O Caimão é o último filme de Nanni Moretti, que regressa com esta crítica à Italiazinha, como diz uma das personagens do filme.
No PÚBLICO:
"O último filme de Nanni Moretti, uma metáfora sobre a Itália contemporânea, tornou-se num êxito de bilheteira no país, tendo estreado dias antes das eleições que afastaram do poder Berlusconi. É a história de um produtor em falência profissional e sentimental, Bruno Bonomo, que tem um passado de produtor de filmes de série Z com títulos inspiradores como "Os Mocassins Assassinos" ou "Maciste vs. Freud". Mas agora não consegue arranjar financiamento para o seu próximo projecto, "O Regresso de Cristóvão Colombo". Estrangulado pelas dívidas e fraquezas, com o casamento em risco e os filhos perdidos, Bruno perde o norte. É aí que o seu caminho se cruza com o de uma jovem realizadora que lhe entrega um guião, "O Caimão". A princípio Bruno pensa que é um "thriller" musculado, mas apercebe-se numa segunda leitura mais atenta - se bem que um pouco tardia - que se trata de um filme sobre o Presidente Silvio Berlusconi. Bruno já não pode recuar e vê-se obrigado a cumprir o planeado, encontrar o actor principal, enquanto tenta recolar as peças da sua vida conjugal. No entanto, em todo este novelo de erros e dificuldades, começa a nascer um novo entusiasmo em Bruno Bonomo: o da afirmação da sua dignidade. Este homem para quem tudo estava acabado encontra em si a energia para levar até ao fim um projecto que começou por acaso, mas que também ele acredita agora necessário tornar realidade."
O elenco conta com Silvio Orlando, Margherita Buy, Jasmine Trinca, Michele Placido, Giuliano Montaldo, Antonio Luigi Grimaldi, Paolo Sorrentino e Elio De Capitani. E o próprio Moreti, mais no fim.
A certa altura, uma personagem diz qualquer coisa como: "Mas que necessidade há de fazer um filme sobre Berlusconi? Tudo o que há a saber sobre Berlusconi sabe-se. Quem quer saber sabe, quem não quer saber não sabe".
Um filme dentro do filme. O retrato de um projecto político com um único objectivo: defender-se da lei, alterando-a por medida.
Deliciosas as cenas do tribunal: como a personagem Berlusconi-Nanni Moretti enfrenta o julgamento. Ele, por ter sido eleito pelo povo italiano, considera-se acima da lei.
Leva 4 estrelas.
Tem momentos magníficos. Como quando estão a preparar os cenários em que irá ser filmado O Caimão: a música claramente árabe, aliada à coreografia dos pintores... Delicioso!
E, após a consumação do divórcio de Bruno Bonomo, o despique automóvel entre o ex-casal, com a notável música de Damien Rice "Blowers Daugther" (que se ouve quase na totalidade).
Antes de “O Caimão” é exibida a curta-metragem “História Trágica com Final Feliz”. Banda desenhada, a preto e branco, apenas a lápis. Graficamente muito agradável. Uma menina cujo coração bate mais rapidamente que aos outros humanos. E cujo batimento incomoda a vizinhança, porque bate alto. Como os pássaros.
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