segunda-feira, 25 de abril de 2011

25 de Abril: 37 anos, 4 presidentes



Mais um aniversário do 25 de Abril.
Com a crise, a comemoração foi diferente. Com a Assembleia da República dissolvida, a cerimónia decorreu no Palácio de Belém. E o actual inquilino, Cavaco Silva, convidou os antecessores no cargo, transmitindo uma mensagem de unidade. 
E todos os discursos foram nesse sentido: unidade, entendimento, responsabilidade, verdade.
Do que ouvi dos discursos de Ramalho Eanes, de Mário Soares e de Jorge Sampaio, foi este que teve o melhor discurso. Um discurso claro - sem ser em sampaiês - que mostra caminhos. Sem lamúrias (palavra tão cara para ele), e olhando em frente.
Até me pareceu melhor discurso que o de Cavaco Silva.

Realço esta passagem da intervenção de Jorge Sampaio:

"A experiência que temos diz-nos ainda que a coragem a pôr na superação das dificuldades ganha afirmação e nitidez quando nos projectamos num horizonte mais largo evitando ficarmos confinados aos limites de um tempo curto. Temos de olhar em frente com desassombro e determinação. Olhar em frente, não para não vermos as dificuldades, mas para equacionar a sua solução numa perspectiva de sustentabilidade e de durabilidade. Por muito urgente que seja - e é! - resolver os problemas imediatos e prementes, não nos podemos deixar esgotar neles, porque isso nos diminui a capacidade de actuação. Um das razões por que chegámos à situação em que estamos foi a falta de sustentabilidade e a ausência de uma visão de longo prazo com que muitas vezes se decidiu e escolheu, comprometendo o futuro.

Sabemo-lo todos: Portugal enfrenta graves dificuldades e não vai ser fácil ultrapassá-las. Encarar a situação de frente é indispensável para conseguirmos fazer o que tem de ser feito. Contudo, mais grave do que os nossos problemas actuais é a sua longa persistência. E é a sua repetição cíclica, fazendo disso uma constante histórica. É o seu arrastamento e a sua degeneração em problemas cada vez mais graves. Reconhecer isto é a primeira condição de uma análise eficaz e de um agir consequente.

Este é o tempo de mudarmos todos radicalmente de atitude. Há que iniciar uma nova fase da nossa relação com o país, com a Europa e com o mundo. Necessitamos de mais perspectiva e de menos miragem, de mais exigência e de menos facilitismo, de mais rigor e de menos desperdício, de mais vontade e de menos voluntarismo. Precisamos de quebrar o ciclo vicioso de bipolaridade em que, depois de sermos os maiores, passamos a ser os piores, após o que voltamos a ser os maiores outra vez. Como ensinou Eduardo Lourenço, temos, colectivamente, de ajustar melhor o que somos com o que pensamos ser; a realidade com a nossa imagem dela."

E mais adiante:

"Fernando Pessoa escreveu um dia: “Uma nação que habitualmente pense mal de si mesma acabará por merecer o conceito de si que anteformou. Envenena-se mentalmente. O primeiro passo para uma regeneração, económica ou outra, de Portugal é criarmos um estado de espírito de confiança — mais, de certeza — nessa regeneração”."

Todos os discursos estão disponíveis no site da Presidência:

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