"É o programa de televisão de que mais se fala em Espanha, aquele que coloca frente a frente cidadãos anónimos e figuras destacadas da política do país vizinho. Apenas com três edições já decorridas, a última das quais aconteceu na semana passada, Tengo una pregunta para usted ("Tenho uma pergunta para si") é já um clássico e alvo de conversas na rua e comentários na Internet. Além disso, as duas primeiras edições, com o líder do Governo, José Luis Zapatero, e com o líder da oposição, Mariano Rajoy, revelaram-se verdadeiros campeões de audiências.
Na estreia, com Zapatero, o programa registou 5,8 milhões de espectadores e 30,3% de quota de mercado. Vinte dias mais tarde, o chefe da oposição ao Governo socialista ainda conseguiu melhor: 6,3 milhões de pessoas assistiram ao programa em casa, ou seja, 35% dos espanhóis que viam televisão àquela hora.
Desta vez, juntaram-se três convidados, embora se mantivesse o painel de cem pessoas (49 mulheres e 51 homens), sem afiliação partidária, de todas as partes de Espanha, e com empregos tão distintos como árbitro de futebol, músico, ou caixa de supermercado.
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O programa, que conseguiu cinco milhões de telespectadores e 22,2% de share em horário nobre, já se tornou num motivo de conversa nas manhãs que se lhe seguem, não só porque é raro ver um político frente a frente com os cidadãos, como pelos episódios surpreendentes, anedóticos, e pela confrontação que costuma gerar.
No caso de Zapatero, em Março, ficou a pergunta: "Quanto custa um café?" O líder do PSOE não hesitou e respondeu 80 cêntimos. Falhou. Em Espanha um café não costuma ser menos que 1,20 euros. Com Rajoy foi a questão de um reformado que o atrapalhou. "Quanto ganha?", perguntou-lhe o espectador na plateia, obrigando o líder da oposição a uma pausa nervosa: "É suficiente para chegar ao fim do mês."
Os políticos ficam de pé, no enorme estúdio, enfrentando a bancada de entrevistadores. Os cidadãos podem voltar a perguntar, caso a resposta não seja satisfatória, o que acontece muitas vezes, porque os políticos têm o discurso estudado, o que nem sempre resolve as dúvidas pragmáticas de quem questiona.
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O programa pode parecer uma espécie de reality show com políticos verdadeiros, mas acho que teria a vantagem de trazer muitos desses mesmos políticos à terra, explicando políticas e intenções sem o filtro jornalístico.
Nos EUA, neste período de escolha de candidatos pelos Partidos Democrata e Republicano, houve já debates organizados pelo YouTube com perguntas de cidadãos normais.
Penso que um modelo semelhante, sem censura de questões mas com uma pré-selecção dos intervenientes seria interessante como exercício democrático. E - na minha opinião - a pré-selecção teria apenas como objectivo evitar que fossem para lá cidadãos tão indignados que começassem aos gritos ou com agressões verbais e/ou físicas.
Um espaço de debate deste género teria interesse, pois não haveria coisas preparadas nem discursos pré-definidos. E a aura de uma outra realidade deixaria de pairar nos espíritos de alguns políticos.