"Parece que anda tudo um bocado preocupado com o que se passa com a Hungria. Claro está que a preocupação decorre porque em Budapeste há um governo de direita, conservador, que ao abrigo dos 2/3 que dispõe no Parlamento, mudou a Constituição e impôs algumas regras novas.
Percebo que ,para os paladinos do politicamente correcto, que normalmente são de esquerda, algumas destas novas medidas possam fazer confusão. Mas o que de tão grave o Governo o do partido Fidesz fez: mudou a designação de “República da Hungria” para “Hungria”; inscreveu na Lei Fundamental a frase “Deus abençoe os húngaros”; quer criminalizar os socialistas (herdeiros do antigo Partido Comunista Húngaro) e fazer uma investigação aos crimes cometidos durante as décadas de socialismo; excluiu a qualquer possibilidade de reconhecimento de casamentos homossexuais e a Constituição passa a consignar a defesa da vida humana desde o embrião, impedindo a legalização do aborto.
A União Europeia já mostrou a sua preocupação, os EUA também e já se fala em perseguições aos jornalistas e aos media e, helás, a nomeação de pessoas de confiança do primeiro-ministro húngaro Viktor Orban, para altos cargos do Estado. Mas não é suposto um Governo fazer isso? Escolher pessoas da sua confiança?
Quem critica neste momento as autoridades de Budapeste são os mesmos que se calaram quando alguns países da Europa legalizaram o aborto e as uniões homossexuais, quando a Espanha – que teve uma transição quase serena da ditadura para a democracia – desenterrou o fantasma dos crimes do franquismo. Ironicamente são também os mesmos que encaram com uma enorme naturalidade que a religião e as referências a Deus estejam presente nos discursos dos candidatos presidenciais norte-americanos e omnipresente na Casa Branca sem que isso se traduza no surgimento de um qualquer IV Reich para os lados de Washington.
Vou condescender e dizer que até pode haver algumas razões para preocupação e que a tentação totalitária poderá fazer o seu caminho entre as autoridades de Budapeste. Mas onde estavam e onde estão estas mesmas pessoas e instituições quando a Venezuela e a Rússia, apenas para citar dois exemplos mais mediáticos, começaram paulatinamente a suprimir a democracia? Onde está esta gente que, sistematicamente, fecha os olhos às particularidades chinesas e ao abuso sucessivo e sistemático deste regime aos Direitos Humanos fundamentais e básicos?
Onde estão os democratas de pacotilha que durante décadas, negociaram com a Líbia e o Iraque? Com Angola?
Onde estão os paladinos da liberdade quando as autoridades dos seus países negoceiam e mantém relações estreitas com a Arábia Saudita e, imagine-se, Israel, onde os atropelos aos Palestinianos são uma constante?
E estão agora a chatear a Hungria? Tenham lá paciência e, já agora, alguma vergonha na cara. Nas próximas eleições, se a oposição húngara ganhar as eleições e tiver 2/3 dos votos até pode mudar tudo outra vez. Até lá, as coisas são como são. Graças a Deus."
Com excepção da parte relativa a Israel e Palestina, subscrevo.
Gostava de ver esta mesma intolerância com governos de esquerda e as suas políticas fracturantes e afins...
Lembram-se certamente, na Áustria, quando um pequeno partido de direita chegou ao poder e a UE equacionou (não me recordo se passou a vias de facto) sanções ao país.
Mas não consta que a UE tivesse sido tão diligente quando Massimo D'Alema, vindo do PC italiano, chegou a primeiro-ministro de Itália.
Sobre duplicidades estamos conversados.
Agora resta aguardar que a intolerância apareça numa qualquer esquina à espreita que o governo de Rajoy, em Espanha, altere a legislação de meia dúzia de coisas fracturantes feitas por Zapatero. E, como tal, politicamente correctas.