Depois de ler que os habitantes da ilha de Lesbos processam lésbicas gregas e o artigo do Leonídeo Paulo Ferreira... vale a pena ler as conclusões de um recente Inquérito Saúde e Sexualidade (2007), do ICS - Universidade de Lisboa
"Cerca de 70 por cento dos portugueses consideram erradas as relações sexuais entre dois adultos do mesmo sexo; mesmo nas idades mais jovens, os números da desaprovação nunca descem abaixo dos 53 por cento. "Portugal ainda é um país homofóbico", comenta Sofia Aboim, uma das autoras do Inquérito Saúde e Sexualidade (2007), do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, que é apresentado na terça-feira e faz um retrato da sexualidade na população portuguesa.
"As mentalidades não estão ainda muito abertas à aceitação da homossexualidade", sublinha a socióloga, referindo que os números que atestam o repúdio a este tipo de relações são "globalmente altos". Na escala apresentada aos inquiridos eram-lhes dadas várias opções: se achavam as relações entre pessoas do mesmo sexo totalmente erradas, a maior parte das vezes erradas, algumas vezes erradas ou raramente erradas. A maioria da população respondeu com a opção mais categórica. O estudo assenta em 3643 entrevistas feitas a indivíduos dos 16 aos 65 anos, numa amostra representativa da população de Portugal continental.
Os homens são mais críticos no que toca às relações homossexuais do seu sexo: 58,9 por cento consideram-nas totalmente erradas; em relação às mulheres, a desaprovação desce para 53,9 por cento. Sofia Aboim atribui estes dados a "uma masculinidade tradicional e homofóbica em Portugal" - "as lésbicas são vistas como muito mais inócuas em termos de masculinidade". Nas mulheres existe, apesar de tudo, mais igualdade na avaliação: quer sejam relações homossexuais entre homens ou mulheres, a desaprovação, no seu máximo, é quase a mesma - cerca de 40 por cento consideram-nas totalmente erradas. Em relação às idades, "há uma linha geracional importante" - quanto mais jovem se é, menos se desaprova a prática -, "mas mesmo nos mais jovens os valores são altos".
No seu todo, a desaprovação nunca desce abaixo dos 53 por cento, que é a percentagem dos que, entre os 18 a 24 anos, julga que a homossexualidade é errada. Tal como nos mais velhos, nesta faixa etária a desaprovação atinge o seu máximo nos homens a julgar as relações entre homens do mesmo sexo - um valor que chega aos 68 por cento.
"Estava à espera de algum conservadorismo, mas esperava valores mais baixos nas gerações mais novas", diz a investigadora, acrescentando que num inquérito semelhante em França se constatou que 80 por cento dos jovens franceses aceita as relações entre pessoas do mesmo sexo.
O mito dos dez por cento
Sofia Aboim considera que "este conservadorismo" em relação à homossexualidade pode ter reflexos nos portugueses que se colocam nessa categoria: só 0,7 por cento, um número muito longe "do mito dos dez por cento de homossexuais", muito usado por associações de defesa dos direitos gay. O número encontrado no inquérito português está dentro do que é comum noutros estudos internacionais, acrescenta.
Mas há outros dados do inquérito - coordenado pelos sociólogos Manuel Villaverde Cabral e Pedro Moura Ferreira, a pedido da Coordenação Nacional para a Infecção do VIH/sida - que colocam o número dos que têm contactos homossexuais acima dos que se definem como tal. São cinco por cento os que dizem ter tido contactos com pessoas do mesmo sexo sem envolver a área genital (beijos, toques, abraços) e 3,2 por cento os que dizem ter tido relações sexuais com alguém do mesmo sexo. "Há uma declaração mais fácil da prática do que o assumir de uma identidade."
Curioso foi constatar que são mais os que assumem que "oscilam ao longo da vida". Há mais portugueses a assumiram-se como bissexuais do que como homossexuais."
Quando "a prática sexual se resume à prática vaginal", está mais associada à reprodução. A introdução de diversidade na vida sexual dos portugueses denota um distanciamento em relação à reprodução e uma associação à sexualidade ligada ao prazer, constata o investigador. Os números revelam que o sexo oral se vem normalizando mas, ainda assim, existem grandes diferenças consoante a idade. No caso dos homens, 61,1 por cento dos que estão entre os 55 e os 65 anos nunca fez sexo oral à parceira, um número que desce para 27,5 por cento nos jovens dos 15 aos 24 anos. Esta mesma diferença é perceptível nas mulheres mais velhas: 75,6 por cento dizem nunca ter feito sexo oral ao parceiro, descendo este valor para 34,5 por cento nas raparigas mais jovens.
Nas práticas sexuais verificou-se que a religião tem o seu peso, mas só quando a prática religiosa é mais intensa (mais do que uma vez por semana) - neste caso, verifica-se que a actividade sexual é mais comedida. Por exemplo, as mulheres que têm práticas religiosas mais frequentes tendem a ter sexo menos vezes, práticas menos diversas e menos parceiros ao longo da vida. Olhando para o sexo oral, 63,6 por cento das mulheres com prática religiosa mais intensa nunca o praticou, mais do dobro das mulheres sem qualquer prática religiosa. "Quem não é religioso tende a ter mais propensão para o sexo." Quando se tem práticas religiosas mais frequentes, sobrepõe-se a ideia de "um controlo da religiosidade sobre o corpo", refere Pedro Moura Ferreira. O que se verifica também é que não são necessariamente os mais novos (dos 18 aos 24 anos) os que mais experimentam - os que têm entre 25 e 34 anos têm mais tendência para diversificar a sua prática sexual, incluindo tanto o sexo anal como o oral."
"Cerca de 70 por cento dos portugueses consideram erradas as relações sexuais entre dois adultos do mesmo sexo; mesmo nas idades mais jovens, os números da desaprovação nunca descem abaixo dos 53 por cento. "Portugal ainda é um país homofóbico", comenta Sofia Aboim, uma das autoras do Inquérito Saúde e Sexualidade (2007), do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, que é apresentado na terça-feira e faz um retrato da sexualidade na população portuguesa.
"As mentalidades não estão ainda muito abertas à aceitação da homossexualidade", sublinha a socióloga, referindo que os números que atestam o repúdio a este tipo de relações são "globalmente altos". Na escala apresentada aos inquiridos eram-lhes dadas várias opções: se achavam as relações entre pessoas do mesmo sexo totalmente erradas, a maior parte das vezes erradas, algumas vezes erradas ou raramente erradas. A maioria da população respondeu com a opção mais categórica. O estudo assenta em 3643 entrevistas feitas a indivíduos dos 16 aos 65 anos, numa amostra representativa da população de Portugal continental.
Os homens são mais críticos no que toca às relações homossexuais do seu sexo: 58,9 por cento consideram-nas totalmente erradas; em relação às mulheres, a desaprovação desce para 53,9 por cento. Sofia Aboim atribui estes dados a "uma masculinidade tradicional e homofóbica em Portugal" - "as lésbicas são vistas como muito mais inócuas em termos de masculinidade". Nas mulheres existe, apesar de tudo, mais igualdade na avaliação: quer sejam relações homossexuais entre homens ou mulheres, a desaprovação, no seu máximo, é quase a mesma - cerca de 40 por cento consideram-nas totalmente erradas. Em relação às idades, "há uma linha geracional importante" - quanto mais jovem se é, menos se desaprova a prática -, "mas mesmo nos mais jovens os valores são altos".
No seu todo, a desaprovação nunca desce abaixo dos 53 por cento, que é a percentagem dos que, entre os 18 a 24 anos, julga que a homossexualidade é errada. Tal como nos mais velhos, nesta faixa etária a desaprovação atinge o seu máximo nos homens a julgar as relações entre homens do mesmo sexo - um valor que chega aos 68 por cento.
"Estava à espera de algum conservadorismo, mas esperava valores mais baixos nas gerações mais novas", diz a investigadora, acrescentando que num inquérito semelhante em França se constatou que 80 por cento dos jovens franceses aceita as relações entre pessoas do mesmo sexo.
O mito dos dez por cento
Sofia Aboim considera que "este conservadorismo" em relação à homossexualidade pode ter reflexos nos portugueses que se colocam nessa categoria: só 0,7 por cento, um número muito longe "do mito dos dez por cento de homossexuais", muito usado por associações de defesa dos direitos gay. O número encontrado no inquérito português está dentro do que é comum noutros estudos internacionais, acrescenta.
Mas há outros dados do inquérito - coordenado pelos sociólogos Manuel Villaverde Cabral e Pedro Moura Ferreira, a pedido da Coordenação Nacional para a Infecção do VIH/sida - que colocam o número dos que têm contactos homossexuais acima dos que se definem como tal. São cinco por cento os que dizem ter tido contactos com pessoas do mesmo sexo sem envolver a área genital (beijos, toques, abraços) e 3,2 por cento os que dizem ter tido relações sexuais com alguém do mesmo sexo. "Há uma declaração mais fácil da prática do que o assumir de uma identidade."
Curioso foi constatar que são mais os que assumem que "oscilam ao longo da vida". Há mais portugueses a assumiram-se como bissexuais do que como homossexuais."
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"Enquanto a prática do sexo oral se tem vindo a normalizar na vida sexual dos portugueses, a prática do sexo anal continua a ser alvo de "muita rejeição", afirma o investigador Pedro Moura Ferreira. O Inquérito Saúde e Sexualidade revela que 62,8 por cento nunca teve relações anais.Quando "a prática sexual se resume à prática vaginal", está mais associada à reprodução. A introdução de diversidade na vida sexual dos portugueses denota um distanciamento em relação à reprodução e uma associação à sexualidade ligada ao prazer, constata o investigador. Os números revelam que o sexo oral se vem normalizando mas, ainda assim, existem grandes diferenças consoante a idade. No caso dos homens, 61,1 por cento dos que estão entre os 55 e os 65 anos nunca fez sexo oral à parceira, um número que desce para 27,5 por cento nos jovens dos 15 aos 24 anos. Esta mesma diferença é perceptível nas mulheres mais velhas: 75,6 por cento dizem nunca ter feito sexo oral ao parceiro, descendo este valor para 34,5 por cento nas raparigas mais jovens.
Nas práticas sexuais verificou-se que a religião tem o seu peso, mas só quando a prática religiosa é mais intensa (mais do que uma vez por semana) - neste caso, verifica-se que a actividade sexual é mais comedida. Por exemplo, as mulheres que têm práticas religiosas mais frequentes tendem a ter sexo menos vezes, práticas menos diversas e menos parceiros ao longo da vida. Olhando para o sexo oral, 63,6 por cento das mulheres com prática religiosa mais intensa nunca o praticou, mais do dobro das mulheres sem qualquer prática religiosa. "Quem não é religioso tende a ter mais propensão para o sexo." Quando se tem práticas religiosas mais frequentes, sobrepõe-se a ideia de "um controlo da religiosidade sobre o corpo", refere Pedro Moura Ferreira. O que se verifica também é que não são necessariamente os mais novos (dos 18 aos 24 anos) os que mais experimentam - os que têm entre 25 e 34 anos têm mais tendência para diversificar a sua prática sexual, incluindo tanto o sexo anal como o oral."
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