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domingo, 28 de agosto de 2011

Blogosferando - 60


Pacheco Pereira sobre a Pobreza:

"Nas nossas televisões pensa-se que a pobreza, é representada pelas famílias da pequena burguesia que, de chinelos e calções, ao sol algarvio, dizem que antes iam mais ao restaurante e hoje vão menos, antes ficavam quinze dias de férias, hoje só dez. Essas famílias estão a perder muito do seu status social, e, num certo sentido, a empobrecer, na presunção de que o que dizem é verdade porque o “politicamente correcto” diante de uma câmara de televisão é fortíssimo. Mas são tudo menos pobres: têm férias, o que significa que tem trabalho; podem deslocar-se de automóvel trezentos quilómetros pelo menos, o que significa que tem automóvel e dinheiro para gasolina; estão num hotel, apartamento, andar, casa alugados, o que significa que tem dinheiro para o pagar. E pelos vistos, não tinham e ainda não tem o hábito de cozinhar em casa, porque isso “não é férias”, em particular para a mulher do casal. Podem começar a ter dificuldades, mas não são pobres.

Os pobres são “porcos, feios e maus”, velhos, mal tratados, e habitam em pseudo-casas onde um alguidar está ao lado do fogão, e há sempre roupa suja numa pilha. Não são bonitos nem televisivos nem estão no Algarve, na grande transumância nacional de Agosto. E as senhoras jornalistas, que o sexismo das estações atira para as reportagens “sociais”, não acham muito agradável ir ao bairro, ou ao prédio degradado, ou a Setúbal, ou ao Cerco do Porto, a não ser que haja qualquer cena de pancadaria com a polícia para relatar."

Tem toda a razão.

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Sentenças - 15

"Vamos ter muito menos liberdade. Começa porque com menos dinheiro há menos liberdade, com menos propriedade há menos liberdade. Os antigos sabiam isso, nós é que tendemos a esquecê-lo em teoria, embora saibamos muito bem que é assim na prática. Não é com mais dependência do Estado social que há mais liberdade, é com menos, é com escolhas e com a possibilidade de fazer escolhas porque temos os meios para as fazer."

Pacheco Pereira, in revista Sábado (nº 348, de 29 Dezembro 2010)

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

A pobreza

"A pobreza não é substituir as férias de Cancún por uma semana no Algarve, nem comer menos um bife por semana. É outra coisa muito mais grave, muito mais perigosa e muitas vezes muito menos visível." - Pacheco Pereira, no Abrupto



Ainda sobre pobreza, no Corta-Fitas:
"Sinal de decadência duma anafada burguesia de ideais perdidos foram os recentes anos iludidos com a bolha do experimentalismo social, traduzida em farta legislação fracturante, desconstrutiva. O preço será pago com altos juros, e é chegado o tempo de olharmos para o que se torna aberrantemente prioritário: a pobreza das pessoas. Aquelas que não frequentam bares do Bairro Alto, que não frequentam os blogues ou vernissages. Aqueles que não têm dinheiro para fazer uma sopa, ou dar um presente a um filho. Deslocados, escondidos, sozinhos, vivem envergonhados do mundo, sem pagar ou receber pensão de alimentos. A pobreza é humilhação e solidão; corrói a humanidade da pessoa, é dor profunda. Há demasiados portugueses em sofrimento e é tempo de se atender à realidade e acudirmos às pessoas."

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Sentenças - 10

"Os problemas sociais são para muita gente uma maçada. Melhor: as diferenças sociais e a conflitualidade que daí surge são para muita gente uma maçada. O mundo deles é constituído por uma pirâmide social que começa nos abusadores do rendimento mínimo, passa para a "classe média baixa", para a "classe média" propriamente dita, a abstracção de muitas políticas, e sobe depois para os arrivistas com dinheiro, que o Independente tratava como o "novo dinheiro", os que vêm no jet set das revistas populares, para terminar na aristocracia do "velho dinheiro", o jet set invisível da verdadeira alta. Com esta pirâmide social, tão fictícia como os Morangos sem Açúcar, não há lugar para portugueses como os mineiros de Neves Corvo.
(...)
Pois é. Isto é o Portugal que falhamos, o Portugal que ignoramos, o Portugal que deixamos deslaçar, fragmentar, perder-se numa deriva para a obscuridade que as luzes do espectáculo fátuo em que vivemos não alumiam. E no entanto, há muito desse Portugal lá fora: mineiros, pescadores, agricultores, operários, trabalhadores da construção civil, empregadas da limpeza, marinheiros, gente que faz os trabalhos menos qualificados nos hospitais, nas escolas, nas autarquias, numa deriva para a pobreza, para o desemprego, para o fim da breve esperança de um Portugal melhor e mais justo. Claro que há outro Portugal, mais jovem, mais culto, mais dinâmico, apesar de tudo com mais expectativas realizáveis e menos peso de más condições de vida ancestrais. Mas, mesmo esse, está em crise, mesmo esse prepara-se para emigrar, prepara-se para se soltar na esperança da mobilidade social. Mas o nosso drama é o deslaçamento entre os dois mundos, a perda de contacto entre as realidades sociais diferentes, o afastamento de portugueses dos portugueses e a ignorância, quando não a indiferença, que os afasta uns dos outros."

Pacheco Pereira, Abrupto

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

A mão invisível

Pacheco Pereira tem razão quando afirma isto:

"O Presidente da República tem certamente coisas graves para dizer ao país e entendeu que se as dissesse interferia no acto eleitoral. Muito bem, compreende-se que o faça, embora também se interfira na campanha por omissão. Mas o Presidente rompeu o seu próprio silêncio e "falou" através da demissão do seu assessor de imprensa e, sendo assim, interferiu de facto na campanha eleitoral. Mais valia agora que dissesse tudo para não acordarmos no dia 28 sabendo coisas que mais valia que fossem conhecidas já. Para contarem para a decisão de voto dos portugueses, com cujo resultado final ele já está inevitavelmente comprometido." (Abrupto)

domingo, 17 de maio de 2009

Se Portugal fosse um país a sério...

(actualizado em 18 Maio 2009)
No Abrupto, Pacheco Pereira analisa vários episódios sintomáticos da degradação a que chegou a nossa sociedade e Estado:

1 - Se Portugal fosse um país a sério não permitiria que um alto funcionário, seu representante numa instância internacional, sujeito a um processo disciplinar muito delicado, que o envolve, justa ou injustamente não sabemos, numa interferência abusiva num processo de corrupção que envolve o nome do primeiro-ministro, continue a gozar da confiança política que o cargo exige.

2 - Se Portugal fosse um país a sério reagiria com veemência ao anúncio do primeiro-ministro de ir à Madeira distribuir 200 computadores Magalhães, num acto de pura propaganda política, que transmite todas as mensagens erradas sobre a apropriação partidária e pessoal do Estado por um homem e por um partido.

3 - Se Portugal fosse um país a sério, não deixaria sequer um político balbuciar (como fazem no Bloco de Esquerda), face aos acontecimentos no Bairro da Bela Vista, que se trata de uma "questão social"
É inaceitável que tal se diga como explicação, argumento, desculpa, hesitação, em vez de dizer-se claramente que os pobres não fazem carjacking, não se armam com uma caçadeira e não vão assaltar bancos, bombas de gasolina, ourives e ourivesarias, e caixas multibanco, para comprar roupa de marca.

4 - Se Portugal fosse um país a sério, nós olharíamos para o Bloco de Esquerda como ele realmente é, a face do comunismo na sua roupagem actual, que nos cartazes por todo o lado, na sua súbita riqueza propagandística, propõe soluções só possíveis em sociedades totalitárias e não democráticas.

5 - Se Portugal fosse um país a sério, restar-lhe-ia como última esperança de sanidade que o Presidente da República vetasse a lei do financiamento partidário.

Se Portugal fosse um país a sério, teria mais respeito por si próprio e mais vontade de mudar. Sem isso, continua como está.

sábado, 9 de maio de 2009

Pacheco Pereira: um homem cercado de livros

"É um bibliógrafo compulsivo. Colecciona livros, mas também documentos, panfletos, cartazes, postais, cassetes. Tem mais de cem mil títulos arrumados em quilómetros de prateleiras em várias casas na Marmeleira. E uma impressionante base de dados sobre quase tudo o que possui. Pacheco Pereira está a ponderar criar uma fundação. E só lamenta que não haja mais investigadores a aproveitar a sua jóia."

In PÚBLICO

terça-feira, 7 de abril de 2009

Sinais de alerta

Pacheco Pereira, na Sábado desta semana:
"Não é a voz grossa que me preocupa, são a miríades de vozes quase ciciadas, que abundam por todo o lado. Aqui as paredes falam e escutam: cuidado, respeitinho, quem se mete com o poder, leva."

Quando leio isto (e, de facto, tem razão!), quase me sinto aliviado ao ver um episódio que parece ter-se tornado infelizmente moda: jornalistas a atirar sapatos a presidentes (dos EUA) e a ministros (na Índia).

domingo, 1 de junho de 2008

Livros: pela feira

Como não podia deixar de ser, já passei pela feira do livro deste ano.

Muita gente, potenciais compradores, potenciais leitores (são coisas diferentes), o Tejo ao fundo, sereno.

Os mesmos pavilhões de sempre, vestidos de cores garridas, os estrados com tábuas partidas para chegar a alguns expositores, alguns escritores a autografar, pessoas a comer gelados…

Certamente devido à guerra deste ano, nada de especial na feira. O pavilhão central, no alto do Parque Eduardo VII, de um terceiro-mundismo confrangedor e vergonhoso. O pavilhão para conferências é um caixote pré-fabricado no início da feira, no lado direito. O pavilhão do livro do dia igual ao de quase todos os anos (só foi diferente num ano em que se lembraram de pôr uma estrutura diagonal à entrada do Parque).

De resto, ano após ano, a feira pouco muda. A mesma disposição das barracas. A única diferença de há alguns anos é a cor dessas barracas. Só o facto de os espaços de cada editor se chamar “barraca” é por si só toda uma filosofia. Podiam chamar-se “pavilhões”, “tendas”, “quiosques”, “espaços”… mas todos, a começar nos participantes, acham por bem que sejam “barracas”.

Este ano Cabo Verde é o país convidado da feira. Poucos dão por isso. Nada a destacar essa primazia. Um pavilhão decadente tal como o do livro do dia ou o das conferências.

A diferença deste ano está no cima do Parque, à direita, com os pavilhões do grupo Leya. Houve o trabalho de pensar num novo formato. Vários pavilhões, tipo um quarto cercado de prateleiras com livros, tecto de plástico vermelho (a cor do grupo), cada uma com uma ou duas pessoas de staff do grupo, e uma ilha ao centro onde funcionam as caixas (bem servidas por umas meninas bonitas e sorridentes). Uma espécie de Campera para livros. Seguranças à saída espaço Leya, para evitar que alguns se esqueçam que têm de pagar. Um sistema próprio de rádio a anunciar livros do dia e autores a autografar, também numa ilha ao centro.

Não, não é uma solução perfeita, não será a ideal, mas está diferente. E essa mudança é positiva. Por exemplo, o plástico vermelho no tecto, quando está sol, incomoda no manuseamento dos livros, fere os olhos. (Cá está o pretexto que faltava para comprar uns óculos de sol).

Gostei do saco da Leya, em que associa o seu nome com o incentivar à leitura, com esta paixão. Cá fica:

“LEYA pensamentos LEYA cores e sentimentos LEYA sozinho ou acompanhado LEYA a sério ou a brincar LEYA depressa ou devagarinho LEYA quando, como e onde lhe apetecer LEYA tudo o que lhe dá prazer LEYA letras com sabores LEYA romances LEYA poesia LEYA países LEYA viagens e outras culturas LEYA arte LEYA música LEYA pintura LEYA escultura LEYA sonhos LEYA tudo o que se pode ler LEYA de dia LEYA à tarde LEYA à noite LEYA em casa LEYA na praia LEYA no metro LEYA no comboio LEYA no banco do jardim LEYA de pernas para o ar LEYA debaixo da cama LEYA por vício LEYA por paixão LEYA por amor LEYA com os olhos do coração LEYA com alma”

A paixão pela leitura feita palavras.

Francisco José Viegas dá
aqui um passeio pela feira.
Pacheco Pereira escreveu aqui sobre a guerra dos pavilhões neste ano.

domingo, 18 de maio de 2008

Blogosferando por ai - 12

1 - Pacheco Pereira toca na ferida: a irrelevância tomou conta da vida.
"A cultura da irrelevância está impante como nunca, espectáculo e pathos brilham no sítio que anteriormente ainda era frequentado, de vez em quando, pela razão, pelo bom senso, pela virtude. Esta é, obviamente, a melhor comunicação social, a melhor televisão para os governos, e o actual cuida bem que não lhe falte dinheiro para as suas quinhentas horas de futebol. Compreende-se: a bola não pensa, é para ser chutada."

domingo, 13 de abril de 2008

O telemóvel

No PÚBLICO de ontem, e já disponível no ABRUPTO, Pacheco Pereira escreveu um interessante artigo sobre o telemóvel.
Um texto imperdível, do qual destaco alguns excertos:

"O telemóvel é o objecto que mais mudou os nossos hábitos sociais desde que existe. Não é o computador, nem a Internet, nem o cabo, é o telemóvel."

"A recusa de dar um número de telemóvel é tida como uma má educação ou uma insensata e insociável vontade de não estar disponível."

"Nos mais jovens o telemóvel é apenas mais um instrumento para a completa insensibilidade à perda de privacidade e intimidade."

"...a primeira pergunta é sempre "onde tu estás?"

"Na verdade a esmagadora maioria das chamadas de telemóvel não tem qualquer objecto ou necessidade de ser feita, ninguém as faria num mundo de telefones fixos, que não seja pelo controlo, pela presentificação do indivíduo no seu jogo de inseguranças, solidões, afectos, e medos, através da caixa electrónica que se segura numa mão."

quarta-feira, 2 de abril de 2008

Quadratura mudada

O programa de debate semanal da SIC-N "Quadratura do Círculo" perdeu Jorge Coelho, que vai ser presidente executivo da Mota Engil.
Vai daí, o escolhido por Pacheco Pereira e Lobo Xavier para substituir Coelho foi António Costa, presidente da Câmara de Lisboa.
Já o Corta-fitas criticou a escolha... e outros também.
Mas quem se lembra do que era a Quadratura inicial, com José Magalhães pelo lado do PS (actualmente é secretário de Estado da Administração Interna), até deve simpatizar com a escolha de António Costa.
José Magalhães era mais descontraído, mais agressivo, digamos mais trauliteiro, e acho que o debate tinha mais vida com ele. A vinda de Jorge Coelho devido à saída de Magalhães para o governo adormeceu um pouco o debate habitual.
Pela minha parte, estou curioso para ver o novo debate com António Costa.