segunda-feira, 31 de março de 2008

Entrevista

Inadvertidamente fui ver “Entrevista”.

Era para ver “Nunca é Tarde Demais”, mas a sessão que eu queria já estava esgotada. Vai daí, fui ver “Entrevista”, cuja história me tinha levantado alguma curiosidade.

À primeira vista, digamos que é um filme estranho.

Um jornalista político e de guerra é destacado para entrevistar uma actriz alegadamente supérflua. O filme roda só entre estas duas personagens, tão complexas como os diálogos que estabelecem entre si. Sempre cheios de altos e baixos, de momentos calmos e de clímax, em que não se sabe bem quem manipula e quem é manipulado. Como se diz na apresentação do filme, “o seu confronto evolui para um apaixonado jogo de xadrez verbal pleno de intriga e tensão sexual”. Um diálogo muitas vezes duro. Não se sabendo quando é verdadeiro ou falso. Nem o que cada um pretende.

Um apartamento, duas personagens, dois manipuladores, dois manipulados, dois mundos em conflito entre si e consigo próprios.

Interessante. E um filme para voltar a ver daqui a algum tempo com outros olhos.

Com uma mais-valia chamada Sienna Miller, ao mais alto nível.

Site oficial aqui.
Título original:
Interview
De:
Steve Buscemi
Com:
Sienna Miller, Steve Buscemi, Michael Buscemi

Blogosferando - 10


1 - no Corta-fitas: o início do reconhecimento de Alberto João Jardim como "corajoso dirigente pela sua ímpar carreira ao serviço dos madeirenses e da sua ilha da Madeira". Jaime Gama remexeu as águas.

2 - no Abrupto, Pacheco Pereira analisa "as mentiras" que levaram à última guerra do Iraque.

3 - no Estado Civil, do Pedro Mexia, "a lei do divórcio".

4 - Pedro Rolo Duarte diz que "palavras são acções". Concordo; e não é que são mesmo?

sábado, 29 de março de 2008

Positivamente

Hoje passei a manhã num workshop da empresa onde trabalho, cujo objectivo era apresentar casos de sucesso do grupo nas várias áreas de negócio.
Descansem! Não vos vou maçar a falar disso.
Este workshop contou com a participação do Prof. Dr. Miguel Pina e Cunha, docente da Faculdade de Economia da Universidade Nova de Lisboa, cuja intervenção foi sobre Organizações Positivas.
Basicamente, trata-se de aplicar às organizações conceitos desenvolvidos pela psicologia. No livro da sua autoria que nos foi oferecido o assunto estará mais desenvolvido, mas é para ler no futuro.

Tentando explicar o que Pina e Cunha disse…

O capital psicológico das organizações pode ser potenciado e desenvolvido pelo tipo de liderança existente.
Isto passa por quatro aspectos:

- Auto-eficácia
Colaboradores com mais confiança, mais auto-confiantes, conseguem avançar melhor e alcançar objectivos;

- Organismo
Ligado à própria personalidade dos indivíduos; pessoas mais optimistas obtêm melhores resultados e assim mais vontade de seguir em frente.

- Esperança
Tem a ver com a existência de um objectivo e de um caminho para lá chegar.

- Resiliência
Capacidade de resistir; é possível quebrar sem partir; é possível continuar. A título de exemplo temos as pessoas oriundas de guetos, que se agarram a um modelo que lhes serve de apoio, de guia, de algo a imitar, normalmente um agente da autoridade ou uma estrela desportiva.

Em suma, organizações com mais capital psicológico têm maiores capacidades e têm pessoas mais positivas.


A filosofia do “positivismo” alastra a todos os sectores da sociedade – veja-se o sucesso do livro O Segredo – e isso tem consequências na postura das pessoas, seja na sua vida pessoal, seja a nível profissional.

Ser positivo é ter energia, é ver mais além, é ter esperança. Relembrando uma célebre frase, a longo prazo o pessimista pode provar que tem razão, mas o optimista goza mais a viagem. Embora, a este nível, o optimismo não seja algo de utópico e apenas no plano dos sonhos, mas uma energia que leva a agir e a mudar.

Digamos que foi bom voltar à universidade: refresca o espírito, traz novos conceitos, um novo olhar, vontade de caminhar.

Horas positivas


Horas de verão. Tempo de alegria. Dias grandes. Dias com mais.
Dias positivos. Cheios de energia. Com mais vida.

Horas cheias. Horas quentes. Horas grandes. Horas vivas.

É dia à noite.
É verão!
Apenas. É tudo. É tanto.

quinta-feira, 27 de março de 2008

Hummm...

No PÚBLICO:

“Não usar uma mini-saia no trabalho pode significar menos dinheiro no fim do mês. Esta é pelo menos a ideia da clínica espanhola San Rafael, em Cádis, que retirou a dez recepcionistas e enfermeiras o seu prémio de produtividade, por não usarem a saia curta que faz parte do uniforme obrigatório, escreve o diário espanhol “El País” na sua edição online.

As mulheres recusaram o traje estipulado, que além de deixar as pernas descobertas obriga ao uso de um avental justo e pouco prático. Assim, no fim do mês receberam menos 30 euros, o preço por andarem com os tradicionais fatos de saúde.”

E a saúde… alguém pensou na saúde? Eheheheh

quarta-feira, 26 de março de 2008

Cantinho do poeta - 35

Persegue um sonho, mas não o deixes viver sozinho!
Deixa-te levar pelas vontades, mas não enlouqueças por elas!
Acelera os teus pensamentos, mas não permitas que eles te consumam!
Procura os teus caminhos, mas não magoes ninguém nessa procura.
Arrepende-te, volta atrás, pede perdão!
Não te acostumes com o que não te faz feliz,
Revolta-te quando julgares necessário.
Alaga o teu coração de esperanças, mas não deixes que ele se afogue nelas.
Se achares que precisas voltar, volta!

Se perceberes que precisas seguir, segue!
Se estiver tudo errado, começa de novo.
Se estiver tudo certo, continua.
Se sentires saudades, mata-as.
Se perderes um amor, não te percas!
Se o achares, segura-o!

Fernando Pessoa

Porreiro, pá!

Ontem Sócrates garantiu que “a crise orçamental está ultrapassada” e que “o Estado não tem nenhuma razão para pensar que a situação se vai repetir”.

Tirando a parte de ele se considerar “o Estado”... adiante!

Ficamos a saber que o défice público em 2007 ficou-se pelos 2,6% e não pelos previstos 2,9%, se não estou em erro. Um sucesso, claro! Descontando a mentira do alegado défice de 6,1% em 2005... E já para 2008 o défice previsto passou a ser de 2,2%. Bom!

Hoje também Sócrates anuncia mais uma boa notícia (até ver...): a taxa máxima de IVA desce de 21% para 20% (para os mais distraídos, a redução é de 1 ponto percentual, não de 1%… esta seria se descesse 0,21 pontos percentuais. Ou seja, o IVA passaria a ser de 20,79%... complicadinho... Alguém explique isto ao engenheiro de todos nós, sff.)

Será um começo. Quanto mais não seja, da campanha eleitoral.

(Os contorcionismos dos partidos da oposição - todos - para criticar o governo por esta pequena descida é deveras fantástica...!)

Mas gostava de saber se esta redução vai ser real, ou se vai servir para os mesmos truques que os ginásios fizeram no início do ano: a margem de redução não é sentida pelos consumidores, mas transforma-se em lucros dos comerciantes…

Entretanto, é bom saber que Herman José regressa à rádio com “O Tal País”. É já na próxima segunda-feira, na Antena 1. Para já, o nome do programa promete.

terça-feira, 25 de março de 2008

Life is a masterpiece

O Life is a Masterpiece fez ontem DOIS anos. Parabéns!
Que continue com aquelas inquietações por muito tempo. Sempre inspirada.

Pequenos ditadores

A propósito da recente agressão de uma aluna a uma professora numa escola do Porto, o João Miguel Tavares escreve hoje uma crónica no Diário de Notícias: "Nem anjos inocentes, nem geração rasca".

Entre outras coisas, escreve isto: "Doses cavalares de mimo, desaparecimentos de Maddies e problemas de consciência de pais ausentes compõem uma fórmula de tal forma explosiva que as criancinhas se transformam em flores de jarra às quais parece mal tocar até com um dedo."

Vale a pena ler.

segunda-feira, 24 de março de 2008

O Amor nos Tempos de Cólera

Comecei a ler “O Amor nos Tempos de Cólera” sem saber que um filme com o mesmo nome estava a estrear… Já li alguma crítica ao filme, que parece ficar muito aquém da obra de Gabriel García Márquez. Percebo o motivo: é praticamente impossível transpor para cinema o fantástico mundo que este escritor consegue criar nas suas inúmeras páginas. Perde-se a ironia, a sensação de maravilhamento a cada cinco linhas, o humor, a viagem pelo inesperado….

Será um filme para depois alugar... Agora vou embrenhar-me no fantástico mundo de Gabriel García Marquez.

Há livros que prendem desde a primeira página. Foi o caso deste. Equiparável a "Cem Anos de Solidão".

Ainda os "piercings"...

"O PÚBLICO falou com médicos e “body piercers”. Os dois lados são unânimes: cada um deve ter o direito de decidir o que fazer com o seu corpo e esta prática não representa qualquer perigo de saúde pública.

Alguns especialistas referem que a colocação de um “piercing” poderá causar problemas, dependendo da área onde é colocado. No entanto afirmam que, desde que os furos sejam feitos com os materiais adequados, por profissionais com formação, não existindo por parte do indivíduo qualquer tipo de incompatibilidade física, a sua saúde não é posta em causa. “Até porque o ‘piercing’ não é uma coisa recente, é um ritual com milhares de anos, há muito que faz parte da civilização humana”, afirma o dermatologista António Picoto, presidente da Associação Portuguesa do cancro cutâneo.

As origens do “piercing”

Não há uma data consensual para o aparecimento do “piercing”, mas alguns historiadores afirmam que é um ritual com mais de 5000 mil anos que varia consoante a região do globo. Para Vítor Sérgio Ferreira, o sociólogo do Instituto de Ciências Sociais (ICS) da Universidade de Lisboa, com uma tese de doutoramento sobre este assunto, “a disposição para modificar e adornar o corpo com objectos que perduram em algum local é ubíqua e universal”. Consta que alguns clãs e tribos da África do Sul e da Índia, com milhares de anos, já usavam apetrechos para furar a pele, com conotações espirituais, sexuais e estéticas, em algumas das suas cerimónias e rituais. Na Idade Média, aristocratas e nobres usavam “piercings” para se destacarem dos seus pares. Diz-se mesmo que o “piercing” genital masculino se chama “Prince Albert” porque o príncipe Alberto de Inglaterra tinha um. “Faz parte de ritos de passagem colectivos e expressavam muito claramente, por toda a comunidade, a transição das etapas do ciclo de vida (maturidade sexual, casamento, estatuto social, posições de poder)”, esclarece Sérgio Ferreira.

Mais recentemente, as marcas foram, segundo o sociólogo do ICS, “investidas de conotações eróticas ainda mais evidentes ao recontextualizarem-se nas culturas ‘gay’ e sadomasoquistas dos anos 70, pervertendo as tradicionais categorias do belo e feio, do selvagem e civilizado, do moral e imoral”. Em tempos símbolo de riqueza, o “piercing” foi marginalizado e associado a uma cultura “underground”. Actualmente, apesar de mais massificado o seu uso, ainda é proibido em vários postos de trabalhos e tido como um símbolo de menor competência profissional."

Do PÚBLICO.

Explicando algumas datas...

"A Páscoa é uma data móvel no calendário cristão relacionada com o mês lunar e as estações do ano. É calculada para coincidir com o primeiro domingo a seguir à primeira lua cheia da Primavera, no hemisfério norte, ou do Outono, no hemisfério sul. É necessária a união destas três condições para que se possa celebrar uma das mais importantes festas cristãs, que marca a ressurreição de Cristo."

Ver texto integral no PÚBLICO.

Muito interessante...!

Parafraseando - 11

"A mente e como um pára-quedas... funciona melhor quando aberta!"

Da minha amiga SC.

domingo, 23 de março de 2008

Imagem sem palavras - 65

Durão Barroso

Haverá quem goste dele e quem não goste, mas isso não lhe retira importância. Trata-se de José Manuel Durão Barroso, um dos mais importantes políticos portugueses, actualmente a exercer funções de presidente da Comissão Europeia.
Nasceu a 23 de Março de 1956, pelo que hoje faz 52 anos.

Um dia... - 1

Graças ao laborioso empenho de uma amiga em juntar para mim estes pacotinhos-maravilha de açúcar, cá fica uma nova série...

E.. não se pode...?

...desligar o vento?
É que isto de andar na rua a lutar com uma força invisível que ora empurra, ora trava, ora bate-nos de lado e vira do avesso, ora nos revira para o outro lado em fracções de segundo, é assim para o irritante...

sábado, 22 de março de 2008

Duas irmãs, um rei


"Baseado no best-seller de Philippa Gregory, a história de sedução e intriga das duas irmãs Bolena e do rei de Inglaterra. Quando se espalha o boato que Henrique VIII já não partilha o leito com a mulher, dada a sua incapacidade de lhe dar um herdeiro, sir Thomas Bolena resolve conquistar os favores reais através das suas filhas. As duas irmãs Ana (Natalie Portman) e Maria (Scarlett Johansson) são manipuladas pelo pai e pelo tio para reforçarem o poder da família. Inicialmente, Maria ganha os favores do rei e torna-se sua amante, dando-lhe dois filhos bastardos. Mas Ana, intriguista e manipuladora, consegue, dada a sua perseguição constante, desviar a atenção do monarca e afastá-lo da irmã e da mulher. Enquanto as duas imãs lutam pelo amor do rei - Maria levada pelo amor e Ana pela ambição -, Inglaterra divide-se." (Cinecartaz Público)

Um muito bom filme que vale a pena ver.
Com romance, com História, e muita ambição.
E a explicação prática de como as mulheres conseguem tudo o que querem num homem. Ainda por cima, fazendo-o acreditar que é ele que decide alguma coisa...

Site oficial aqui.

Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa

E de que é que me lembrei de escrever agora? Do Acordo Ortográfico, pois claro!

Num primeiro embate, não gosto das alterações que este acordo vem propor. Quanto mais não seja porque abrasileira a língua portuguesa, e porque já estamos habituados a uma determinada grafia.

“O Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (1990) é um tratado internacional que tem como objectivo criar uma ortografia unificada para o português, a ser usada por todos os países que adoptam oficialmente essa língua. Foi assinado pelos representantes oficiais de Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal e São Tomé e Príncipe em Lisboa, em 16 de Dezembro de 1990, fruto de um longo trabalho desenvolvido pela Academia de Ciências de Lisboa e pela Academia Brasileira de Letras desde 1980. Timor-Leste aderiu ao Acordo em 2004.” (Wikipedia)

Em jeito de anedota, há alguns dias, ao falar no messenger com uma amiga, ela pergunta “Veem-se?”, do verbo Ver. E eu respondo qualquer coisa como “cá está um exemplo da confusão que o novo acordo deve gerar: estás a perguntar do verbo Ver ou do verbo Vir?”

Não sou linguista nem suficientemente entendido para argumentar a favor ou contra o acordo. Apenas não simpatizo com aproximação ao português que se usa no Brasil. E Portugal é que é a origem da língua portuguesa.

“A unificação ortográfica acarretará alterações na forma de escrita de 1,6% do vocabulário usado em Portugal e de 0,5% no Brasil (Wikipedia)

Mas percebo perfeitamente que a língua não é uma realidade estática, mas sim uma coisa viva. E que por isso muda, evolui, é moldada por quem a fala. Alguém entende hoje em dia algum texto de português escrito há 500 anos? Muito poucos. E podemos ainda recuar ao século XIX e ver a forma como se escrevia na altura: para nós é algo estranho. Basta pensar na palavra “farmácia”, então escrita “pharmácia”…

Uma outra coisa que me espanta na implementação do acordo é o chamado “período de transição”: 6 anos, se não estou em erro. Ou seja, uma eternidade. Na qual se irá escrever das duas formas, gerando confusões.

Em Portugal, se fosse para alterar o trânsito da faixa direita para a esquerda teríamos também uma fase de transição de vários anos, indo todos os veículos de frente uns contra os outros e provocando acidentes, pois ninguém sabia em que faixa devia circular: à direita, à esquerda, ou no meio… Ou seja, esta alteração da ortografia era coisa para se fazer no próximo ano. Já há dicionários à venda, pelo que bastava muita publicidade, informação e campanhas de esclarecimento nos meios de comunicação social, de forma a termos uma “nova” língua em 2009.

Já disse Pessoa, num célebre slogan para a Coca Cola: "primeiro estranha-se, depois entranha-se". Será a mesma coisa com este Acordo Ortográfico.

sexta-feira, 21 de março de 2008

Cantinho do poeta - 34

Há palavras que nos beijam
Como se tivessem boca.
Palavras de amor, de esperança.
De imenso amor, de esperança louca.

Palavras nuas que beijas
Quando a noite perde o rosto;
Palavras que se recusam
Aos muros do teu desgosto.

De repente coloridas
Entre palavras sem cor,
Esperadas inesperadas
Como a poesia ou o amor.

(O nome de quem se ama
Letra a letra revelado
No mármore distraído
No papel abandonado)

Palavras que nos transportam
Aonde a noite é mais forte.
Ao silêncio dos amantes
Abraçados contra a morte.

Alexandre O'Neill

Cantinho do poeta - 33

Correcções

A vida parece-se com esses poemas
que brotam, a princípio, intermináveis,
retóricos, grandiosos e banais.

Depois vais corrigindo até deixá-los
no pouco que importa: nos dois versos
que dizem o que todos já sabemos.

Javier Salvago

Cantinho do poeta - 32

Hoje é o dia de todas as coisas, entre as quais início da primavera, dia da árvore e dia da poesia. A propósito da poesia, cá fica um engraçado poema de Fernando Pessoa sob o heterónimo de Alberto Caeiro. Uma traquinice infantil.

Poema do Menino Jesus

Num meio-dia de fim de Primavera
Tive um sonho como uma fotografia.
Vi Jesus Cristo descer à terra.
Veio pela encosta de um monte
Tornado outra vez menino,
A correr e a rolar-se pela erva
E a arrancar flores para as deitar fora
E a rir de modo a ouvir-se de longe.

Tinha fugido do céu.
Era nosso demais para fingir
De segunda pessoa da Trindade.
No céu tudo era falso, tudo em desacordo
Com flores e árvores e pedras.
No céu tinha que estar sempre sério
E de vez em quando de se tornar outra vez homem
E subir para a cruz, e estar sempre a morrer
Com uma coroa toda à roda de espinhos
E os pés espetados por um prego com cabeça,
E até com um trapo à roda da cintura
Como os pretos nas ilustrações.
Nem sequer o deixavam ter pai e mãe
Como as outras crianças.
O seu pai era duas pessoas -
Um velho chamado José, que era carpinteiro,
E que não era pai dele;
E o outro pai era uma pomba estúpida,
A única pomba feia do mundo
Porque nem era do mundo nem era pomba.
E a sua mãe não tinha amado antes de o ter.
Não era mulher: era uma mala
Em que ele tinha vindo do céu.
E queriam que ele, que só nascera da mãe,
E que nunca tivera pai para amar com respeito,
Pregasse a bondade e a justiça!

Um dia que Deus estava a dormir
E o Espírito Santo andava a voar,
Ele foi à caixa dos milagres e roubou três.
Com o primeiro fez que ninguém soubesse que ele tinha fugido.
Com o segundo criou-se eternamente humano e menino.
Com o terceiro criou um Cristo eternamente na cruz
E deixou-o pregado na cruz que há no céu
E serve de modelo às outras.
Depois fugiu para o Sol
E desceu no primeiro raio que apanhou.
Hoje vive na minha aldeia comigo.
É uma criança bonita de riso e natural.
Limpa o nariz ao braço direito,
Chapinha nas poças de água,
Colhe as flores e gosta delas e esquece-as.
Atira pedras aos burros,
Rouba a fruta dos pomares
E foge a chorar e a gritar dos cães.
E, porque sabe que elas não gostam
E que toda a gente acha graça,
Corre atrás das raparigas
Que vão em ranchos pelas estradas
Com as bilhas às cabeças
E levanta-lhes as saias.

A mim ensinou-me tudo.
Ensinou-me a olhar para as coisas.
Aponta-me todas as coisas que há nas flores.
Mostra-me como as pedras são engraçadas
Quando a gente as tem na mão
E olha devagar para elas.

Diz-me muito mal de Deus.
Diz que ele é um velho estúpido e doente,
Sempre a escarrar para o chão
E a dizer indecências.
A Virgem Maria leva as tardes da eternidade a fazer meia.
E o Espírito Santo coça-se com o bico
E empoleira-se nas cadeiras e suja-as.
Tudo no céu é estúpido como a Igreja Católica.
Diz-me que Deus não percebe nada
Das coisas que criou -
"Se é que ele as criou, do que duvido." -
"Ele diz por exemplo, que os seres cantam a sua glória,
Mas os seres não cantam nada.
Se cantassem seriam cantores.
Os seres existem e mais nada,
E por isso se chamam seres."
E depois, cansado de dizer mal de Deus,
O Menino Jesus adormece nos meus braços
E eu levo-o ao colo para casa.

... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...

Ele mora comigo na minha casa a meio do outeiro.
Ele é a Eterna Criança, o deus que faltava.
Ele é o humano que é natural.
Ele é o divino que sorri e que brinca.
E por isso é que eu sei com toda a certeza
Que ele é o Menino Jesus verdadeiro.

E a criança tão humana que é divina
É esta minha quotidiana vida de poeta,
E é por que ele anda sempre comigo que eu sou poeta sempre.
E que o meu mínimo olhar
Me enche de sensação,
E o mais pequeno som, seja do que for,
Parece falar comigo.

A Criança Nova que habita onde vivo
Dá-me uma mão a mim
E outra a tudo que existe
E assim vamos os três pelo caminho que houver,
Saltando e cantando e rindo
E gozando o nosso segredo comum
Que é saber por toda a parte
Que não há mistério no mundo
E que tudo vale a pena.

A Criança Eterna acompanha-me sempre.
A direcção do meu olhar é o seu dedo apontado.
O meu ouvido atento alegremente a todos os sons
São as cócegas que ele me faz, brincando, nas orelhas.

Damo-nos tão bem um com o outro
Na companhia de tudo
Que nunca pensamos um no outro,
Mas vivemos juntos e dois
Com um acordo íntimo
Como a mão direita e a esquerda.

Ao anoitecer brincamos as cinco pedrinhas
No degrau da porta de casa,
Graves como convém a um deus e a um poeta,
E como se cada pedra
Fosse todo o universo
E fosse por isso um grande perigo para ela
Deixá-la cair no chão.

Depois eu conto-lhe histórias das coisas só dos homens
E ele sorri porque tudo é incrível.
Ri dos reis e dos que não são reis,
E tem pena de ouvir falar das guerras,
E dos comércios, e dos navios
Que ficam fumo no ar dos altos mares.
Porque ele sabe que tudo isso falta àquela verdade
Que uma flor tem ao florescer
E que anda com a luz do Sol
A variar os montes e os vales
E a fazer doer aos olhos dos muros caiados.

Depois ele adormece e eu deito-o.
Levo-o ao colo para dentro de casa
E deito-o, despindo-o lentamente
E como seguindo um ritual muito limpo
E todo materno até ele estar nu.

Ele dorme dentro da minha alma
E às vezes acorda de noite
E brinca com os meus sonhos.
Vira uns de pernas para o ar,
Põe uns em cima dos outros
E bate palmas sozinho
Sorrindo para o meu sono.

... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...

Quando eu morrer, filhinho,
Seja eu a criança, o mais pequeno.
Pega-me tu ao colo
E leva-me para dentro da tua casa.
Despe o meu ser cansado e humano
E deita-me na tua cama.
E conta-me histórias, caso eu acorde,
Para eu tornar a adormecer.
E dá-me sonhos teus para eu brincar
Até que nasça qualquer dia
Que tu sabes qual é.

... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...

Esta é a história do meu Menino Jesus.
Por que razão que se perceba
Não há-de ser ela mais verdadeira
Que tudo quanto os filósofos pensam
E tudo quanto as religiões ensinam ?

Alberto Caeiro

quinta-feira, 20 de março de 2008

Mais uma ameaça

Quando passam cinco anos sobre a “invasão” do Iraque, o grande mensageiro e divulgador da paz mundial Osama Bin Laden voltou a dar o ar da sua graciosa voz para nos ameaçar. Mais uma vez. Com a particularidade de agora centrar a sua atenção na Europa, no Papa, e nas caricaturas a Maomé de há alguns anos.

Segundo o PÚBLICO: «Numa nova gravação audio colocada na Internet, o líder da rede terrorista al-Qaeda diz que os "homens sábios" da União Europeia "foram longe de mais" na sua "não-crença" e libertaram-se "das etiquetas da disputa e dos conflitos, chegando ao cúmulo de publicarem esses desenhos insultuosos". "Isso foi um grande erro e um muito perigoso", ameaça.»

Por vezes gostava de ser capaz de entrar no raciocínio contorcionista deste senhor (e dos seus apaniguados) para perceber como consegue pensar e dizer estas coisas...

É sempre reconfortante saber que nós não podemos sequer comentar os hábitos e a religião muçulmanos, mas eles têm o direito de nos impor os seus fundamentalismos… Estamos conversados sobre tolerância.

O que me choca é que nós – sociedade ocidental – nos estamos a vergar ao medo impingido pelos fundamentalistas muçulmanos – que aqui separo dos muçulmanos tolerantes, que acredito são a maioria.

Estamos a coibir a nossa liberdade, a nossa abertura, a nossa tolerância devido ao medo, à insegurança e à morte que o terrorismo nos está a impor. É que não há escolha possível entre liberdade e segurança – são ambas faces da mesma moeda.

Entretanto, foi divulgada uma nova mensagem de Bin Laden em apenas 24 horas, desta vez apelando à luta dos palestinianos contra Israel e à união dos muçulmanos no Iraque. (SIC)

Imagem sem palavras - 64

terça-feira, 18 de março de 2008

Juno

Já há algum tempo que fui ver este filme, mas ainda não tinha escrito nada aqui. Cá fica...

"Juno é uma adolescente segura e descontraída com resposta para tudo e para todos. Juno não tem um problema de atitude; tem atitude a mais. Para sobreviver a mais uma tarde de aborrecimento, Juno decide ter sexo com o seu inseguro colega de escola Bleeker (Micheal Cera). Confrontada com uma gravidez indesejada, Juno e a sua melhor amiga Leah traçam um plano para encontrar os pais perfeitos para o bebé que ainda vai nascer. Mas à medida que a barriga vai crescendo e que Juno vai convivendo com os futuros pais da criança, começa a perceber que, afinal, não tem resposta para tudo e que a vida ainda lhe pode reservar algumas surpresas."

Uma interessante história, com o descontraído desempenho de Ellen Page. A inocência da adolescência, a descontracção, a liberdade, aquelas frases tiradas da sua espontaneidade, a inteligência. Sem medo de olhar em frente, sem os constrangimentos da idade adulta. Um fantástico espírito livre e rebelde, carregado de bondade.
E uma banda sonora leve e deliciosa.

Site aqui e aqui.

segunda-feira, 17 de março de 2008

Madeira: 30 anos de Jardim

Passam hoje 30 anos sobre a chegada de Alberto João Jardim ao governo da Madeira. Uma geração, portanto.
Estes anos são marcados por sucessos e fracassos. Mas quem conhece o arquipélago não fica indiferente ao enorme desenvolvimento de toda a região nos mais diversos domínios. Eu, que vou lá duas vezes por ano, de cada vez que vou vejo qualquer coisa irreconhecível, marcada pela mudança, por novas infraestruturas.
e houve desenvolvimento com algum cuidado em preservar a natureza. Basta lembrar que dois terços da ilha são reserva natural. E tem ainda um precioso tesouro mundial: a laurissilva.
Muitos dizem que Jardim é corrupto e afins, mas acho que a grande marca dele é o amor à sua ilha. Soube desenvolvê-la, aplicar bem dinheiros públicos, mostrar obra, apresentar resultados. Não subscrevo a tese de que Jardim é "mais um que foi para o poder para se encher". Acho mais provável estar cercado de vários colaboradores com esse epíteto. E com isto não estou a dizer que Jardim é um ingénuo, um inocente.
Tem contradições no seu percurso? Tem. Tem coisas mal feitas? Tem. Tem algum autoritarismo? Tem. Mas demonstrou ao longo do tempo e das circunstâncias ser um homem e um político de coragem, fora dos cânones cinzentos e politicamente correctos que se impuseram na política nacional.
Penso que a maior lacuna que se lhe pode apontar é o atraso da região ao nível das mentalidades. Mas que também é muito condicionado pelo facto de ser uma ilha, isolada dos grandes centros. E de até ao 25 de Abril ter vigorado um regime feudalista em toda a sociedade. Ainda hoje não é difícil encontrar marcas disso. Embora, em entrevista à Lusa, Jardim afirme:
"Era uma sociedade extremamente hierarquizada, feudalizada mesmo, sobretudo nas relações culturais, sociais, humanas. Hoje é uma sociedade moderna, sem preconceitos, europeizada".

Jardim, como qualquer político, mas com o descaramento que outros não têm, enfrenta e esmaga os adversários. Basta lembrar o que aconteceu com os concelhos de Machico e Porto Santo quando as câmaras eram da UDP (Machico, com Martins Júnior) ou do PS (Machico, com o mesmo Martins Júnior e com Bernardo Martins, e Porto Santo): não houve rigorosamente nada em termos de obras públicas patrocinadas pelo governo regional. E foi ver o salto de desenvolvimento mal voltaram a ter câmaras lideradas pelo PSD.

Tivesse Portugal, a nível nacional, alguém com a energia de Alberto João Jardim e não estávamos em crise de esperança há quase 10 anos. Um país num beco sem saída.

Para conhecer mais qualquer coisa da vida madeirense destes 30 anos, o caderno P2 do Público de hoje tem uma extensa reportagem. E ainda o SOL, e a SIC.

Biografia de Alberto João Jardim aqui.

domingo, 16 de março de 2008

Mini-maratona 2008 - instantes










Mini-maratona 2008 - série crianças

Este ano reparei nas muitas crianças com espírito atlético na maratona. Espero que não me acusem de pedofilar...
Para elas, a maratona é uma festa. Um dia diferente.
E é bonito ver os papás e mamãs babados com os seus pequerruchos...









Mini-maratona 2008 - série frases









Mini-maratona 2008 - série malas


Mini-maratona 2008

Domingo. 16 de Março. Dia de atravessar a ponte 25 de Abril, a pretexto da mini-maratona. Vários foram os momentos registados. Para já, ficam os que interessam. Porque este ano há direito a séries...


A este tempo há que tirar 17 minutos... pois só cruzámos a linha de partida às 10h47. Digamos que... nada mau!

sábado, 15 de março de 2008

Há dias em que me sinto como se tivesse ganho a lotaria.

(Mensagem que por falta de tempo não consegui postar ontem, quando fez todo o sentido. É que há dias assim)

Imagem sem palavras - 63

Lapinkaari - Finlândia
(foto cedida por uma amiga que teve o privilégio de estar neste paraíso na Terra)

Piercing na liberdade

"PS quer proibir colocação de piercings na língua"

Admito que a lei tenha algum cabimento, sobretudo quanto à regulação ao nível da higiene dos locais onde se põem piercings e fazem tatuagens.

Já tenho dúvidas quanto à proibição destes apetrechos para menores de idade. E se houver autorização por parte dos pais? Claro que haverá sempre adolescentes a fintar as permissões dos pais, mas isso é um problema das famílias.

Já quanto à proibição de colocação de piercings na língua, é uma manifesta intromissão na esfera de liberdade de cada um por parte do Estado. Nos últimos tempos o Estado anda com perigosas tendências de se imiscuir no livre arbítrio dos cidadãos. Seja em nome do politicamente correcto, da saúde, ou seja em nome do que for.
É uma ideia vinda do positivismo, de regular tudo, de querer um mundo perfeito - seja isso lá o que for - e assim, em menos de nada, estamos na eugenia social.
É preciso travar esta voragem do Estado determinar tudo o que os cidadãos podem/devem ou não fazer. É um abuso!
Os senhores deputados não têm mais nada com que se preocupar?

A propósito desta ideia pelo bem-estar de todos nós, ler...
- no Corta-Fitas: "Eles querem tratar-nos da saúde!"
- no Cachimbo de Magritte: "E as unhas, senhor, posso cortar?"
- no Portugal do Pequeninos: "S de saudável"
- no Atlântico: "1984 - nós e os outros"
- no Insurgente: "Contra o piercing, marchar, marchar"

quarta-feira, 12 de março de 2008

Encantar

Eleita pelas revistas "Playboy" e "Esquire" como a mulher mais sexy do mundo...

... a actriz Scarlett Johansson está a recolher aplausos gerais na sua estreia como cantora. (SAPO)

terça-feira, 11 de março de 2008

Mañana saldré de casa como lo hacías tú, para continuar tú viaje.

(mensagem inscrita no Monumento às Vítimas do 11 de Março, em Madrid)
via Incontinentes Verbais