domingo, 18 de janeiro de 2009

O Estranho Caso de Benjamin Button


Adaptado de um romance de F. Scott Fitzgerald, ficará como um dos grandes filmes de 2009.


“O filme conta a história de Benjamin e da sua "viagem" fora do comum, das pessoas e lugares que descobre ao longo do seu caminho, dos seus amores, das alegrias da vida e da tristeza da morte, e daquilo que dura para além do tempo.” (SAPO)


Diria que é quase um filme conceptual, na medida em que nos remete para uma série de conceitos que, necessariamente, estão ligados à Vida.

Tendo como pano de fundo a temporalidade, este “estranho caso” põe-nos a debater o significado de envelhecer, de rejuvenescer, da vida, da morte, de amar, das condições que impomos para amar e ser amados… e o que cada um destes conceitos e realidades representa para cada indivíduo.


Benjamin Button – magistralmente interpretado por Brad Pitt – nasce em 1918 com o aspecto de um velho de 80 anos de idade. É muito interessante acompanhar o choque entre a sua idade temporal, a sua idade psicológica e a sua idade social. E ver como é tratado, desse ponto de vista, pelos pais. Curiosa também a forma como ele, velho, entra em contacto com a bela Daisy dos olhos azuis – também magnificamente interpretada por Cate Blanchett – e a relação que se estabelece entre eles, atendendo à brutal diferença física que os separa.

A certa altura, num reencontro entre Benjamin Button e Daisy, esta diz que ele está com óptimo aspecto. E ele responde que é só por fora.

Muito interessante também o que poderia chamar de passagem invertida do tempo, como se em sentidos opostos de uma auto-estrada. Enquanto Benjamin vai ficando cada vez mais jovem, os que o rodeiam vão envelhecendo. O tempo mantém o seu sentido, no entanto, ele parece acompanhá-lo em sentido contrário. Seria quase como ir num comboio chamado tempo, no qual todos vão no mesmo sentido, mas alguém no seu interior vai a correr no sentido inverso. Sem, no entanto, deixar de seguir no mesmo sentido.

Na medida em que as idades correm inversamente, haverá um ponto de se irão cruzar... É o que acontece entre Benjamin, já com apenas 49 anos, e Daisy com 43. Que sentido dar a essa intersecção? Quando reparam nessa proximidade, ele quer fixar esse momento na memória, enquanto olha para ambos ao espelho da sala de ballet...

Essa passagem invertida do tempo, no início do filme, põe em evidência a perda dos seus semelhantes. Estão todos num lar de terceira idade, e os idosos vão morrendo. Excepto ele, que está cada dia mais jovem. E, neste particular, alguém diz que o melhor é todos irem no mesmo sentido, e assim não sentir tanto a perda dos seus semelhantes.


Esta história pode também ser vista como uma alegoria, como a sempre renovada capacidade de começar de novo, de mudar, de fugir às circunstâncias do Tempo, de conseguir ser outro sendo intrinsecamente o mesmo. Como canta Chico Buarque, "começar de novo/vai valer a pena.."


Ao nível dos cenários e da fotografia, o filme está muito bem conseguido. Só um reparo: no início, algures na década de 30, brancos e negros partilharem igualmente um transporte público... Pelo que conheço de História, a realidade não eram bem essa…


É difícil descrever um filme destes.

Provavelmente a rever.


Site oficial aqui.



O texto de Seinfield que nos vem à memória ao ver o rumo da história:


"A coisa mais injusta na vida é a maneira como ela acaba.
A nossa existência deveria justamente começar pela morte.
Os primeiros anos seriam passados num lar de terceira idade, até sermos expulsos por sermos novos de mais.
Alguém nos oferecia um relógio de ouro e um Ferrari e íamos trabalhar durante quarenta anos, até sermos suficientemente novos para nos reformarmos.
Aí desatávamos a experimentar drogas leves, álcool e muito sexo até ficarmos miúdos.
Nessa altura, poderíamos começar a brincar todo o dia e a gozar o facto de não termos qualquer responsabilidade.
Finalmente, chegados a bebés, voltávamos para o conforto da barriga da mãe, gozávamos um magnífico banho de imersão durante nove meses e acabávamos com um orgasmo..."

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