No Jornal de Negócios de hoje, Eduardo Moura analisa "Duas Alegrias Diferentes":
"Espanha chegou ao final de 2006 a crescer 3,9% reais. E mesmo assim a Oposição protesta. Portugal vai ficar-se por um terço desse crescimento. E a Oposição não protesta. Não haja dúvida que as fronteiras entre os dois países continuam fechadas.
Aqui mesmo ao lado, que é aliás o único lado que Portugal tem, a economia espanhola descobriu a fórmula do crescimento há muito tempo. O pior que aconteceu aos nossos vizinhos foi crescer 2,4% em 1997. Uma "tragédia" assim era o que todos os portugueses gostariam de viver.
Mas o problema é que olhamos para o crescimento espanhol e parece que estamos a olhar para o outro lado do mundo, para uma economia exótica e emergente separada por um oceano de diferenças e indecifrável. Espanha aproxima-se a passos largos da convergência com a média dos países da Zona Euro e Portugal porfia em distanciar-se. Espanha tem crescido a 3%, a 5%, a 4% ao ano e a sua pujança em nada arrasta a economia portuguesa. Tanta vizinhança e nenhum benefício. Como é isso possível em dois países que vivem pegados como rochas?
É claro que poderíamos enumerar uma interessante lista de diferenças que explica a assimetria entre os dois países. A escala, a proximidade com França, Itália e Marrocos, a imigração produtiva, o mercado latino-americano, a forma de governo, as autonomias como factores de concorrência? Porém, explicar o que se passa em Espanha é o que temos andado a fazer nos últimos anos, primeiro com escárnio, agora com inveja, e acabamos por não sair do estado de observação. A verdade é que a compreensão do fenómeno só nos leva à conformação.
As vozes do status quo sublinharão que a situação dos dois países não é comparável. Portugal está a batalhar por controlar o défice público e Espanha galopa em excedentes. Eis a mais perturbadora constatação. Porque introduz uma fatalidade na casa dos infelizes que lhes proíbe sequer ambicionar um ciclo de crescimento forte.
E por isso, enquanto Zapatero e Solbes se alegram com o sucesso do crescimento, com o aumento de 0,8% da produtividade num só ano, com a correcção automática de certos indicadores, por cá Sócrates e Teixeira dos Santos sorriem de orelha a orelha porque conseguem um défice aquém dos projectados 4,6%. O País suspira de gratidão e a Oposição sente-se completamente sem argumentos para criticar o Governo.
Mas não há direito! Um País não pode ter por ambição sanear as contas públicas.
Um Governo não pode alegrar-se por estar a aumentar as exportações à custa dos derivados do petróleo. Um Governo não pode silenciar o nível actual de desemprego. E não pode fechar os olhos ao fraquíssimo investimento em bens de equipamento realizado pelas empresas nacionais.
Passam agora dois anos de Governo Sócrates e deles teremos de dizer duas coisas antagónicas. Que reconciliou o País consigo mesmo em relação à capacidade de um governo tomar conta da máquina administrativa e produzir reformas. E que não conseguiu imprimir uma dinâmica de crescimento nem realizar as reformas económicas que a ela possam conduzir.
Se Sócrates entender que a segunda metade do mandato o obriga a realinhar a política e o Governo, então que ambicione pôr o País a crescer."
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