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segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Crime com crime?

Ainda não tinha escrito nada sobre o crime internacional cometido contra Khadafi.
Sou absolutamente contra a pena de morte. Seja para matar Khadafi, Bin Laden, Saddam Hussein ou os criminosos que andam aí nas ruas de qualquer cidade. 
Qual a superioridade moral de quem mata como forma de julgar/punir o outro?
A justiça e os tribunais existem precisamente para julgar e punir criminosos. Não para os assassinar.

No Abrupto, Pacheco Pereira chama selvajaria consentida e apoiada pela UE ao que fizeram a Khadafi.

"A morte selvagem de Khadafi resultou de uma acção militar da NATO, assente no apoio aéreo e da actuação no terreno de combatentes tribais numa guerra civil apoiados por tropas estrangeiras do Qatar, para além de "especialistas" dos países da UE mais envolvidos, como os franceses e ingleses. Esta intervenção foi apoiada politicamente pela UE, "legitimava-se" numa resolução das Nações Unidas cujo objectivo limitado era a "protecção de civis" e cuja sistemática violação pelo envolvimento directo na guerra civil, teve os olhos fechados da opinião pública mundial. 
A execução de Khadafi, a violência filmada, a que se seguiu a exposição pública do corpo, mereceu pouco mais do que alguns reparos de circunstância, e o mesmo silêncio que tem sempre envolvido as violências e os crimes de guerra cometidos pelas tropas e milicianos dos "libertadores". Khadafi era um ditador assassino e fez tudo o que lhe fizeram, mas se em Khadafi é esperável esse comportamento, aliás esquecido e perdoado pelos mesmos países que o foram lá matar, é inaceitável uma Europa que está sempre a levantar a bandeira da abolição da pena de morte, e dos direitos humanos, ir lá agora dar dinheiro e apoiar e trazer para o concerto das "boas" nações os assassinos que ajudou a pôr no poder."

domingo, 28 de agosto de 2011

Blogosferando - 60


Pacheco Pereira sobre a Pobreza:

"Nas nossas televisões pensa-se que a pobreza, é representada pelas famílias da pequena burguesia que, de chinelos e calções, ao sol algarvio, dizem que antes iam mais ao restaurante e hoje vão menos, antes ficavam quinze dias de férias, hoje só dez. Essas famílias estão a perder muito do seu status social, e, num certo sentido, a empobrecer, na presunção de que o que dizem é verdade porque o “politicamente correcto” diante de uma câmara de televisão é fortíssimo. Mas são tudo menos pobres: têm férias, o que significa que tem trabalho; podem deslocar-se de automóvel trezentos quilómetros pelo menos, o que significa que tem automóvel e dinheiro para gasolina; estão num hotel, apartamento, andar, casa alugados, o que significa que tem dinheiro para o pagar. E pelos vistos, não tinham e ainda não tem o hábito de cozinhar em casa, porque isso “não é férias”, em particular para a mulher do casal. Podem começar a ter dificuldades, mas não são pobres.

Os pobres são “porcos, feios e maus”, velhos, mal tratados, e habitam em pseudo-casas onde um alguidar está ao lado do fogão, e há sempre roupa suja numa pilha. Não são bonitos nem televisivos nem estão no Algarve, na grande transumância nacional de Agosto. E as senhoras jornalistas, que o sexismo das estações atira para as reportagens “sociais”, não acham muito agradável ir ao bairro, ou ao prédio degradado, ou a Setúbal, ou ao Cerco do Porto, a não ser que haja qualquer cena de pancadaria com a polícia para relatar."

Tem toda a razão.

domingo, 29 de maio de 2011

Pergunta pertinente

"Alguém me pode explicar por que razão o PS vai a estas eleições sem programa e isso não incomoda ninguém?" (via Abrupto)

A esta pergunta ninguém responde. E nenhum jornalista pergunta.
Mas a cassete é que o programa do PSD é liberal, contra o Estado social, e outros quejandos.
Ao menos tem programa. Goste-se ou não daquilo que propõe.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

A pobreza

"A pobreza não é substituir as férias de Cancún por uma semana no Algarve, nem comer menos um bife por semana. É outra coisa muito mais grave, muito mais perigosa e muitas vezes muito menos visível." - Pacheco Pereira, no Abrupto



Ainda sobre pobreza, no Corta-Fitas:
"Sinal de decadência duma anafada burguesia de ideais perdidos foram os recentes anos iludidos com a bolha do experimentalismo social, traduzida em farta legislação fracturante, desconstrutiva. O preço será pago com altos juros, e é chegado o tempo de olharmos para o que se torna aberrantemente prioritário: a pobreza das pessoas. Aquelas que não frequentam bares do Bairro Alto, que não frequentam os blogues ou vernissages. Aqueles que não têm dinheiro para fazer uma sopa, ou dar um presente a um filho. Deslocados, escondidos, sozinhos, vivem envergonhados do mundo, sem pagar ou receber pensão de alimentos. A pobreza é humilhação e solidão; corrói a humanidade da pessoa, é dor profunda. Há demasiados portugueses em sofrimento e é tempo de se atender à realidade e acudirmos às pessoas."

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Sentenças - 10

"Os problemas sociais são para muita gente uma maçada. Melhor: as diferenças sociais e a conflitualidade que daí surge são para muita gente uma maçada. O mundo deles é constituído por uma pirâmide social que começa nos abusadores do rendimento mínimo, passa para a "classe média baixa", para a "classe média" propriamente dita, a abstracção de muitas políticas, e sobe depois para os arrivistas com dinheiro, que o Independente tratava como o "novo dinheiro", os que vêm no jet set das revistas populares, para terminar na aristocracia do "velho dinheiro", o jet set invisível da verdadeira alta. Com esta pirâmide social, tão fictícia como os Morangos sem Açúcar, não há lugar para portugueses como os mineiros de Neves Corvo.
(...)
Pois é. Isto é o Portugal que falhamos, o Portugal que ignoramos, o Portugal que deixamos deslaçar, fragmentar, perder-se numa deriva para a obscuridade que as luzes do espectáculo fátuo em que vivemos não alumiam. E no entanto, há muito desse Portugal lá fora: mineiros, pescadores, agricultores, operários, trabalhadores da construção civil, empregadas da limpeza, marinheiros, gente que faz os trabalhos menos qualificados nos hospitais, nas escolas, nas autarquias, numa deriva para a pobreza, para o desemprego, para o fim da breve esperança de um Portugal melhor e mais justo. Claro que há outro Portugal, mais jovem, mais culto, mais dinâmico, apesar de tudo com mais expectativas realizáveis e menos peso de más condições de vida ancestrais. Mas, mesmo esse, está em crise, mesmo esse prepara-se para emigrar, prepara-se para se soltar na esperança da mobilidade social. Mas o nosso drama é o deslaçamento entre os dois mundos, a perda de contacto entre as realidades sociais diferentes, o afastamento de portugueses dos portugueses e a ignorância, quando não a indiferença, que os afasta uns dos outros."

Pacheco Pereira, Abrupto

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

A mão invisível

Pacheco Pereira tem razão quando afirma isto:

"O Presidente da República tem certamente coisas graves para dizer ao país e entendeu que se as dissesse interferia no acto eleitoral. Muito bem, compreende-se que o faça, embora também se interfira na campanha por omissão. Mas o Presidente rompeu o seu próprio silêncio e "falou" através da demissão do seu assessor de imprensa e, sendo assim, interferiu de facto na campanha eleitoral. Mais valia agora que dissesse tudo para não acordarmos no dia 28 sabendo coisas que mais valia que fossem conhecidas já. Para contarem para a decisão de voto dos portugueses, com cujo resultado final ele já está inevitavelmente comprometido." (Abrupto)

domingo, 17 de maio de 2009

Se Portugal fosse um país a sério...

(actualizado em 18 Maio 2009)
No Abrupto, Pacheco Pereira analisa vários episódios sintomáticos da degradação a que chegou a nossa sociedade e Estado:

1 - Se Portugal fosse um país a sério não permitiria que um alto funcionário, seu representante numa instância internacional, sujeito a um processo disciplinar muito delicado, que o envolve, justa ou injustamente não sabemos, numa interferência abusiva num processo de corrupção que envolve o nome do primeiro-ministro, continue a gozar da confiança política que o cargo exige.

2 - Se Portugal fosse um país a sério reagiria com veemência ao anúncio do primeiro-ministro de ir à Madeira distribuir 200 computadores Magalhães, num acto de pura propaganda política, que transmite todas as mensagens erradas sobre a apropriação partidária e pessoal do Estado por um homem e por um partido.

3 - Se Portugal fosse um país a sério, não deixaria sequer um político balbuciar (como fazem no Bloco de Esquerda), face aos acontecimentos no Bairro da Bela Vista, que se trata de uma "questão social"
É inaceitável que tal se diga como explicação, argumento, desculpa, hesitação, em vez de dizer-se claramente que os pobres não fazem carjacking, não se armam com uma caçadeira e não vão assaltar bancos, bombas de gasolina, ourives e ourivesarias, e caixas multibanco, para comprar roupa de marca.

4 - Se Portugal fosse um país a sério, nós olharíamos para o Bloco de Esquerda como ele realmente é, a face do comunismo na sua roupagem actual, que nos cartazes por todo o lado, na sua súbita riqueza propagandística, propõe soluções só possíveis em sociedades totalitárias e não democráticas.

5 - Se Portugal fosse um país a sério, restar-lhe-ia como última esperança de sanidade que o Presidente da República vetasse a lei do financiamento partidário.

Se Portugal fosse um país a sério, teria mais respeito por si próprio e mais vontade de mudar. Sem isso, continua como está.

domingo, 13 de abril de 2008

O telemóvel

No PÚBLICO de ontem, e já disponível no ABRUPTO, Pacheco Pereira escreveu um interessante artigo sobre o telemóvel.
Um texto imperdível, do qual destaco alguns excertos:

"O telemóvel é o objecto que mais mudou os nossos hábitos sociais desde que existe. Não é o computador, nem a Internet, nem o cabo, é o telemóvel."

"A recusa de dar um número de telemóvel é tida como uma má educação ou uma insensata e insociável vontade de não estar disponível."

"Nos mais jovens o telemóvel é apenas mais um instrumento para a completa insensibilidade à perda de privacidade e intimidade."

"...a primeira pergunta é sempre "onde tu estás?"

"Na verdade a esmagadora maioria das chamadas de telemóvel não tem qualquer objecto ou necessidade de ser feita, ninguém as faria num mundo de telefones fixos, que não seja pelo controlo, pela presentificação do indivíduo no seu jogo de inseguranças, solidões, afectos, e medos, através da caixa electrónica que se segura numa mão."

segunda-feira, 31 de março de 2008

Blogosferando - 10


1 - no Corta-fitas: o início do reconhecimento de Alberto João Jardim como "corajoso dirigente pela sua ímpar carreira ao serviço dos madeirenses e da sua ilha da Madeira". Jaime Gama remexeu as águas.

2 - no Abrupto, Pacheco Pereira analisa "as mentiras" que levaram à última guerra do Iraque.

3 - no Estado Civil, do Pedro Mexia, "a lei do divórcio".

4 - Pedro Rolo Duarte diz que "palavras são acções". Concordo; e não é que são mesmo?

domingo, 17 de fevereiro de 2008

Blogosferando por aí - 9


1 - O pedido de perdão do primeiro-ministro australiano Rudd aos aborígenes, no Abrupto. E o efeito boomerang do politicamente correcto.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

País adormecido

Pacheco Pereira será pessimista, velho do Restelo, o que quiserem, mas não deixa de ter razão:
"(...)
Os culpados são uns "velhos do Restelo", sem humor, uns pessimistas frustrados, que queriam ter uma gloriosa carreira pública, mas que não ganham eleições como o engenheiro Sócrates ou o dr. Lopes e vivem roídos por isso, uns intelectuais que só escrevem livros, o que, como se sabe, não é trabalho decente, e que nunca tiveram oportunidade de fazer festas, piscinas e centros de congressos com dinheiros públicos, deixando os municípios endividados por décadas, nem de darem computadores nas escolas, extorquidos por pouco subtis pressões às empresas que precisam do Plano Tecnológico e que também têm que pagar, como os empreiteiros obrigados a dar uma loja à câmara para fazer um edifício. Esses ressentidos subversivos que só sabem dizer mal sentem o mundo a cair à sua volta e não são capazes de ver o imenso mérito dos tempos modernos, quer do engenheiro tecnológico, quer dos modernizadores que querem partidos SA com cibercafés nas sedes, quer dos pensadores-engraçadistas que imitam os Gatos Fedorentos e o Inimigo Público e pululam nos blogues e nas televisões.
O que é que os "velhos do Restelo" têm que irrita particularmente?
Primeiro, poucas ilusões, o que não é propriamente um mérito, é mais para o lado da desgraça, mas não há volta a dar. Nisso, de facto, estão velhos e já viram tanta coisa que não se lhes pode pedir que pensem como o secretário de Estado que resolveu disciplinar os reformados dando-lhes 68 cêntimos por mês em nome da racionalidade dos gastos e da sua alta visão. Foi preciso um velho, que também não deve ter muitas ilusões, o ministro da pasta, para terminar com essa patetice em 24 horas, porque ele sabe o que é um reformado e o jovem imberbe não.
Depois, uma atitude, que hoje se considera cada vez mais bizarra e antiquada, face à liberdade. Prezam a liberdade de uma forma que só pode ser prezada por quem não a teve, e isso também não há volta a dar, só acaba com o túmulo. Nunca falarão de Salazar, da censura, da polícia, com a displicência yuppie dos nossos dias. Não têm "distância", embora o arranque da historiografia e da sociologia para fora das baías do antifascismo e do jacobinismo se lhes deva em parte, quando a academia permanecia gloriosamente dominada pelo PCP e pelos esquerdistas.
Aquilo que, na sua imensa ignorância, alguns consideram ser as ideias dos anos 60, o mal que Sarkozy e os seus imitadores querem extirpar, é uma noção individual da liberdade, um gosto pela vida autónoma, uma vontade de não depender de ninguém, uma desconfiança natural da autoridade presumida e arrogante, que sempre foi mais forte do que o invólucro radical desses mesmos anos. Por estranho que pareça, esta liberdade libertária tem continuidade na profunda convicção de que a revolução dos costumes desses anos, o que deles vai ficar, só é garantida pela riqueza, riqueza de dentro, a "cultura", esse termo tão abastardado, e riqueza de fora, posse das coisas, de bens, do tempo próprio.
Essa liberdade antiquada é vista quase como um atavismo, um resquício do pecado original inexpiável de terem sido comunistas, maoístas, esquerdistas, ou suspeitos anti-salazaristas e terem abandonado esses lugares do crime 20 anos antes do dr. Pina Moura, que, pelos vistos, o fez no tempo certo. O absurdo é ver ataques a António Barreto por ter sido comunista há 40 anos, ele que foi o alvo principal do PCP, junto com Soares, na questão da Reforma Agrária.
Não adianta sequer dizer à ignorância impante que, com excepção de meia dúzia de conservadores, poucos, aliás, a "luta final" que terminou em 1989 com a queda do Muro de Berlim, como escreveu Silone, foi mais entre comunistas e ex-comunistas. Os grandes textos simbólicos contra o comunismo, O Retorno da URSS, O Zero e o Infinito, o 1984 e O Triunfo dos Porcos, vieram de homens como Gide, Koestler e Orwell. Nos momentos mais duros da guerra fria, os ex-comunistas e os liberais mais radicais com quem se aliaram foram os únicos a travar o combate intelectual contra a hegemonia intelectual comunista. Revistas como o Encounter ficaram como exemplo dessa aliança em tempos bem mais difíceis do que os de hoje. E que, nos momentos decisivos do fim do império soviético, quando o expansionismo soviético conheceu o seu espasmo agressivo entre o Afeganistão e Angola, só ex-comunistas, como Mário Soares, e ex-maoístas lutaram contra a URSS, a favor de dissidentes soviéticos como Sakharov, em Portugal, em França com os "novos filósofos", mesmo nos EUA, onde muitos neocons vinham da esquerda radical americana.
Depois os "velhos do Restelo" são também antiquados por não gostarem muito da redução da política ao marketing, à publicidade e à substituição da decisão política pela parafernália da gestão da imagem, das sondagens e dos aconselhamentos pelas agências de comunicação. Tendem a ver a substituição dos órgãos políticos de decisão, eleitos e tendo que prestar contas, por gabinetes de assessores e agências de comunicação, por spin doctors e "marqueteiros", como uma degradação e uma opacidade. Não gostam dos homens de plástico que nos vendem hoje e do mundo de plástico que vem com eles. E isso gera um conflito de interesses com o crescente papel no mundo comunicacional dos profissionais da propaganda moderna e dos políticos que se moldam a esta realidade "comprando" a sua imagem.
Há muitas outras razões, como a de não serem fáceis de encaixar nas categorias a preto e branco das classificações esquerda-direita, uma perturbação para a ordem do mundo e dos regimentos em combate, mas o defeito maior está na sua independência feita de muitos "nãos" e pouco sensível à lisonja e aos consensos beatos em que vivemos, entre a "cultura", os negócios e a política. Por isso, se não estivessem por cá, tudo seria muito melhor, mais "moderno" e mais construtivo.
Para que não restassem dúvidas sobre a radicalidade das suas críticas (e preocupações), António Barreto e Vasco Pulido Valente repetiram-nas hoje de forma inequívoca:
Num caso e noutro, o referendo e o aeroporto, os governantes mentiram, desdisseram-se, negaram o que tinha afirmado, mudaram de opinião e de certezas, voltaram atrás, disseram que não tinham dito, não era bem assim, só queriam dizer que era isto e não aquilo... Neste exercício de garantir o que não é evidente para ninguém e de negar o que disse e prometeu, Sócrates foi absolutamente excelente. Revelou a convicção de um vendedor de persianas. Portou-se com a inocência de um escuteiro. Sócrates está convencido de que pode vender o que quiser a quem quer que seja. Basta ele falar, controlar a informação, negar a evidência, garantir as suas certezas e elogiar o produto!
Como os governantes não mudam de estilo nem de sistema, a não ser que a isso sejam forçados, já não vale a pena esperar pelos efeitos correctores desta semana nos seus comportamentos. Mas a população assistiu. Viu. Pôde tirar conclusões. Se, como os animais, os homens aprendessem com a experiência, esta semana teria sido gloriosa. Ficaria na história como um dos momentos altos de aprendizagem da arte de ser governado. Perder-se-ia rapidamente a confiança em Sócrates. Este Governo teria o desfavor público. A competência técnica, a seriedade e as promessas do Governo passariam a ser motivo de gargalhada e desprezo. Infelizmente, parece que os homens em geral e os portugueses em particular não são como os animais. Não aprendem. (Barreto)
Entretanto, o país cai, o pessimismo dos portugueses cresce e a economia está praticamente em coma. O ano de 2008 vai ser mau e, provavelmente, péssimo. O cidadão comum sabe que depende do preço do petróleo e do que suceder na América e em Espanha. A insegurança é grande. O que, em princípio, prejudicaria Sócrates. Mas não. Sócrates vive da insegurança. Cada vez que lhe chamam autoritário, cada vez que (justamente) o acusam de pôr em perigo a democracia e a liberdade, os portugueses, como de costume, agradecem a existência providencial de um polícia. Um polícia que manda e que proíbe; e que fala pouco. Não querem a barafunda por cima da miséria; e preferem a miséria à barafunda. Num mundo instável e confuso, Sócrates sossega. O resto é acessório. (Vasco Pulido Valente)"
Vale a pena ler as crónicas deste domingo de António Barreto e Vasco Pulido Valente no PÚBLICO.
Citando um célebre socialista, "há sempre alguém que resiste, há sempre alguém que diz não!"

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

Optimismos...

No Abrupto...

"Estamos hoje mais pobres e pedem-nos para sermos optimistas, estamos hoje menos livres e pedem-nos para sermos optimistas, estamos hoje mais dependentes e pedem-nos para sermos optimistas, estamos hoje mais fracos e pedem-nos para sermos optimistas. Há algo de tão errado neste optimismo que só me reforça o pessimismo."

Vivemos numa sociedade sem portas para o futuro.


domingo, 9 de dezembro de 2007

Cimeira UE - África


A Cimeira UE-África chegou ao fim.
Quase todos os noticiários centraram as suas “notícias” em baboseiras laterais como o trânsito, uns ensaios de manifestações nas imediações da FIL, as refeições e as tendas. E centraram o circo nas personalidades de Mugabe e de Kadhafi.
O que se discutia de concreto dentro da FIL? Pouco se sabe.
Basta ler esta notícia sobre uma declaração do chefe de Governo espanhol, Zapatero. O título da notícia é uma baboseira. O relevante está no meio: "A imigração ilegal é um grande fracasso colectivo. Foi proposto um grande acordo entre a União Europeia e África para combater a imigração irregular". E nesta declaração explicou que desenvolvendo África evita-se a imigração ilegal (“Imigração irregular” é o quê?). Em vez de se centrar no fundamental, noticia o acessório.

Esta manhã, na rádio, ouvi que tinha sido proposto uma abertura mútua de fronteiras entre UE a África, facilitando assim trocas comerciais. A bondade europeia é tocante. Entram matérias-primas africanas, e os países europeus vendem os produtos. É uma imposição da Organização Mundial do Comércio… mas a liberalização não funciona igualmente para os dois lados. Lembro-me os famosos “14 pontos de Wilson”, no início do séc. XX… Como esta questão comercial foi polémica, a Comissão europeia, atráves da presidência, disponibilizou-se para continuar as negociações ao mais alto nível nos próximos anos, por forma a desbloquear a situação.

As declarações de Sócrates na sessão de encerramento são de uma vacuidade absoluta.
A entrevista do José Manuel Mestre, na SIC Notícias, a Durão Barroso, no fim da cimeira, esclareceu mais que vários dias de pseudo-notícias.

Mas, após ter lido “Portugal – o pioneiro da globalização”, não podemos deixar de sorrir ao ouvir tanta declaração bem intencionada dos vários líderes presentes na cimeira. Tendo presente alguma análise histórica, estes eventos só podem ser vistos em perspectiva.
Claro que a Parceria Estratégica EU-África é importante. Claro que os entendimentos alcançados são importantes (Durão Abrroso disse: "Desta cimeira sai um plano de acção para os próximos três anos, contemplando as áreas das migrações, da energia, dos direitos humanos, das alterações climáticas e da investigação científica"). Mas uma perspectiva histórica relativiza tudo isto.
No ABRUPTO:
1-
2 -

quinta-feira, 17 de maio de 2007

Falar de blogues

Ao início da noite fui assistir a um colóquio na Livraria Almedina (no Atrium Saldanha) sobre blogues. Já o ano passado tinham organizado uma série de debates sobre este fenómeno (e este ano este é já o terceiro, mas só ontem descobri o evento…).
Hoje o tema era “Falar de Blogues com Cronistas”. E contou com a participação dos autores do Abrupto (José Pacheco Pereira), do Bicho Carpinteiro (José Medeiros Ferreira), da Bomba Inteligente (Carla Quevedo) e do Glória Fácil (Fernanda Câncio). E as questões sobre a mesa eram apresentadas assim: “Há cronistas que têm blogues. Porquê? O que acrescenta o blogue à crónica na imprensa e ao comentário na televisão?”

Se calhar, haverá quem ache estas coisas uma baboseira. Mas, para quem tem um bloguito, ajuda a ver as coisas com outros olhos, a ter alguns conceitos e a perceber o que é este mundo da blogosfera. É um pouco como respirar: todos o fazemos desde sempre, mas só passados muitos anos é que aprendemos os conceitos e os mecanismos que nos permitem respirar.

Não tendo chegado a tempo de ouvir a Carla Quevedo e parte da intervenção de Medeiros Ferreira, deu para seguir os restantes intervenientes. O grosso da questão estava na caixa de ressonância que os blogues são dos restantes media e vice-versa.
Interessantes os depoimentos de Medeiros Ferreira e de Pacheco Pereira, que têm a experiência da censura. Portanto, a vivência de um mundo de limitação da liberdade de expressão – antes – e da blogosfera – agora. Medeiros Ferreira diz que a blogosfera é a esfera da liberdade de expressão por excelência.

Alguns apontamentos do colóquio:

- Fernanda Câncio defende que os jornalistas têm opinião. E têm direito à opinião. Afinal um jornalista é um ser humano, e como tal tem perspectiva sobre os acontecimentos.


- Carla Quevedo, a finalizar, diz que a blogosfera é um espaço de generosidade, na medida em que ninguém é pago para lá escrever (embora já haja publicidade paga nos blogues), e em que cada um se expõe, expõe o seu pensamento, a sua visão do mundo. (Curiosidade: o blogue chama-se Bomba Inteligente porque é assim que Carlos Quevedo trata a autora. Digamos que sim).

- Medeiros Ferreira afirma que “o blogue é um instrumento de sedução, enquanto no jornal é mais namoro”. Isto a propósito das linguagens.

- Pacheco Pereira refere que “tenho este vício de ter opiniões e gosto de as divulgar”. Isto a propósito dos episódios por que passou devido a escrever em jornais desde os seus 14 anos.

Na hora das perguntas e respostas, uma questão que me surgiu a propósito: blogues e restantes media acabam por ser uma caixa de ressonância uns dos outros (sobretudo nos blogues políticos, que são a maioria). E quem escreve nos jornais normalmente tem de cingir-se a essa actualidade. Por outro lado, num blogue é possível diversificar, abrir novas janelas, através de fotografias, poesia, escrever de outros temas que não a actualidade (pelo menos não se sente essa obrigação). E a experiência do GONIO, que era muito comentário da actualidade, mas ao qual estou a tentar imprimir um outro cunho mais variado e humano (até porque não sou o Prof. Marcelo Rebelo de Sousa para comentar tudo e arredores), e menos caixa de ressonância da actualidade.
Lá não fui assim tão claro, talvez por isso os comentários passaram ao lado. E também já era hora de acabar o colóquio.

É sempre interessante assistir a estas palestras. Aprende-se sempre qualquer coisa.

A próxima será a 22 de Junho, com José Luís Orihuela. Trata-se de um “professor na Universidade de Pamplona, que tem corrido o mundo a falar de blogues e a formar especialistas e não especialistas na Web 2.”
Para finalizar, um pequeno apontamento: hoje é o Dia da Internet (Dia Mundial das Telecomunicações e da Sociedade de Informação).

terça-feira, 24 de abril de 2007

Blogues - as minhas nomeações!


Anda para aí a rodar nos blogues o Thinking Blogger Award.

A minha escolha é mesmo tendo em conta “thinkers” acima da média. Há muitos bons blogues (e estão ali ao lado, na minha restrita e elitista lista), mas que talvez se enquadrem melhor em outras categorias. Tal como os que aqui ficam também poderiam caber em outras categorias.
Eu fui escolhido pelo Sequestro Emocional, do meu amigo Rigueiro. Que considera o GONIO um digno nomeado para estes prémios.

A regra é cada blogger escolher cinco… Cá ficam as minhas “nomeações”:

- Trambolhão
Simplesmente. Porque é poesia, espontaneidade, ternura, humor, beleza, profundidade. E eu gosto. Em tão poucas palavras – e aos trambolhões – a Inês deixa cair sentimentos como raios de sol, e deixa uma gota de orvalho em cada linha. Quando uma curta frase diz tanto.
Podia apenas dizer “porque sim”, mas seria tão pouco… Tinha de ser a primeira escolha!

- Segredos ao Pôr-do-Sol
Sente, pensa, escreve. Tem raivas, sorrisos. Gosta de gatos. De paisagens. De paz. E por vezes, escreve de mais… p

- Alcómicos Anónimos
Sem regularidade certa, o humor aqui é uma regra de ouro. Desconstruindo os acontecimentos, dando sentidos alternativos à realidade. Para quem gosta de uma boa gargalhada – muitas vezes com coisas muito alternativas – vale a pena visitar.

- Estado Civil
Do Pedro Mexia. Um típico blogue masculino, de um crítico literário (ou seja lá o que for…). Tem máximas, sentenças. Fala da vida, da arte, da literatura, de homens e mulheres. Um desencantado da vida. Mas que dá gozo ler.

- Abrupto
Diariamente. José Pacheco Pereira, um dos políticos mais livres que para aí há. Diz o que pensa, sem dramas partidários, sem dependência do PSD. Um livre-pensador. Com dois ódios de estimação: Paulo Portas e Pedro Santana Lopes.
Um blogue político, não podia deixar de citar este. Pioneiro nestas lides blogosféricas e um dos mais importantes do panorama nacional. O melhor e mais importante blogue na sua área. E que vai sempre para além da espuma dos dias, e muito para além da política (vejam a paixão pelas descobertas espaciais).