terça-feira, 10 de junho de 2008

A propósito de paralisações

As consequências da paralisação dos camionistas já se começam a fazer sentir um pouco por todo o país: falta de combustíveis em muitos postos de abastecimento, ruptura de stocks em vários espaços comerciais, prejuízos em indústrias cujos produtos têm de ser escoados quase de imediato (por exemplo, aves), falta de combustíveis para os aviões na Portela…

Tirando a gravidade de uma morte (ainda mal explicada) e as agressões que os piquetes têm perpetrado contra quem não quer fazer greve (encher a boca com “liberdade” e “direitos” sabem todos…), só agora o país começa a perceber que a situação não se pode manter por muito tempo. Ainda durante o dia de hoje falavam em cercar Lisboa e Porto, mas parece que a ideia foi abandonada.

Ainda há alguns dias, a propósito das negociações para revisão do código do trabalho, alguém comentava no PÚBLICO que se Portugal fosse como a França, onde fazem greves semanas seguidas para alcançar o que querem, talvez o país mudasse alguma coisa.

Esta greve dos camionistas não é seguramente feita em nome do altruísmo, tal como poucas o são. Mas admito que só uma classe com a força dos camionistas pode forçar algumas mudanças na loucura que é o preço dos combustíveis. E com isto não estou a dizer que o governo tem de ceder e dar ajudas à indústria camionista ou descer os impostos sobre produtos petrolíferos.

O que, na minha opinião deve ser feito pelo governo, é, através dos organismos de regulação do mercado, acabar com as falsas liberalizações que se deram em Portugal. Em todos os sectores que houve liberalizações, em nome do consumidor e do seu benefício, estes mesmos consumidores passaram a pagar mais. E o sector dos combustíveis não é excepção.

Bastou seguir com alguma atenção a evolução do preço dos combustíveis e do petróleo nas últimas semanas. Enquanto o preço do barril do petróleo subia, quase diariamente o combustível subia (de início avisando antecipadamente o consumidor, no fim já nem isso). Quando o barril de petróleo começou a descer, as descidas do combustível não existiram (aquelas descidas de um cêntimo e de meio cêntimo da Galp nem merecem comentário!). E foi a hora de o presidente da Galp se refugiar numa novidade: o preço do combustível estava dependente, não exclusivamente do preço do barril, mas de uns mercados próprios (julgo que lhes chamou “das matérias brancas”, ou qualquer coisa parecida) que não tinham descido, e como tal não era possível descer o preço dos combustíveis. Fantástico! As descobertas que se fazem quando se quer manter os níveis de lucros faraónicos!

Assim sendo, eu que normalmente sou contra greves, acho muito bem que os camionistas bloqueiem o país. Será uma das “revoltas sociais” de que falam os comentadores há algumas semanas, provocadas pelo aumento dos preços das matérias-primas e dos alimentos.

Não é possível continuar a viver com preços acima da média dos países mais ricos da UE enquanto os salários são bem mais baixos que os desses países. Alguma coisa está mal neste sistema! Nomeadamente os lucros de muitas empresas ano após ano, enquanto o país e os cidadãos estão exangues.

Serão certamente dramáticas, mas são as revoltas, revoluções e guerras por que passaram alguns países ao longo da História que lhes permitiu serem desenvolvidos. Quando levadas ao fim, não pseudo-revoluções como as que marcaram Portugal, em que a estrutura dominante se manteve regime após regime.

4 comentários:

Cris disse...

Belíssimo post!
Há lucros que me custam engolir, porque existem à conta do estrangulamento do povo português. É o caso da Galp e outras empresas do género e dos bancos. Sabem que as pessoas não podem pagar, mas continuam a aumentar os custos, indiferentes ao aumento da pobreza entre aqueles que, afinal, são o seu próprio sustento. Não deviam ser só os camionistas a fazer greve, devíamos ser todos. Infelizmente a maior parte das pessoas refila mas não faz nada. Uns porque não podem, outros porque não querem. E assim nada muda.

A Vilhena disse...

E ainda há quem ande a pedir a demissão do Governo.

Não passa pela cabeça de ninguém contestar o que já não existe ou pedir a demissão de quem já se demitiu.

Neste 10 de Junho, Portugal vestiu-se de república de bananas, com autoridades da faz de conta, patrões camionistas mascarados de proletários motoristas, energúmenos transformados em vedetas de televisão.

E o Governo? E o Primeiro Ministro?
Onde param?

Simplesmente... não estão. Ainda aparecem na televisão. Ainda dizem coisas. Ainda parecem convencidos de que têm algum poder.

Não têm. Não mandam nada. Porque fugiram... mesmo estando cá.

Hoje, o Poder estava nas mãos daqueles camionistas travestidos de grevistas. Que fazem greves sem aviso prévio, cortam estradas sem dar cavaco a ninguém, e ainda se gabam, sorridentes e felizes, de não deixar passar nenhum camião!!!

Se são eles que mandam... são eles o Governo.

Pobres de nós.

RH disse...

O Presidente da Associação Nacional de Revendedores de Combustíveis recomenda a compra de uma bicicleta.

http://diario.iol.pt/economia/combustiveis-filas-portugal-postos-anarec/961393-4\
058.html

Saiba como utilizar a bicicleta na cidade:

http://bicicletanacidade.blogspot.com/

http://100diasdebicicletaemlisboa.blogspot.com/

Cris disse...

Acabei de ler no Público que a ANTRAM e o Governo chegaram a acordo. Por desconhecimento meu, pensava que eles exigiam a diminuição do preço do combustível. Parece que me enganei. Pelo vistos, exigiam medidas de apoio ao sector para compensar o aumento dos combustíveis. E conseguiram. Ficaram eles a ganhar e ficamos nós a arder porque continuamos a pagar o mesmo pelo combustível, sem termos qualquer medida de apoio para nós.
Bem.. culpados somos nós. Se queremos ganhar as "guerras" não podemos esperar que lutem por nós. Mas também não vejo mais ninguém a mexer-se... ou então mexem-se muito pouco.