domingo, 17 de fevereiro de 2008

Kosovo - um disparate internacional

A política tem destas coisas sem sentido.
A declaração unilateral de independência da província sérvia de maioria albanesa – Kosovo – é o mais recente passo de um processo que teve o seu início no fim dos anos 90.


Recordando…
- Junho de 1989: Slobodan Milosevic, presidente jugoslavo, avisa que Belgrado nunca prescindirá do controlo sobre o Kosovo. A autonomia da província na federação jugoslava é restringida;
- Julho de 1990: deputados de etnia albanesa declaram a independência da província, levando Belgrado a dissolver o parlamento regional;
- Março de 1998: a guerrilha albanesa do Exercito de Libertação do Kosovo (UÇK) intensifica acções e é reprimida pelo exército jugoslavo. A NATO inicia bombardeamentos contra a Sérvia.
- Junho de 1998: Milosevic retira do Kosovo. 45 mil soldados da NATO são enviados para a província. Temendo retaliações, dezenas de milhares de civis sérvios abandonam o Kosovo;
- Novembro de 2001: Ibrahim Rugova é eleito presidente nas primeiras eleições gerais realizadas na província sob administração da ONU, boicotadas pela minoria sérvia;
- Outubro de 2005: o Conselho de Segurança concorda em dar início às discussões sobre o estatuto final da província, sob a mediação do antigo presidente finlandês Martti Ahtisaari;
- Abril de 2007: Ahtisaari apresenta a sua proposta para o estatuto final do Kosovo, que prevê uma independência quase total, sob supervisão da EU;
- Junho de 2007: na cimeira do G8, a Rússia deixa claro que vetará a resolução que segue as propostas de Ahtisaari. Já George W. Bush diz que “chegou o momento” da independência;
- Janeiro de 2008: o antigo comandante da guerrilha Hashim Thaci é eleito primeiro-ministro e promete declarar a independência da província “dentro de semanas”.
(histórico condensado do Público).

Ou seja, lentamente a comunidade internacional foi dando gás a um disparate político, e agora só lhe resta aceitar a sua consumação.
A Sérvia (e antes a Jugoslávia) tentou controlar sonhos independentistas de uma região do seu território, do seu berço. (Imaginem Guimarães a pedir a independência…) A comunidade internacional bombardeia Belgrado por defender o seu território, e cria um protectorado internacional. E vai criando estatutos especiais… Hoje o Kosovo declara a independência. E assim tem fim o processo de implosão da Jugoslávia.
Agora…
Temos de lidar com aquilo a que Cavaco Silva chamou “efeito de contágio”. A UE não se entende sobre a posição a tomar, até porque tem esse risco dentro de portas, nomeadamente a Catalunha, o País Basco, ou a república turca do norte do Chipre. Mas, mesmo assim, países como a França, Alemanha, Itália e Reino Unido não se coibiram de, ao lado dos EUA, fazerem pressão no sentido da “independência vigiada” proposta por Ahtisaari.
A Rússia, tradicional aliada da Sérvia, também se confronta com problemas separatistas, pelo que se opõe à declaração de independência do Kosovo.

Para além destas questões, há outra que se impõe: será o Kosovo um país e um Estado viável?
O seu território é de 10.908 km² (23 vezes mais pequeno que Portugal).
Por mera curiosidade… em Portugal, só a ilha da Madeira tem 740,7 km², e a região do Alentejo tem 31 152 km²…
A população do Kosovo é de 1,8 milhões (58% rural). O desemprego oficial é de 57,1% (mas algumas fontes admitem que chega aos 75%). O salário médio é de 200€, sendo que o custo de vida médio mensal é de 350€.

Tem futuro? Não!
A não ser que viva à custa de ajudas internacionais. Leia-se União Europeia, porque mais ninguém paga nada neste mundo...

(Dossier no PÚBLICO)

A propósito, ler O excesso de História nos Balcãs, no Corta-Fitas.

2 comentários:

Cris disse...

Nunca prestei grande atenção a este conflito, mas gostei da forma como expuseste a questão neste post. Teria de aprofundar mais a minha pesquisa para te dizer se concordo ou não contigo, mas o teu post foi um bom ponto de partida para conhecer melhor o assunto e dar a minha opinião.
É isto que gosto no teu blog. Saio sempre um pouco mais esclarecida e com vontade de aprender mais.
Bjocas doces!

GONIO disse...

Eu le~mbro-me de o Prof. Fontoura ter falado disto nas aulas de Politica Internacional, há uns 10 anos, e não perceber o que estava em causa. Agora, lendo as noticias, percebi o disparate que se está ali a fazer.
Aguardo para ver os Kosovos que vão nascer um pouco por todo o lado nos proximos anos...