segunda-feira, 25 de novembro de 2013

E agora?

O pedido de fiscalização sucessiva tinha sido feito por vários deputados do PS (entre os quais António José Seguro), do PCP, do PEV e do BE.

Tendo em conta o discurso de individualidades destes grupos parlamentares, impõe-se uma questão: quando é que eles se demitem dos respectivos cargos?


quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Medo!

Ouço Mário Soares numa conferência de nome "Encontro Patriótico"; ouço Carlos do Carmo; vejo as palmas...
Pergunto-me: que alternativa têm?
Em traços gerais, Soares incita à violência e pede a demissão do actual Presidente; Carmo deixa implícito que Cavaco é igual a Salazar...
O que diria Soares se, quando ele era PR, um ex-PR dissesse um quarto do que ele diz agora sobre Cavaco?

É claro que estamos numa situação difícil; é claro que o Governo tem sido descuidado na gestão de muitos dossiers; é claro que todos queremos estar melhor. Mas gostava de saber de alguém que apresentasse um conjunto de alternativas credíveis e responsáveis e que nos fizessem sair da situação actual. Mandar a troika embora e não pagar a dívida não é solução. E só nos deixaria numa situação muito pior.
Com a troika perdemos rendimento de forma mais ou menos controlada. Perdemos 10%?
Sem troika, perderíamos 30-40% de forma descontrolada e mais violenta.
Escolham o caminho que querem. Eu prefiro o mal menor.

Começo a ter medo de amanhãs que cantam.
O Prof. Adriano Moreira, em sábias palavras, já disse que o improvável está à espera de uma oportunidade. 

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Alguém lhe explica?

Só pode ser analfabetismo funcional.
Toda a gente com espírito responsável percebe a diferença entre "2º resgate" e "programa cautelar". O primeiro afunda-nos de vez; o segundo é o começo da saída desta situação.


O secretário-geral do PS exigiu hoje que o primeiro-ministro venha a público «urgentemente» esclarecer se Portugal vai ou não ter um segundo programa de assistência financeira. 
«O primeiro-ministro tem que vir prestar contas aos portugueses, tem que vir esclarecer, de uma vez por todas, se está ou não a preparar um novo programa de ajuda externa a Portugal», referiu, reagindo a declarações do ministro da Economia, Pires de Lima, em Londres. 
«Ainda temos algum trabalho pela frente, algum progresso que tem de ser alcançado. Mas o nosso objetivo é começar a negociar um programa cautelar nos primeiros meses de 2014», afirmou António Pires de Lima, em entrevista à agência Reuters em Londres. 
Para António José Seguro, Portugal «não pode continuar nesta incerteza, com o primeiro-ministro a dizer uma coisa, os senhores ministros a dizerem outra» e, por isso, considerou que o primeiro-ministro «tem de vir esclarecer rapidamente e urgentemente o que é que o governo está a fazer» e as razões, caso se confirme, pelas quais o está a agir desta forma. 
«Queremos saber, no caso de estar a ser preparado, o que é que está por detrás, que condições estão a ser negociadas porque esta negociação não se pode fazer nas costas dos portugueses», insistiu.
Segundo o líder socialista «o que é necessário, neste momento e de uma forma muito clara, é que o primeiro-ministro venha esclarecer os portugueses, venha prestar contas ao país e venha, de uma vez por todas, dizer: é necessário ou não é necessário um segundo programa de ajuda externa». 
Recordou que no último debate quinzenal na Assembleia da República, realizado a 4 de outubro, «o primeiro-ministro disse que não era necessário e, agora, temos um ministro a dizer que está a ser preparado?», questionou. 
«Nós não podemos viver nesta instabilidade, nesta irresponsabilidade e nesta incompetência porque estamos a tratar da vida dos portugueses o primeiro-ministro precisa urgentemente vir esclarecer os portugueses», considerou. 
«Ainda não foi discutido o Orçamento de 2014, entretanto já está um retificativo para o Orçamento de 2013, é uma autentica trapalhada sobretudo uma enorme irresponsabilidade e incompetência por parte deste Governo», concluiu.

domingo, 20 de outubro de 2013

A palavra a Krus Abecassis

"Quando um país é tolo é fatalmente pobre."

"Um povo só é povo a partir do momento em que arregaça as mangas e começa a trabalhar."

domingo, 13 de outubro de 2013

Coisas da CGTP

O objectivo da CGTP é fazer uma manifestação de protesto (como sempre), ou atravessar a Ponte 25 de Abril?
Se é para mais uma manifestação, podem fazê-la noutro sítio qualquer em que não haja problemas de segurança (e quem percebe de segurança são os organismos competentes, não um sindicato). 
Se é para atravessar a ponte a pé, esperem pelo último fim-de-semana de Março e participem na maratona.

Claro que um dos objectivos da CGTP é atirar à cara do governo que são "fascistas" e "intolerantes", e que não deixam o "povo" manifestar o seu descontentamento. Ou seja, atiçar a conflitualidade e o mal-estar social.
Se efectivamente a manifestação ocorrer na Ponte 25 de Abril, e houver problemas de segurança, adivinhem de quem será a culpa. Do governo, claro.
Se podiam fazer a manifestação noutro sítio qualquer? Podiam, mas não era a mesma coisa.

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

O País Pergunta

Este novo programa da RTP, em que o Primeiro-ministro se sujeitou às perguntas de 20 cidadãos, é interessante. Mas precisa de alguns retoques, quanto a mim.

Aspectos positivos:

- o "entrevistado" estar perante as questões dos cidadãos sem qualquer tipo de filtro, sem saber que questões lhe poderão ser colocadas. Para os que acham que os políticos ensaiam tudo...

- a proximidade que se estabelece entre os cidadãos e o "entrevistado". Passos Coelho fez bem em tratar as pessoas pelo nome quando respondia. Isto, num país de doutores e engenheiros, deve ter incomodado outros tantos...

- o à-vontade com que o Primeiro-ministro se apresentou.

- surgirem perguntas com pormenores que nunca são colocadas a quem lidera as nossas instituições.

- numa sociedade como a nossa, que infelizmente está cada vez mais virulenta, intolerante e sem respeito, as perguntas serem feitas com notável bonomia. (Se pensarmos que muita gente acha que o criminoso é este Governo e não o caminho que nos trouxe até aqui, não deixa de ser significativo o ambiente que prevaleceu no estúdio).

- ser um formato televisivo testado e normal noutros países ditos mais avançados e democráticos. E nessa medida o resultado poder ser comparado com o que acontece por lá.

Aspectos negativos:

- o programa, de 90 minutos, ser um bloco único. Deveria ter um ou dois intervalos. Como está é cansativo para o público, para o "entrevistado" e para o jornalista.

- ser exagerada a quantidade de questões colocadas: 20. Poderiam ser apenas 10, com a possibilidade de o jornalista tentar aprofundar aquilo que é respondido.

os cidadãos fazerem perguntas que nunca mais acabam, sem objectividade nem clareza, alargando-se em "enquadramentos". Talvez as perguntas pudessem ser tratadas jornalisticamente antes de o programa ir para o ar. Não se trata de "censura", como alguns estarão a pensar. Trata-se de centrar e resumir a pergunta do cidadão.

- os cidadãos acharem que o político entrevistado tem de saber de tudo. Não, não tem. Se numa empresa um director não sabe de tudo, muito menos um político tem de saber. Por isso achei muito bem quando Passos Coelho respondeu singelamente a uma questão "não sei".

- o político poder "dar a maior tanga" ao cidadão sem qualquer contraditório, ou simplesmente falar sem responder minimamente à questão (por exemplo, como o Primeiro-ministro fez em relação à pergunta do taxista sobre combustíveis). E com isto não estou a defender que haja debate com o cidadão.
Este ponto pode facilmente ser resolvido com a possibilidade de o jornalista insistir em aprofundar determinadas respostas.

terça-feira, 8 de outubro de 2013

O país pergunta *

É certo que o país atravessa tempos difíceis.
É certo que isso exige medidas duras, difíceis de explicar, incompreensíveis para alguns, absurdas para outros.
Neste quadro, há uma lacuna neste governo: coordenação política e clareza na mensagem. Sem isso, o governo parece que anda às aranhas. Não sabe explicar medidas, não explica bem, diz e desdiz e embrulha-se todo. 
O que é isto da "pensão de sobrevivência"? Uma trapalhada política em três actos sobre um "direito adquirido automático" e com pouco sentido (como ontem referia Sousa Tavares, podemos dizer que em Portugal os mortos recebem pensão).
Há ministros sem perfil para sê-lo (dantes havia sem perfil mas que iam tomando medidas necessárias. Sim, o Álvaro), e o cargo de MNE exige alguém com peso político e rasgo. Portas tinha isso, mas era muito "agente comercial" e pouco político-diplomático.
E o que é isto de medidas que eventualmente vão constar do OE-2014 (que ainda nem foi aprovado pelo governo, nem foi entregue na AR) irem caindo a conta-gotas na comunicação social? Só gera desagrado e raiva dos cidadãos e desgasta desnecessariamente quem tem de tomar medidas políticas para resolver a situação do país, desviando-se do essencial. Isto chama-se amadorismo.

Por vezes gostava de dar um salto ao futuro para saber como vamos sair do actual momento de crise - e num enquadramento sócio-político-económico confortável e sem conflitos.

* Nome do programa de entrevistas políticas da RTP, que estreia amanhã com a presença do Primeiro-Ministro.

terça-feira, 1 de outubro de 2013

domingo, 22 de setembro de 2013

Absolutamente Merkel


As projecções apontam para uma maioria absoluta da CDU, de Angela Merkel. É o melhor resultado do partido desde 1990.

Muita gente poderá ficar com problemas de estômago.
Mas quem vota são os alemães.

Maioria dos portugueses apoia corte da despesa pública


Quando se começa a fazer alguma coisa no sentido de cortar, já são contra...

Há uns meses, o Expresso publicou uma elucidativa infografia sobre a estrutura da despesa pública nacional. Convinha as pessoas olharem quais as áreas onde o nível de despesa é maior.
Quanto ao governo, não devia chamar reforma de Estado a simples cortes. Reforma do Estado implica ver a estrutura do Estado e ver como esta pode ser redesenhada e redimensionada.


Bipolares?

Por um lado, acusam o governo de "não ter cumprido uma única meta orçamental."
Por outro, querem que a meta do défice para 2014 seja 5%, em vez dos 4% acordados com a troika.

domingo, 15 de setembro de 2013

Coisas das autárquicas


Pergunta: os autarcas do BE demitiram-se há dois anos, quando este governo foi eleito com maioria absoluta? 
Esta dúvida é extensível a todos os outros partidos da oposição.

sábado, 3 de agosto de 2013

Miseráveis anónimos

Este título, e o texto que se segue, é o editorial da revista Tabu (semanário SOL) desta semana, da autoria de Vítor Raínho:

"Nos tempos que correm sente-se que uma corrente ganha força. Na televisão, nos jornais e, sobretudo, nas redes sociais, o miserabilismo parece crescer cegamente. Figuras gratas, e bem na vida, são dos principais impulsionadores, parecendo que não pertencem a este mundo – alguns dos quais com largos milhares de euros doados pelo Estado para as suas fundações e afins. Que é preciso denunciar as injustiças, ninguém duvida, agora que se faça uma espécie de caça às bruxas a quem produz trabalho, é um verdadeiro exagero.
A forma quase doentia como se apela à revolta é preocupante. Nas redes sociais, sob a cobardia do anonimato, dizem-se as maiores barbaridades e chega-se a apelar ao linchamento de figuras consideradas hostis. Mas que democracia é essa?

O conteúdo deixou de ter qualquer importância e apenas a forma interessa. Uma figura diz que o seu sonho é ter uma mala de marca e logo os cobardolas da net fazem uma perseguição miserável à dita cuja. Por outro lado, começa a cultivar-se uma caça aos “ricos”, como se o mundo fosse melhor só com pobres. Por que não se apela antes a que os pobres possam criar riqueza? E por que razão há-de ser o Estado a meter-se em tudo? Há algum país onde o Estado mande na economia e as populações vivam bem?


Os exemplos esquizofrénicos são aos montes, só me faltando ver manifestações de protesto contra a austeridade em festivais onde as pessoas pagaram mais de 50 euros para ouviram as suas bandas preferidas. Esta semana cheguei a ler um texto em que o autor defendia que a herança não deve passar de pais para filhos, mas sim ser doada à comunidade. Vamos imaginar que alguém que poupou a vida inteira para deixar algo aos seus descendentes não o poderá fazer atendendo a que esse dinheiro terá de ir para outras famílias. A loucura está a instalar-se rapidamente e quem semeia ventos perigosos não espera, seguramente, colher a bonança. É o caos que deseja. E é nesse terreno pantanoso que geralmente se sentem bem os pequenos ditadores: os aparelhistas com espírito de polícias que querem, se os deixarem, transformar a nossa sociedade numa Coreia do Norte modernizada. Afinal, muitos dos mentores da corrente miserabilista foi lá e em terras livres como a antiga União Soviética que beberam os princípios daquilo a que chamam “liberdade”… Que, como sabemos, não são recomendáveis. Com todos os defeitos do tal capitalismo selvagem."

Assino por baixo.

Lógicas...

No Corta-fitas, um post bastante esclarecedor sobre as posições da CGTP (e, acrescento eu, a malta do contra):

- aumentar impostos é um embuste porque prejudica o povo;
- baixar os impostos é um embuste de quem quer destruir o Estado Social;
- ter um IRC muito alto é um embuste que prejudica trabalhadores e empresas;
- baixar o IRC é um embuste porque beneficia as empresas onde os trabalhadores trabalham;
- este governo é um embuste porque a dívida pública continua a subir;
- este governo é um embuste porque quer cortar na despesa;
- o acordo de ontem na Concertação Social é um embuste porque prefere a precaridade ao desemprego;
- este governo é um embuste porque quer privatizar as empresas públicas;
- este governo é um embuste porque as empresas públicas geram défices;
- este governo é um embuste porque o défice está muito alto;
- este governo é um embuste porque quer reduzir as prestações sociais e os custos do funcionalismo;
- este governo é um embuste porque não corta relações com os credores;
- este governo é um embuste porque não gasta mais a crédito, etc.

Claro.

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

A polémica do momento

A polémica dos últimos dias tem sido o facto de o Secretário de Estado do Tesouro, Joaquim Pais Jorge, enquanto quadro do Citibank ter tentado vender swaps ao Estado.

Vamos pensar um bocadinho:
Se eu agora trabalho na empresa X, tenho de defender os interesses dessa empresa. Se depois vou trabalhar na empresa Y, tenho de defender os interesses desta.

Quanto à intervenção do SET no briefing desta manhã, apenas uma palavra: uma trapalhada.

terça-feira, 30 de julho de 2013

O essencial e o acessório

Sobre a perseguição que tem sido feita à ministra das Finanças, não pode passar para segundo plano a causa do mal. Para isso, recomendo a leitura do artigo de Henrique Raposo, no Expresso: 

domingo, 28 de julho de 2013


No domingo passado tive uma experiência nova, interessante e enriquecedora: ir a um almoço em que ninguém se conhece.
Um grupo pequeno, de gente bem disposta e de origens diversas, reuniu-se à volta da mesa para celebrar os dias de verão. Summer Days foi precisamente o tema deste repasto, no centro de Lisboa.

O conceito de supper club já está muito explorado e conhecido lá fora, mas em Portugal está ainda a dar os primeiros passos.

Uma experiência a repetir, sem dúvida.

terça-feira, 23 de julho de 2013

O regresso da política

A remodelação desvendada hoje configura um regresso da política.
É certo que a política (na versão politiquice e floreado) terá pouco espaço para vingar em tempos de restrição financeira, mas, sendo uma ciência social, tem de ajudar a fazer a viragem e a dar esperança num futuro melhor para o país. A psicologia é um factor importante em política, e que não pode ser esquecido.

Feita a remodelação e reorganização do governo, é tempo deste voltar a ter asas e conseguir levar a cabo as reformas que se impõem no país. 
O sucesso deste governo será o sucesso de Portugal nos próximos anos.

domingo, 21 de julho de 2013

Portugal tem saída

Depois de umas semanas de indefinição política, espero que a partir da comunicação de Cavaco Silva esta noite o país político (governo e oposições) se foque no que é importante: conduzir-nos para fora da situação em que estamos.
Isto implica que o Governo governe - bem - e cumpra o seu mandato (que é legítimo), e que as oposições (incluindo o PS) deixem de gritar por tudo e por nada, e deixem o bota-abaixo que têm feito permanentemente.

A lógica não pode ser, entre o mau e o péssimo, escolher o péssimo, como muitos querem. É necessária uma posição construtiva a bem do país e de todos nós.
"Na Europa, há países que fazem compromissos de 10 ou 20 anos para resolverem problemas estruturais", escreveu Teresa de Sousa, hoje, no Público. Porque não é possível fazer compromissos assim em Portugal?

Documentos dos partidos nas negociações para o "compromisso de salvação nacional":
- PSD;
- CDS;
- PS.

domingo, 14 de julho de 2013

Coisas que não entendo

PSD, CDS e PS estabelcem uma semana para tentar "compromisso de salvação nacional": Alberto Martins, Moreira da Silva e Mota Soares representam, respectivamente, PS, PSD e CDS na negociações. 


Para o PS, isto deve ter alguma lógica...

sábado, 13 de julho de 2013

Cada vez gosto mais de Ana Moura.
Entre palavras e sensualidade, a sua interpretação tem qualquer coisa.



quarta-feira, 10 de julho de 2013

O murro na mesa

Esta noite, Cavaco Silva deu um murro na mesa e pediu aos três partidos do arco da governação, e que subscreveram o Memorando de Entendimento, que se entendam em nome do interessa nacional e deixem a politiquice de lado.
A seguir, excerto do seu discurso (sublinhados meus):

"Tendo exposto ao País o que penso da atual situação e as razões pelas quais considero ser indesejável a realização imediata de eleições legislativas, quero apresentar agora o meu entendimento sobre a solução que melhor serve o interesse nacional.

No contexto das restrições de financiamento que enfrentamos, a recente crise política mostrou, à vista de todos, que o País necessita urgentemente de um acordo de médio prazo entre os partidos que subscreveram o Memorando de Entendimento com a União Europeia e com o Fundo Monetário Internacional, PSD, PS e CDS.

É esse o caminho que deveremos percorrer em conjunto. Darei o meu firme apoio a esse acordo, que, na atual conjuntura de emergência, representa verdadeiramente um compromisso de salvação nacional. Repito: trata-se de um compromisso de salvação nacional.

O Presidente da República não pode impô-lo aos partidos, até porque um acordo desta natureza e deste alcance só terá consistência e solidez se contar com a adesão voluntária, firme e responsável das forças políticas envolvidas.

Terão de ser os partidos a chegar a um entendimento e a concluir que esta é a solução que melhor serve o interesse dos Portugueses, agora e no futuro.

Com a máxima clareza e com toda a transparência, afirmo que esse compromisso deve assentar em três pilares fundamentais.

Primeiro, o acordo terá de estabelecer o calendário mais adequado para a realização de eleições antecipadas. A abertura do processo conducente à realização de eleições deve coincidir com o final do Programa de Assistência Financeira, em junho do próximo ano.

Em segundo lugar, o compromisso de salvação nacional deve envolver os três partidos que subscreveram o Memorando de Entendimento, garantindo o apoio à tomada das medidas necessárias para que Portugal possa regressar aos mercados logo no início de 2014 e para que se complete com sucesso o Programa de Ajustamento a que nos comprometemos perante os nossos credores.

A posição negocial de Portugal sairia reforçada, evitando novos e mais duros sacrifícios aos Portugueses.

Em terceiro lugar, deverá tratar-se de um acordo de médio prazo, que assegure, desde já, que o Governo que resulte das próximas eleições poderá contar com um compromisso entre os três partidos que assegure a governabilidade do País, a sustentabilidade da dívida pública, o controlo das contas externas, a melhoria da competitividade da nossa economia e a criação de emprego.

É essencial afastarmos do horizonte o risco de regresso a uma situação como aquela que atualmente vivemos."

sexta-feira, 5 de julho de 2013

Sentenças - 26

"O próximo Governo pode até ser o velho, com PSD e PP, com Passos e até com Portas, o que interessa é que seja credível, consistente e duradouro. Os investidores querem saber se vamos conseguir cumprir o acordo com a troika; se daqui a seis meses não estamos numa nova crise política; e se quem investiu em dívida pública portuguesa vai ou não perder dinheiro. Os próprios políticos europeus, que há dois meses deram mais tempo a Portugal para pagar a dívida, serão postos em causa pelas suas opiniões públicas se, como na Grécia, houver um novo resgate que aumente a dependência de financiamento institucional, implique quarentena dos mercados - e falta de investimento, de crescimento económico e de emprego."

Pedro Santos Guerreiro, director do Jornal de Negócios, no Editorial de hoje.

Olhando este país

(actualizado)

Perante a situação política presente, face à repentina demissão de Paulo Portas, não resisto a voltar a escrever neste espaço.
Depois de ver, ouvir, ler e pensar sobre o assunto, tinha de dizer qualquer coisa.

Vamos por pontos:

1 – a demissão de Vítor Gaspar era praticamente inevitável. Tendo em conta o nível de contestação, e os desentendimentos no seio do Governo, a persona tinha de ser alterada. Com isto não quero dizer que o rumo deva ser substancialmente alterado. Infelizmente não é possível mudar muito, ou até a definição desse rumo depender da vontade de Portugal. No entanto, é necessária uma forte vertente política que explique esse rumo, que mostre um destino, que faça os cidadãos terem esperança. Essa componente política tem sido uma grande lacuna deste governo.

2 – a demissão de Paulo Portas: uma irresponsabilidade e estupidez pegada. Sendo o Governo de coligação entre dois partidos, têm de se entender. O interesse nacional é superior ao interesse político de cada partido ou de cada líder. O que se passou é inaceitável.

Aceito que haja diferenças de posição num governo que junta vários partidos, mas têm de sentar-se à mesa e chegar a um consenso, longe dos holofotes mediáticos.

O que levou efectivamente o Ministro dos Negócios Estrangeiros a demitir-se? Quanto a mim foram vários os factores: os desentendimentos com o Primeiro-ministro, e não conseguir impor o seu entendimento do rumo a seguir durante o consulado de Vítor Gaspar; não concordar com a escolha de Maria Luís Albuquerque para nova Ministra das Finanças; nestes dias houve notícias de que a troika queria mais cortes (nas pensões, no salário mínimo, na função pública…), e ele não concordou; tinha de apresentar o relatório para o corte de 4 mil milhões, e não tinha coragem para tal; ficando como nº 2 do Governo, seria amarrado ao seu destino e resultado, e não quis esse ónus.

3 – há vários anos que digo que em Portugal há três animais políticos: Mário Soares, Alberto João Jardim e Paulo Portas. Goste-se ou não deles, é uma qualidade que temos de lhes reconhecer. Mas a pequena política e o contorcionismo têm como limite o interesse nacional.

4 – a brincadeira de Portas custou muito ao país em termos de credibilidade e de financiamento. E pode vir a implicar mais dificuldades para os portugueses. Não é aceitável, num momento de dificuldade como o que atravessámos, deitar a perder dois anos de sacrifícios.

5 – neste contexto, embora descontando o “seria precipitado aceitar esse pedido de demissão” (que Passos Coelho disse acerca da demissão de Portas, e que não me parece que possa fazer), o Primeiro-ministro, quanto a mim, foi o único que teve bom senso na sua declaração. 

6 – após isto, o CDS, que foi surpreendido pela demissão de Portas, mandatou o mesmo Paulo Portas que não se entendeu com Passos Coelho para renegociar com ele. Não percebo esta lógica e não faz sentido para mim.

Este fim-de-semana teria lugar o congresso do CDS, que já foi desconvocado. Não percebo como Paulo Portas poderá manter-se na liderança do partido. 

Não é possível o partido ter um discurso de responsabilidade, e depois essa imagem ser deitada por terra por atitudes assim.

7 – naquilo que tem vindo a público sobre as reuniões entre Passos Coelho e Portas há coisas que (embora não confirmadas) não percebo: 

     a) Portas voltar ao governo? Não pode ser. Nem por pressão de Cavaco, como li há pouco, nem por outra via. Não faria qualquer sentido.

       b) Passos Coelho não pode ceder e demitir a recém-empossada ministra das Finanças. Seria o descrédito absoluto.

       c) Se a solução de coligação existente até antes da demissão de Portas se revelou tão frágil, como seria sólido um acordo diferente e sem o eventual líder do segundo partido fora do governo? 

8 – quanto à oposição à esquerda... desde sempre que pede a queda do governo e eleições antecipadas (o PS também se converteu a este coro há uns meses). Com a crise governamental desta semana, foi possível ver as consequências da instabilidade política: bolsas a caírem, juros a disparar, credibilidade do país posta em causa, potencialmente maior dificuldade no acesso aos mercados, logo mais empresas em dificuldade e mais desemprego, imposição de mais austeridade. 

Quando o governo, por incompetência, quase realiza o seu pedido, vêm logo gritar que o governo é irresponsável. Então o que foram eles durante estes dois anos? Eles queriam agravar a crise e as dificuldades nacionais.

9 – como disse no dia em que Portas apresentou a demissão: além de uma esquerda incompetente, agora temos uma direita estúpida. Num momento dificílimo e dramático da nossa vivência colectiva, não consegue entender-se para reformar o país e o Estado. Ficamos todos a perder.

10 - a crise e a austeridade não começaram há dois anos; começaram quando o país andou a gastar o que não tinha. A causa da nossa crise/desgraça não se chama Passos Coelho, Gaspar ou Portas - chama-se país falido.