sexta-feira, 9 de março de 2007

Mensagens instantâneas

Há uma semana, Ana Sá Lopes escreveu no DN sobre a vida antes do Google. Esta semana escreve sobre as maravilhas das mensagens instantâneas. Ou melhor, do messenger, ou msn.
Cá fica o texto:
"No último fim-de-semana o meu filho instalou-me o messenger. Uma revelação. Andei anos a fugir do bicho - como de quase tudo o que possa causar dependências variadas. Alguns dos meus amigos fazem parte do clube dos "agarradinhos do messenger" e eu não queria. Durante muito tempo, expliquei-lhes que tinha mais que fazer. O que era razoavelmente mentiroso: perdi tempo noutros lugares e coisas.
Julgava que o evidente gozo da mensagem instantânea e fragmentada se resolvia bem com as sms. Mas também isso era falso: comparada com o messenger, a sms é uma operação da Idade da Pedra. É instantânea quando é: nem sempre a mensagem é entregue a horas, nem sempre o interlocutor está disponível. Perde-se o prazer do sms quando a resposta não é imediata - horas depois já estou "noutra", o instante passou, o fragmento de desejo de comunicação dissolveu-se, a minha disposição, o meu interesse e o meu chip mudaram irreversivelmente.
O encanto do messenger é que reproduz o instante e o desejo de falar é instantâneo e depois passa (muitas vezes passa).
O messenger imita o diálogo verbal fragmentário: a conversa como ela é, a conversa na esquina, as duas tretas que se dizem à beira da máquina do café (às vezes as melhores das tretas), aquilo que neste segundo eu desejo dizer a alguém, neste segundo apenas e que vai morrer no segundo seguinte se não for dito. Vai morrer porque não será mais dito e porque o desejo passa.
Ainda estou a dar os primeiros passos nisto. Já tenho o endereço do meu filho, do meu pai e dos amigos próximos que têm messenger. Comecei a convencer outros a registarem-se no coiso: tive um desejo súbito de lhes falar e, por serem excluídos da comunidade, não consegui.
Mas a experiência radicalmente nova foi ralhar no messenger. Mandei em mensagem instantânea o meu filho estudar.
- Vai estudar.
- Deixa-me ficar mais um bocado no msn.
- Não pode ser. Tens que ir já estudar.
- Mãe, não me obrigues a bloquear-te!!!!!
Bloqueei. Mas são doces ou mais doces as discussões online."

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