José Mendonça da Cruz, no Corta-fitas:
"Ontem na RTPN, hoje na SicN, em directos da Madeira, vimos uma coisa extraordinária e rara, mais que extraordinária e rara, admirável: a Baixa do Funchal desimpedida, e além de desimpedida, impecavelmente limpa, com gente passeando e turistas nas esplanadas.
Mas os reporteres da RTPN e da SicN – o primeiro, contando com a presença e conversa do presidente da Câmara do Funchal, Miguel Albuquerque – não viram, com a sua miopia e as suas modestas cabeças, nada de extraordinário. Pior, a sua curiosidade, no exacto momento em que passeavam pelo próprio acontecimento, esteve sempre limitada pelos discursos e raciocínios mais gastos:
O discurso dos ambientalistas (dos que dão mau nome ao ambiente): «...Mas a ribeira x ainda oferece perigo ...». E o presidente emendava a confusão de nomes de ribeiras e explicava. «... Mas as linhas de água ocupadas...» E o presidente explicava que sem regularização dos cursos a tragédia teria sido multiplicada. E lembrava que chovera em horas o que não chove num ano.
O discurso do tablóide: «E quantos mortos e quantos desaparecidos?» E a entrevista aos «populares»: «Como se sentiu?» «Teve medo?»
Restou-me sofrer com as perguntas que me ocorriam e não foram feitas:
Em que reunião, em que dia e a que hora, foi decidida a recuperação e limpeza do Funchal?
Quem estava presente?
Conte-me o episódio mais marcante dessa reunião.
Em resumo, diga-me as conclusões dessa reunião e quem ficou com que responsabilidades?
Qual foi o primeiro acto saído dessa reunião e qual foi a primeira coisa que fez a seguir a ela?
De onde vieram os 200 camiões e máquinas e as pessoas para esta operação?
Quem as pôs à disposição e qual é o custo?
Quantas pessoas e em que áreas estiveram e estão envolvidas na garantia de que todas as escolas da Madeira reabrem 2.ª feira?
Etc.
Mas talvez as perguntas sejam demasiado perigosas. Talvez as respostas permitissem ver melhor os contornos da competência na Madeira e da nossa própria continental incompetência. O senhor automobilista que amanhã, mais uma vez, está impedido de usar a CREL, talvez possa acrescentar alguma coisa."
É por ser assim que gostava de ver Alberto João Jardim como primeiro-ministro. Em apenas um mandato (não precisava ser re-eleito) punha "isto" nos eixos.
* máquina no sentido positivo. Não no sentido de "polvo", "sistema" e afins...
"Ontem na RTPN, hoje na SicN, em directos da Madeira, vimos uma coisa extraordinária e rara, mais que extraordinária e rara, admirável: a Baixa do Funchal desimpedida, e além de desimpedida, impecavelmente limpa, com gente passeando e turistas nas esplanadas.
Mas os reporteres da RTPN e da SicN – o primeiro, contando com a presença e conversa do presidente da Câmara do Funchal, Miguel Albuquerque – não viram, com a sua miopia e as suas modestas cabeças, nada de extraordinário. Pior, a sua curiosidade, no exacto momento em que passeavam pelo próprio acontecimento, esteve sempre limitada pelos discursos e raciocínios mais gastos:
O discurso dos ambientalistas (dos que dão mau nome ao ambiente): «...Mas a ribeira x ainda oferece perigo ...». E o presidente emendava a confusão de nomes de ribeiras e explicava. «... Mas as linhas de água ocupadas...» E o presidente explicava que sem regularização dos cursos a tragédia teria sido multiplicada. E lembrava que chovera em horas o que não chove num ano.
O discurso do tablóide: «E quantos mortos e quantos desaparecidos?» E a entrevista aos «populares»: «Como se sentiu?» «Teve medo?»
Restou-me sofrer com as perguntas que me ocorriam e não foram feitas:
Em que reunião, em que dia e a que hora, foi decidida a recuperação e limpeza do Funchal?
Quem estava presente?
Conte-me o episódio mais marcante dessa reunião.
Em resumo, diga-me as conclusões dessa reunião e quem ficou com que responsabilidades?
Qual foi o primeiro acto saído dessa reunião e qual foi a primeira coisa que fez a seguir a ela?
De onde vieram os 200 camiões e máquinas e as pessoas para esta operação?
Quem as pôs à disposição e qual é o custo?
Quantas pessoas e em que áreas estiveram e estão envolvidas na garantia de que todas as escolas da Madeira reabrem 2.ª feira?
Etc.
Mas talvez as perguntas sejam demasiado perigosas. Talvez as respostas permitissem ver melhor os contornos da competência na Madeira e da nossa própria continental incompetência. O senhor automobilista que amanhã, mais uma vez, está impedido de usar a CREL, talvez possa acrescentar alguma coisa."
É por ser assim que gostava de ver Alberto João Jardim como primeiro-ministro. Em apenas um mandato (não precisava ser re-eleito) punha "isto" nos eixos.
* máquina no sentido positivo. Não no sentido de "polvo", "sistema" e afins...