selecção esteja na fase final de uma qualquer competição para vir ao de cima o orgulho de ser português (portuga?): começam a aparecer bandeiras nacionais nas janelas dos prédios, nos carros, como lenço na mala das senhoras...
Tão portugueses que nós somos!...

E nas alturas em que não há selecção, hein?




Só para chatear: tal como um jogador qualquer disse num destes dias, também me apetece achar que o vencedor do Euro 2012 será a Alemanha.

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Uma questão de cultura

"O primeiro-ministro apelou hoje aos portugueses para que adoptem uma “cultura de risco” e considerou que o desemprego não tem de ser encarado como negativo e pode ser “uma oportunidade para mudar de vida”. 
Durante a tomada de posse do Conselho para o Empreendedorismo e a Inovação, no Centro Cultural de Belém, em Lisboa, Pedro Passos Coelho lamentou que “a cultura média” em Portugal seja a “da aversão ao risco” e que os jovens licenciados portugueses prefiram, na sua maioria, “ser trabalhadores por conta de outrem do que empreendedores”.
Numa intervenção de cerca de vinte minutos, o primeiro-ministro defendeu que “essa cultura tem de ser alterada” e substituída por “um maior dinamismo e uma cultura de risco e de maior responsabilidade, seja nos jovens, seja na população em geral”.
Passos Coelho referiu-se em especial aos portugueses que estão sem emprego: “Estar desempregado não pode ser, para muita gente, como é ainda hoje em Portugal, um sinal negativo. Despedir-se ou ser despedido não tem de ser um estigma, tem de representar também uma oportunidade para mudar de vida, tem de representar uma livre escolha também, uma mobilidade da própria sociedade”.

E contra mim também falo. 
A sociedade portuguesa tem um problema cultural que coarcta, que tolhe, que inibe a iniciativa, o espírito empreendedor, o olhar em frente, o ser positivo, o ver oportunidades.
Nos EUA faz-se um negócio com uma cartolina pendurada ao pescoço. Em Portugal tal é impossível. Aqui somos doutores, lá são empreendedores. É o problema de sermos um país pequeno, uma sociedade fechada.

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Democracia à guineense

Não deixa de ser curioso que, a meio de um processo eleitoral para eleger o respectivo presidente (tinha havido primeira volta, e o iam a caminho da segunda, agendada para dia 29 de Abril), uns militares da Guiné Bissau dessem um golpe de Estado.
Portugal - e bem - defende tolerância zero para golpes de Estado e já falou com Hillary Clinton sobre o problema guineense, na véspera da reunião do Conselho de Segurança da ONU para tratar do assunto.

domingo, 1 de abril de 2012

Fregueses

Todas as terreolas deste país ficaram em ebulição após a troika ter imposto a reforma do poder local. O Governo - o outro e este - acharam que a forma de satisfazer a troika seria mexendo na organização das freguesias. Os concelhos, esses, como têm a ver com a organização partidária, ficam como estão. Mesmo que a definição actual dos concelhos venha do século XIX, e nada tenha a ver com a vida actual.
Algumas perguntas impõem-se:
- sendo o desenho actual da organização administrativa do séc. XIX, faz sentido que permaneça igual quando a demografia, as comunicações e as necessidades são completamente diferentes do que eram na altura?
- pelo que se viu ontem, as freguesias servem para apoiar grupos culturais e recreativos. É essa a função de uma Junta de Freguesia (JF)? Uma JF é necessária para isso?
- um dos argumentos dos fregueses contra a reorganização das freguesias é que ficam isolados. Com as actuais freguesias estão menos isolados? Têm mais serviços? Precisam de um JF para ter centro de saúde, correios, bombeiros?
- as JF queixam-se que não têm meios financeiros... Onde é que os conseguiram para ontem meterem 600 autocarros em Lisboa?


domingo, 12 de fevereiro de 2012

Blogosferando - 69



No Corta-fitas:

"Confesso que ando sem pachorra para comentar as ‘actualidades nacionais’, tal é o grau de descaramento, má-fé, estupidez, irresponsabilidade e ignorância que políticos, comentadores e muitos cidadãos comuns exibem nesta hora grave da História da Pátria.

Esquecem que Portugal esteve há pouco menos de um ano perante o abismo.

Esquecem que o Estado esteve objectivamente na bancarrota, incapaz de pagar salários e reformas, de honrar compromissos assumidos, de pagar dívidas de milhares de milhões de euros aos seus fornecedores, de que os 3 mil milhões de euros em dívidas do Serviço Nacional de Saúde são um exemplo eloquente.

Havia que mudar, tínhamos de mudar de vida.

E começámos por mudar de governo. Correu-se com um incapaz que agora revela os mais obscenos sinais exteriores de riqueza na ‘cidade-luz’, elegeu-se um Homem decidido a arrumar um passado de regabofe, de despesismo, de irrealismo, reorganizando o País para a produção, a competitividade, o trabalho, a poupança e a Justiça.

Em nome do Futuro de Portugal.

Por causa dos nossos filhos que merecem não viver a miséria que presentemente nos esmaga e humilha, como os nossos avós viveram a bancarrota desse regime da bomba, que não foi outra coisa a primeira república.

Ando pois sem pachorra para suportar um exército de comentadores fingidos e de políticos farsantes que, descontextualizando despudoradamente as palavras de Passos Coelho, sabem muito bem que este nunca chamou “piegas” aos Portugueses, antes nos desafiou a ter vontade de vencer.

Ando também sem pachorra para aturar as lágrimas de luto pelo carnaval de gente que parece não perceber que só folgando menos e trabalhando mais sairemos do fosso em que nos encontramos (e, caramba, querem carnavalar, tirem um dia férias!).

Ainda menos pachorra tenho para incendiários radicais que não descansam enquanto o País não fizer o haraquíri grego, desse modo se instalando entre nós a revolução social que aquelas hienas anarco-comunistas tanto desejam.

Nenhuma pachorra tenho, então, para esses madalenos socialistas que nestes seis anos deram prova da mais rematada imbecilidade no governo Sócrates e que, depois de terem afundado o País, agora protestam apenas com o objectivo canalha de atirar lenha para a fogueira e cortar o passo a quem está a corrigir os seus erros.

Um bom exemplo do que acabo de referir é ver o desplante de António José Seguro a sustentar que o Governo deveria ter utilizado o 'excedente' orçamental de 2011 para não reduzir os subsídios de Natal desse ano, omitindo o pormenor de que aquele resultado apenas foi alcançado graças às receitas extraordinárias da transferência do fundo de pensões da banca para a segurança social.

Se derem ouvidos a essas sereias, pobre Portugal, desgraçado País o nosso…

Em vez de tudo maldizer, atente-se antes nesta tão esquecida quanto certeira reflexão de Fernando Pessoa, para quem os vencedores da 'Grande Guerra' “Repararam que a força da Alemanha provinha, não da valentia notável dos componentes individuais dos seus exércitos, não da perícia especial dos seus chefes militares. Mas de ser na guerra e na paz e na disciplina particular da vida guerreira o que era na geral de toda a sua vida — uma nação plenamente organizada, coerindo dinamicamente em virtude de uma aplicação inteligente e estudada dos princípios de organização” (in "Como Organizar Portugal", págs. 5-6)

Organizemos, pois, o nosso País, mudando mentalidades e a nossa atitude como povo, reformando o Estado e libertando a sociedade, modernizando a economia e apostando em novos mercados e modelos de desenvolvimento. E, já agora, rejeitando também a charlatanice melíflua de que o futuro não existe sem nós e de que os outros nos devem a nossa própria existência.

É que, ou despertamos e vencemos ou continuaremos a decair até morrermos como Nação.

Pode ser duro mas a vida é mesmo assim."

E é isto.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Blogosferando - 67



"Ouvi hoje no rádio, ainda meio a dormir. Podia ter percebido mal por isso, mas é demasiado verosímil para não ser verdade. Dos dois feriados civis que se aventava que o Governo iria eliminar, por contraponto a dois religiosos, um seria o 5 de Outubro. Seria, mas ao que parece não será. O 1º de Dezembro, sim, pode suprimir-se, porque, suponho, já não será vivo nenhum dos conjurados de 1640. Sou republicano (relutante, acrescenta o João Távora). Mas não aceito que na escala de valores destes deslumbrados de esquerda e direita que nos governam, a libertação da ocupação estrangeira seja menos relevante e digna de celebração que a «libertação» de um monarquia constitucional, leia-se, democrática, logo substituída por um regime protoditatorial sanguinário e ruinoso para o País. A fractura não é hoje entre esquerda e direita. É entre patriotas e vendidos. Ou entre cultos e ignaros. Entre gente com espinha e oportunistas plebiscitados."

Absolutamente de acordo!

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Aumentos

No restaurante-tasca onde costumo almoçar, até ao ano passado, conseguia os seguintes valores:
- sopa: 1,10€
- mini-prato: 3,90€.
Com 5€ ficava satisfeito. 
Num ou noutro dia, raro, ainda ia uma sobremesa, também a 1,10€. O café, se me apetecesse, ficava nos 0,55€.

Chegados a 2012, com a mudança da taxa de IVA na restauração de 13% para 23%, um almoço passa a custar:
- sopa: 1,29€
- mini-prato: 4,29€.
Ou seja, para comer a mesma coisa tenho de pagar mais 0,58€.
Trocado em miúdos, um simpático aumento de 11%. Com o preciosismo (truque?) dos valores ficarem nos 9 cêntimos...

Claro que os restaurantes não podem suportar os aumentos de impostos. Tal como as empresas. Tal como todos os que conseguem repercutir os seus custos no consumidor final.
O consumidor final, por sinal o elo mais fraco da cadeia, é que paga tudo. Porque ele pode. Os outros é que não.

Só para chatear: um concerto, uma peça de teatro ou outra actividade cultural, como são cultura, pagam 13% de IVA (em vez da alteração inicialmente prevista de 6% para 23%). A alimentação, como é desnecessária e sumptuária, paga 23%.
A lógica é uma batata.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Jerónimo Martins - a falsa questão

A decisão da Jerónimo Martins está a gerar polémica e andam a discutir-se questões laterais. 
A SIC Notícias, às 22h, debateu a questão com um fiscalista e Pedro Santos Guerreiro, director do Jornal de Negócios.
Para ajudar a esclarecer, temos hoje este editorial do Jornal de Negócios:

"Estamos saturados de manhosos, desconfiados de moralistas, estamos sem ídolos, sem heróis, estamos encandeados pelos faróis dos que saltam para o lado do bem para escapar à turba contra o mal. Quando apanhamos, abocanhamos. Estraçalhamos. Somos uma multidão furiosa. Às vezes, erramos. A família Soares dos Santos não está a fugir aos impostos. Mesmo se vai fugir ao País. 



Só há um antídoto contra a especulação: a informação. É assustador ver tanta opinião instantânea sobre o que se desconhece. A sede de vingança tomou o lugar da fome de justiça. O problema não está na rua, nas redes sociais, nas esquinas dos desempregados. Está em quem tem a obrigação de saber do que fala. Do Parlamento, de Ana Gomes, de António Capucho, dos que pedem boicotes ao Pingo Doce(para comprar onde, já agora? No Continente da Sonae que tem praças na Holanda? No Lidl, que as tem na Alemanha?).

A decisão da família Soares dos Santos pode ser criticada mas não pelas razões que ontem se ouviu. A Jerónimo Martins não vai pagar menos impostos. E a família que a controla também não - até porque já pagava poucos.

Uma empresa tem lucro e paga IRC; depois distribui lucro pelos accionistas, que pagam IRC (se forem empresas) ou IRS (se forem particulares). Neste caso, a Jerónimo continua a pagar o mesmo IRC em Portugal (e na Polónia); o seu accionista de controlo, a "holding" da família Soares dos Santos, transferiu-se para a Holanda. Por ter mais de 10% da Jerónimo, essa "holding" não pagava cá imposto sobre os dividendos e continuará a não pagar lá. Já quando essa "holding" paga aos membros da família, cada um pagaria 25% de IRS cá - e pagará 25% lá. Com uma diferença: 10% são para a Holanda, 15% para Portugal.

Porque tomou a família uma decisão que, sendo neutra para si, prejudica o Estado português? Pela estabilidade e eficácia fiscal de lá, que bate a portuguesa. Pelo acesso a financiamento, impossível cá. E porque a família tem planos de crescimento que não incluem Portugal. 

Aqueles que se escandalizaram ontem deviam ter-se comovido também quando, há um par de meses (como aqui foi escrito), a Jerónimo anunciou como iria investir 800 milhões de euros em 2012: 400 milhões da Colômbia, 300 na Polónia... e 100 milhões em Portugal. Isto sim, é sair de Portugal. E quando a Jerónimo investir na Colômbia, provavelmente vai fazê-lo também através da Holanda, onde se paga menos. Estes são problemas diferentes dos que ontem foram enunciados: a falta de atracção de investimento de Portugal; e a instabilidade fiscal, que muda leis como quem muda de camisa, afastando o capital.

A família Espírito Santo tem sede no Luxemburgo. Belmiro lançou a OPA à PT a partir do Holanda. O investimento estrangeiro é feito de fora. Isabel dos Santos investe na Zon a partir de Malta. Queiroz Pereira tem os activos estrangeiros separados de Portugal. António Mota desabafa há dias que pode ter de criar uma sede fora de Portugal só para que a banca lhe empreste dinheiro. E a família Soares dos Santos tem um plano que não nos contou mas que ainda nos vai surpreender - feito com bancos estrangeiros e a partir da Holanda, que é uma plataforma fiscal mais favorável à internacionalização para fora do espaço europeu, uma vez que não há dupla tributação da Holanda para e do resto do mundo.

O que custa a engolir não é que Soares dos Santos tenha cortado o passado com Portugal, esse mantém-no e continua a pagar impostos. É que tenha cortado o futuro. É que tenha decidido investir fora daqui porque aqui não tem por onde crescer, para procurar lucros fora de Portugal, criar postos de trabalho fora de Portugal e, então sim, pagar impostos desse futuro fora de Portugal. Pensando bem, esse é um grande problema e é um problema nosso. Mas investir fora do País não é traição. É apenas desistir dele. E a Jerónimo já partiu para a Polónia há muitos, muitos anos - ou ninguém reparou?"

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Boas notícias

Oxalá assim se contribua para reduzir muita da ignorância do tipo "África fica a Norte de Portugal"... 
Por mim, aprendi muita geografia com um puzzle do mapa-mundo, feito e refeito vezes sem conta.

2 - "Dominique de Villepin vai entrar na corrida presidencial francesa de 2012. É a primeira vez que concorre a eleições, depois de ter exercido altos cargos governativos no executivo sob a égide do Presidente Jacques Chirac, entre 2002 e 2007, como ministro dos Negócios Estrangeiros, ministro do Interior e, finalmente, primeiro-ministro."

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

A greve

Hoje o dia foi marcado por uma greve geral convocada pela CGTP e UGT.
A greve é um direito constitucional. 
Os cidadãos têm direito e motivos para estar descontentes com a situação do país.

Mas muitos desses cidadãos são os mesmos que exigem tudo do Estado, que lhes deve dar tudo de graça. Esquecendo que o "de graça" é pago pelos impostos de todos nós.
São muitos desses cidadãos que se vangloriam de fugir ao fisco, de arranjar esquemas, que gostam de trafulhar o Estado e cada um dos seus concidadãos.

São ainda cidadãos os que vandalizaram três repartições de finanças em Lisboa. Quem vai pagar a reparação desses actos de vandalismo? Os mesmos que se queixam do Estado lhes aumentar os impostos. Com essa destruição, evidentemente, esses vândalos reduziram a despesa do Estado e criaram riqueza (que o país precisa como de pão para a boca).

Além disto, muitos grevistas, cheios de direitos, impedem de ir trabalhar quem assim quer. Mas eles têm direitos. Quem quer ir trabalhar não tem direitos e é reaccionário e fascista.
Protestam, reclamam, insultam, destroem e dizem "se a gente não fizer nada, continua tudo na mesma". O que resolveu a greve? 
Com a greve, o país ganhou o quê? Quanto? Qual a riqueza que o país perdeu com esta greve?  Carvalho da Silva e João Proença sabem? Põem do seu bolso essa riqueza no país?
Gritam ainda que "O povo unido jamais será vencido". E se usassem essa união e força para ajudar a desenvolver o país?

Os cortes de rating de hoje não são por acaso. São o sinal do que vai acontecer se muitos continuarem a achar que o caminho para sair desta situação é paralisar o país.
Se Portugal não se ajudar, ninguém nos vem ajudar de fora.

A cidadania tem de se exercer de forma diferente.
O país somos nós.

sábado, 19 de novembro de 2011

Espanha: 20N

Amanhã Espanha vai a votos escolher o novo governo.
Depois de Zapatero ter chegado à Moncloa em 2004 na sequência dos atentados de Madrid, e da trapalhada explicativa dada pelo governo de Aznar, amanhã é a vez do PSOE deixar o governo.
Mariano Rajoy, número dois de Aznar, sobreviveu a sete anos de oposição (que contraste com Portugal, em que as lideranças se sucedem nas oposiçõe!...), e amanhã chegará a Presidente do Governo espanhol.
Curioso como, desde o carismático Felipe Gonzalez, se sucedem homens supostamente sem carisma: José Maria Aznar (pelo PP) e José Luis Zapatero (pelo PSOE). Mas cujo alegado cinzentismo não os impediu de ter governos fortes, com rumos definidos, e abandonarem o cargo como quase senadores.
Aznar, acusado de falta de carisma antes de ser chefe de governo, afirmou: "o carisma vem com o poder".

O contraste com Portugal é visível na quantidade de governos e primeiros-ministros desde a democratização. Espanha: 9 governos, 5 primeiros-ministros; Portugal: 19 governos, 14 primeiros-ministros.
Isto diz muito sobre estabilidade política, desenvolvimento, rumo e peso internacional.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Onde é que eu assino?

"Não resisto a fazer um apelo para que acabem com as conferências de imprensa da troika. Eu gosto muito de ouvir o nosso Governo, acho que faz um excelente trabalho. Gosto muito de ouvir o sr. ministro das Finanças: ele é muito mais brilhante, mais competente e tem mais sentido de humor que os senhores da troika
"Mas ter de ouvir funcionários, sei lá, de quinta ou sétima linha, não eleitos democraticamente, virem cá dizer o que temos de fazer... Por favor, poupem-me. E venha a união política. Prefiro ter uma palavra a dizer na eleição da sra. Merkel"

Há umas semanas a Comissão Europeia (se não estou em erro) disse para a troika estar calada e não comentar a situação de Portugal.
Ontem foi o que se viu, a darem entrevistas e bitaites sobre o que deve ou não ser feito.
E estarem calados, não?
Por acaso, Portugal até tem um governo eleito recentemente.

sábado, 12 de novembro de 2011

A lente do Prof. Marques Bessa

Por acaso, fui parar ao site do jornal O Diabo e encontro uma série de artigos do Prof. António Marques Bessa.
Para quem se interessa pelo que é de facto relevante, vale a pena ler o que escreve (mesmo tendo já 2 anos, a actualidade é notável).
Ao ler alguns desses textos, quase que o ouço ou vejo nas aulas de História Diplomática, ou nos jantares com alunos do ISCSP
Sempre igual a si próprio, inteligente, irónico, e olhando além da espuma dos dias.

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Será da mudança da hora?

Nos últimos dias têm vindo a público bitaites (não se podem chamar propostas ou medidas...) sobre como poupar na despesa do Estado e como angariar mais receitas.

Para poupar, estão a ser estudados horários para o encerramento antecipado das linhas de metro, da circulação de autocarros e comboios. Quem conheça um pouco (nem sequer é preciso ser doutorado na matéria) dos transportes públicos nacionais sabe que deixam muito a desejar em termos de cobertura territorial.
Para o Metro de Lisboa aventa-se a possibilidade de encerrar a partir das 23h, sendo que alguns troços encerrariam logo às 21h. Para a Carris e linhas da CP da zona de Lisboa, há disparates semelhantes.
Vai ser decretado o recolher obrigatório à noite?
Se conjugarmos este disparate com o aumento do horário laboral em 30 minutos/dia, gostava de saber como muitas pessoas irão para casa. De táxi? Saem mais cedo? Compram carro? Vai a polícia ou a ambulância levá-los a casa?
É assim que se promove o uso do transporte público na capital do país?

Sobre este bitaite, ver este post no Delito de Opinião.

Quanto a angariar receitas, a ideia peregrina é multar os consumidores que não peçam facturas. Como vão fazer isso? Um inspector fiscal a cada 10 metros? Uma câmara em cada esquina? Um alarme nas máquinas registadoras ligadas às Finanças?
Concordo que a emissão de facturas reduziria a evasão fiscal e aumentaria receitas ao Estado. Mas isso não se faz por decreto - faz-se mudando mentalidades. E muito menos se faz quando o país tem uma carga fiscal que é um confisco, e portanto aumenta a fuga.