Luís Naves, no Albergue Espanhol:
"Na primeira semana de campanha eleitoral, o Governo conseguiu martelar duas ideias fortes e impor essas duas mentiras na consciência de muitos portugueses: o PSD vai aumentar impostos quando chegar ao poder e a crise política foi a razão do aumento das taxas de juro da dívida.
É inútil argumentar. Duas mentiras duas mil vezes repetidas tornam-se verdade pura. É escusado lembrar que o líder do PSD não disse que ia aumentar os impostos e também é escusado lembrar artigos como este, onde se refere que há motivos mais fortes para os mercados não acreditarem na dívida portuguesa. As previsões sombrias do Banco de Portugal só mostram que a realidade é bem mais complexa do que nos querem fazer crer.
O Governo não cumpriu as metas do défice e o PEC IV, sendo essencial para as cumprir em 2011 (4,6% do PIB, com buraco adicional de 0,8%, ou mais de mil milhões de euros), tinha de ser negociado com a oposição. Mas José Sócrates exigia a Passos Coelho que assinasse um cheque em branco, como se o PS tivesse confortável maioria parlamentar. As medidas eram negociáveis? Não. Elas foram apresentadas em Bruxelas como facto consumado. E, no entanto, no jogo das culpas, virou-se o bico ao prego. A culpa passou para a oposição, mas apenas parte desta, o PSD. Falar em contas falhadas, isso agora até se tornou antipatriótico.
As avestruzes não fazem melhor, lá no seu mundo de fantasia.
Após seis anos de assalto ao aparelho de Estado por parte das clientelas socialistas, as elites políticas e económicas do país desejam que destas eleições resulte um PSD muito fraco coligado com um PS muito fraco. Basta ler os autores que dominam o universo de comentadores e colunistas. Eles querem um centrão com rating BBB - que garanta o conforto das mordomias. É a fórmula da não-mudança.
Neste outro artigo do Wall Street Journal, onde se faz uma radiografia da crise portuguesa, ficam claras as vantagens de sairmos destas eleições com um governo estável. "Os problemas que Portugal enfrenta parecem menos complexos" do que os irlandeses, afirma o autor. "Mas os eleitores portugueses devem ter a possibilidade de olhar para trás, para a sequência dos acontecimentos que levaram ao estado lastimável das suas finanças nacionais, decidir nas suas causas e sobre quem querem para as resolver".
Concordo. Acho que temos de olhar para o essencial, pensar pela nossa cabeça, ignorar as mentiras. Mais quatro anos de quem nos levou a este estado de coisas? Isso é manter o actual descalabro e os seus autores. Votar nos partidos de protesto? Bem, isso pode parecer lógico, mas garante o centrão dos fracos, que é uma forma de continuidade."
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